Com o encerramento das negociações de agosto no fim do pregão de hoje, não são apenas os investidores de ações, títulos públicos e câmbio internacional que estão apreensivos com o último mês do 3º tri.
Os investidores de commodities que surfaram a alta do petróleo, metais e alguns produtos agrícolas também estão preocupados com a previsão de que Federal Reserve em breve começará a diminuir o volume de “dinheiro fácil” que vem injetando na economia (e nos mercados) nos últimos 18 meses para combater a Covid-19.
O índice TR/CC CRB Excess Return, que rastreia o desempenho de 19 commodities, já subiu 31% neste ano. Já o índice S&P 500 registra alta de “apenas” 21% desde o início do ano.
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
A redução de estímulos do Fed, chamada de “tapering” no jargão financeiro, tem gerado a sensação de pânico em todos os mercados desde o início do ano. A especulação sobre isso é universal, dada a influência que um ativo em particular – o dólar – terá em outros ativos (principalmente commodities) quando os gastos mensais de US$120 bilhões do Fed começarem a escassear.
Embora o discurso pouco convicto do presidente do Fed, Jerome Powell, na semana passada, durante o simpósio de Jackson Hole, tenha deixado espaço para mais especulação sobre o “tapering” no relatório de empregos de agosto, previsto para esta sexta-feira, os gráficos técnicos contam uma história possivelmente diferente para cada uma das principais commodities em setembro.
O analista técnico Sunil Kumar Dixit, contribuidor regular do Investing.com, faz uma análise mais detalhada para nós de cada subconjunto de commodities e mercado selecionado:
Energia
Petróleo West Texas Intermediate
O barril de WTI registra alta de 42% no ano. Mas deve encerrar agosto com uma desvalorização de mais de 6%, após falhar em romper a máxima de julho a US$77,17. Em vez disso, perdeu a mínima anterior de US$65,38, mostrando fraqueza e correção.
A máxima do WTI em julho de US$77,17 é praticamente igual à de outubro de 2018 de US$77,12, em uma clássica formação de topo duplo, que ainda precisa de confirmação.
O IFR do WTI é de 95/98 coloca-o em terreno sobrecomprado e exposto a mais correções. Para o futuro, um rompimento abaixo da média móvel simples de 100 a US$59,83 no gráfico mensal pode estender a correção para a média exponencial de 50 dias de US$53,43.
Apesar disso, o gráfico semanal do WTI mostra o IFR sobrevendido. Isso pode gerar um repique técnico no WTI, alçando-o para US$73,50, em um provável catalisador para compradores.
Gás natural
O gás natural é a commodity com melhor desempenho em 2021, ao gerar um retorno de quase 70% até agora, graças a uma combinação de climas extremos e queda produção.
O “Natty”, como é chamado no jargão dos mercados, testou a média móvel de 200 no gráfico mensal a 4,43, tocando a marca psicológica de 4,50 antes de se estabilizar em 4,29.
Um fechamento abaixo da MMS 200 no gráfico mensal a 4,43 pode fazer com que os preços do gás sigam em direção ao suporte estático de 3,40. Apesar disso, a leitura de 89/84 do IFR no Natty tem bastante espaço para continuação do movimento de alta.
Metais
Ouro à vista
O preço do ouro à vista registra queda de um pouco mais de 4% no ano, mas pode terminar agosto com uma valorização um pouco abaixo de 4%.
Desde janeiro, o ouro vem se movimentando em montanha-russa. Após tocar o fundo abaixo de US$1675, o ouro parecia ter se livrado da má fase ao voltar para US$1905 em maio. Em seguida, sofreu novas vendas que o fizeram retornar para a região de U$1700 e US$1800 para, logo em seguida, cair para a faixa intermediária de US$1600 em agosto.
Com o suporte da sua linha de tendência ascendente a US$1,670, 1676 e 1688, o preço à vista do ouro voltou a subir. Mas não conseguiu romper o patamar de US$1834 de julho, que é o desafio imediato para o metal amarelo.
Daqui para frente, o IFR de 8/13 indica que o ouro está bastante sobrevendido. Um movimento sustentado acima de US$1834 pode retomar o rali, com próximos alvos em US$1860 e US$1920. Mas uma falha abaixo de US$1834 pode iniciar um movimento de queda com alvo em US$1800 e US$1770.
Cobre
O cobre futuro negociado na COMEX de Nova York registra alta de cerca de 24% no acumulado do ano, mas cai quase 2,5% em agosto.
Os preços do metal vermelho atingiram a máxima histórica de US$4,89 por libra-peso em maio, antes de recuar fortemente com as restrições a importações da China, grande consumidor da matéria-prima.
Pequim vem usando seus estoques de cobre nos últimos meses para forçar uma queda de preços do metal e controlar a inflação. O país anunciou, na semana passada, que liberaria um terceiro lote de metais, incluindo 30.000 toneladas de cobre, das reservas estatais em 1 de setembro, como parte de uma campanha para controlar os preços e evitar que a inflação das commodities prejudique seu crescimento.
Se o cobre se sustentar acima de 4,60, pode retestar a máxima recorde de US$4,88. Mas um movimento abaixo de US$4,08 pode fazê-lo revisitar US$3,96, com suporte na faixa intermediária da Banda de Bollinger a US$3,40.
Commodities agrícolas
Soja
A soja futura negociada na Bolsa de Comércio de Chicago teve uma corrida fenomenal nos quatro primeiros meses do ano, valorizando-se 17% ao todo, após um rali anterior de seis meses que entregou um retorno de 55%.
Desde abril, no entanto, os preços da soja colapsaram por excesso de oferta, e o óleo de soja agora está estável no ano e com queda de 2,8% para agosto.
Salvo preocupações com mais sobreoferta, a recuperação técnica da soja pode ter como alvo US$14.68, correspondente à retração de 50% de Fibonacci, medida de US$16,68 a US$12,68.
Café arábica
O café arábica negociado na ICE Futures dos EUA é o produto agrícola com melhor desempenho de 2021, subindo 55% no ano e valorizando-se mais de 10% somente em agosto.
Apesar da volatilidade em meados de agosto, a trajetória ascendente do arábica não viu muitos obstáculos, graças à geada no Brasil, maior produtor de café do mundo.
A máxima de julho a US$2,152 por libra-peso de arábica, seguida de um fechamento a US$$1,7955 gerou uma formação de engolfo com alvo em US$2,4555.
A continuação da tendência de alta no arábica precisa que os preços se firmem acima de US$1,91 no curto prazo e US$1,81 no médio prazo.
Os fundamentos do produto também precisam favorecer o movimento, apesar da leitura sobrecomprada no IFR de 97/97 no gráfico mensal, que está limitando a alta do arábica e forçando um rompimento abaixo de US$1,81, o que pode permitir um deslize ainda maior para US$1,68 a US$1,62.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.