Este ano festa da democracia será feita com R$4,9 bilhões dos cofres públicos.
Como a nossa análise é sobre o mercado da pecuária, para ilustrar transformamos em bois gordos. Considerando o médio parcial de 2022 em São Paulo (R$324,64/@), precisaríamos de 839 mil cabeças de 18@ para pagar essa conta. A cidade de Juína-MT, com o décimo maior rebanho bovino municipal brasileiro, tem 829 mil cabeças (de todas as categorias, não apenas bois gordos, como na conta).
Não é pouca coisa, além de todos os demais gastos, relacionados às eleições direta ou indiretamente. Este ano também temos os auxílios reforçados que devem colaborar com o consumo de curto prazo.
Apesar de o fundão eleitoral ter sido turbinado em 2022, essa movimentação adicional de dinheiro em anos de eleições é conhecida. Com esse contexto, analisamos as variações de preços do boi gordo no segundo semestre, frente ao primeiro, em anos com e sem eleições.
Temos copa do mundo também
Apesar da impressão de que a nossa seleção de futebol já foi mais acompanhada, na primeira fase teremos dois jogos às 16:00, em uma quinta-feira (contra a Sérvia, em 24/11) e em uma sexta-feira (Camarões, 2/12).
Um jogo no final da tarde não vai fazer mal ao consumo, ainda mais com uma população recuperando o emprego e em época de pagamento da primeira parcela de décimo terceiro. Alguns churrascos a mais certamente ocorrerão. Preparem as bandeiras!
Anos de eleições (todos os tipos)
Observe na figura 1, no grupo de barras à direita, que não segrega os anos pela fase do ciclo (independente de ciclo).
Considerando as variações do boi gordo em todos os anos de eleições, tivemos valorização nominal de 10,2% na média do segundo semestre. Nos anos sem eleições, a valorização foi de 4,0%.
Figura 1. Variações médias de preços do boi gordo no segundo semestre, frente ao primeiro, em anos com e sem eleições (de qualquer tipo) e segundo a fase do ciclo.
Obs: foi considerado o período de 2000 a 2021.
Fonte: Cepea / IBGE / Elaboração: HN AGRO
Quando segregamos também pela fase do ciclo pecuário, a valorização média em anos de descarte de fêmeas, que tiveram eleições, foi de 6,3%, enquanto a alta foi de 1,3% em anos sem eleições.
Como esclarecimento, as expectativas e os dados já disponíveis apontam que 2022 será um ano de descarte de fêmeas. Na figura 1, o ano atual ano estaria no “cluster” dos anos de descarte, com eleição.
Anos de eleições gerais
Na figura 2, segregamos apenas os anos de eleições gerais, como as de 2022. Em outras palavras, dados de alguns anos (eleições municipais) foram retirados do grupo das eleições, ficando nesse apenas os de eleições gerais (presidente e cargos estaduais).
Figura 2. Variações médias de preços do boi gordo no segundo semestre, frente ao primeiro, em anos com e sem eleições (qualquer tipo) e segundo a fase do ciclo.
Obs: foi considerado o período de 2000 a 2021.
Fonte: Cepea / IBGE / Elaboração: HN AGRO
Na média dos anos de eleições gerais, que também são anos de copa do mundo, a cotação média no segundo semestre foi 13,2% maior que no primeiro, ignorando o ciclo. Quando consideramos apenas os anos de descarte, como 2022, a valorização média foi de 7,7%.
Considerações e pontos para este ano
O histórico de preços traz em si as sazonalidades de safra e entressafra, algum efeito das eleições e assim por diante. A história ocorrida naqueles anos está naquelas oscilações e variações.
No entanto, com a complexidade do mercado, acreditar que o histórico de preços seja um manual para o que vai ocorrer é ingenuidade.
Olhando para 2022, temos melhoria da situação econômica doméstica, o que ajuda no escoamento da maior parte da produção. Temos aumento de oferta de gado, mas ainda historicamente um nível baixo (segundo menor da última década no primeiro trimestre).
Para as exportações, o cenário de inflação global aumenta os juros e impacta o crescimento futuro. No entanto, em curto prazo valoriza o dólar e ajuda as exportações, que normalmente já são melhores na segunda metade do ano.
Na China, nosso maior cliente de carne bovina, os preços do suíno já subiram 69,5% desde 23 de março e estão no maior patamar desde maio do ano passado. Isso colabora com a atratividade da carne bovina no país, que tem aumentado o consumo da nossa carne (mesmo quando os preços do suíno estavam em baixa há alguns meses). Os chineses estão gostando cada vez mais da carne bovina.
No mercado internacional, ainda temos o fantasma da aftosa incomodando a pecuária australiana, o que pode ser benéfico para o Brasil, como comentamos no início do mês, no artigo Boi Gordo: Expectativas Para o Segundo Semestre.
Em resumo, temos economia doméstica melhorando, expectativas positivas para exportações e oferta de gado maior, mas sem aumentos exuberantes nos últimos meses. O cenário é positivo, para os próximos meses, o que não acaba com a importância de acompanhar de perto o mercado e travar preços de venda se as oportunidades aparecerem.