A cúpula do Clima, liderada pelos EUA, foi o primeiro grande evento internacional depois da eleição de Joe Biden.
A postura democrata de se preocupar muito mais com as questões ambientais do que os seus antecessores já era conhecida, mas algumas afirmações durante o evento reforçaram ainda mais essa tendência.
Por conta disso, chamou muito a atenção quando John Kerry, o enviado especial do governo para questões climáticas, afirmou durante o evento que “o maior mercado da história está se abrindo diante de nossos olhos e vai gerar milhões de empregos bem pagos, principalmente nos países que estiverem abertos a essa agenda”. E, mais adiante, Joe Biden afirmou que o mundo estava passando pela Quarta Revolução Industrial.
Que o mundo está sempre de olho nas ações norte-americanas, todos já sabemos. Afinal, é a economia mais dinâmica do planeta, que (ainda) dita os rumos e o contexto para cada ciclo econômico. Mas temos que entender também que existe também um interesse político por trás do interesse americano em capitanear a chamada “Economia Verde”.
Está em curso uma verdadeira guerra velada com a China pelo domínio do comércio global. Vendo o rival crescer tanto na influência quanto no poder financeiro e até bélico, os EUA sabem que um ponto fraco chinês está no ESG, já que o país asiático é responsável por 28% das emissões de carbono em todo o mundo.
Mas meu objetivo aqui é me ater a uma análise estritamente econômica e às suas consequências nos investimentos. É essencial que você, como investidor, esteja atento a essas tendências, analisando-as com frieza e objetividade, deixando de lado sua visão política e ideológica sobre alguns temas.
Não há dúvidas que a Cúpula do Clima reforçou ainda mais que os investimentos em empresas ESG não são apenas uma tendência de curto prazo, mas sim uma agenda duradoura e crescente.
MAS AFINAL, O QUE É ESG?
Provavelmente você já deve ter ouvido falar nessa sigla. Se não ouviu falar, acostume-se.
Mas o que significa ESG, afinal? A sigla ESG é resultado de um termo em inglês intitulado Environmental, Social and Governance. Em português, poderíamos chamar de ASG, traduzindo o termo para Ambiental, Social e Governança.
Quando falamos em investimentos ESG, significa que, ao avaliarmos uma empresa para investir, além das tradicionais métricas econômico-financeiras, também são levados em consideração critérios relacionados a questões ambientais, sociais e de governança.
Em resumo, empresas que, além de possuírem negócios robustos, também se preocupam com essa tríade, são priorizadas na composição de um portfólio.
O CRESCIMENTO DO ESG NOS INVESTIMENTOS
Você já deve ter notado que muitas das grandes empresas no Brasil já estão adotando um posicionamento diferente, querendo deixar claro que são empresas sustentáveis, se preocupam com questões sociais e que possuem uma governança que beneficia a transparência e a diversidade.
E esse movimento não ocorre somente aqui. O fato é que ocorre de forma muito mais intensa no restante do mundo, devido ao aumento de interesse dos investidores.
Só para se ter uma ideia, em 2020, o total de recursos aplicados na modalidade chegou a 250 bilhões de dólares. Os Estados Unidos já correspondem a 20% da participação desse montante, com um crescimento de 400% nos últimos 3 anos. E as perspectivas de crescimento são ainda mais fortes, como mostra o gráfico abaixo, projetado pelo Deutsche Bank
Esse crescimento se comprova não só nos investimentos, mas também se dá no consumo de bens. Um exemplo emblemático é o número de carros elétricos vendidos, que cresceu 600% nos últimos 5 anos. Não é à toa que empresas como a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) vêm dando o que falar.
Com relação à produção e ao consumo de energia, a utilização de energias sustentáveis vem crescendo de forma acelerada nos últimos anos, comprovando que a matriz energética passa por grandes mudanças rumo a um caminho mais sustentável. Como exemplo, podemos ver que o consumo per capita de energia solar é cada vez maior nos países e regiões que norteiam a economia global.
QUAIS AS VANTAGENS PARA O INVESTIDOR?
Para o investidor que decide adotar os critérios ESG na sua tomada de decisão, vejo como principal vantagem a transparência nos dados e informações que essas empresas transmitem para o mercado, e consequentemente para o investidor.
Tais critérios geram mais informações sobre a condução dos negócios pela companhia, trazendo mais segurança na tomada de decisão e na sustentabilidade do negócio a longo prazo. De forma geral, adotar critérios ESG na análise de empresas pode ser sim um mitigador de risco.
Em relação à rentabilidade, analisando os fundos ESG nos Estados Unidos, vemos que mais de 60% tiveram retorno acima da média. Em termos comparativos, esse percentual é menos da metade nos fundos tradicionais.
Podemos notar também que empresas ESG têm performado melhor do que os índices de referência, como por exemplo o índice S&P 500 ESG com relação ao S&P 500 “puro”.
Acho que essa diferença de retornos ainda é muito tímida, mas não podemos negar que ela existe. Acredito também que, por conta dos rumos que as políticas globais se encaminham, essa diferença tende a crescer com o tempo, até porque as principais empresas de tecnologia (que são as mais rentáveis), também fazem parte das empresas ESG.
No mundo dos investimentos, existem “novidades” e “oportunidades” o tempo inteiro. Mas nem todas essas novidades são de fatos boas para o investidor, muitas vezes são apenas narrativas e bons pitches comerciais.
Quem me acompanha dos meus outros artigos sabe que sou extremamente franco.
Os investimentos ESG poderiam ser um desses casos. Mas objetivo desse texto era trazer dados que mostram que de fato existe uma tendência de alta no mundo com relação a medidas mais sustentáveis, e que só irão crescer ainda mais. Se você ainda possui um pé atrás com relação a esse tipo de investimento, saiba que a Economia Verde veio para ficar, e considerar essas opções como opção de diversificação pode fazer todo sentido.
Te vejo no próximo artigo!
Abraços!