Repercutiu forte o crescimento do PIB, no primeiro trimestre deste ano, quando muitos esperavam menos, em decorrência das ondas de pandemia, atraso na vacinação e interregno na distribuição de auxílios emergenciais.
Ao fim, o crescimento chegou a 1,2% contra o trimestre anterior, o que fez muitas instituições revisarem suas projeções para mais de 5% neste ano, não duvidando se chegar a 6,0%. Claro que boa parte deste desenlace depende também do ritmo das vacinações, dos riscos de uma terceira onda e do ambiente político, cada vez mais açodado.
O fato é que o número de mortos diários pela pandemia segue elevado. Em 24 horas, ontem, foram 2.408 mortes, elevando no total a 465 mil, o que nos coloca, diante da total desorganização no combate à pandemia, totalmente fora do mapa global. No mundo inteiro, as trajetórias são de queda. No Brasil, novos casos chegam a 78,9 mil, na média diária de sete dias em 61.467.
E isso acontece num ambiente intolerante de “polarização política’. A última foi o presidente autorizar a Copa América no País, depois da Argentina e a Colômbia terem recusado. Não se trata de comparações tolas ou paralelismo inúteis. O Brasil continua numa situação muito delicada, devido à pandemia, e o presidente continua confrontando e provocando. Onde quer chegar? Esta é a dúvida de todos!
Voltando aos indicadores de crescimento divulgados, o PIB cresceu mais do que o esperado, puxado pelo incremento no Consumo das empresas e nos Investimentos. Boa notícia, pois estes últimos vêm se mantendo em patamar anêmico há algum tempo. No primeiro trimestre cresceu 4,6%, depois de crescer 20% no quarto do ano passado, o que já configura uma “base de comparação elevada”. Outro bom desempenho veio das importações, reforçando este ambiente de renovação de maquinário nas empresas. Por outro lado, pelos motivos colocados acima, o Consumo das Famílias recuou 0,1% e do governo 0,8%. Contra o mesmo trimestre do ano passado os investimentos avançaram 17%.
Neste cenário, todas as instituições financeiras já começam a revisar suas projeções para este ano. Em maioria, trabalha-se com crescimento acima de 5%, podendo até chegar a 6%. Já a Selic deve ir próxima a 6,0%, com esta Consultoria mantendo 5,5% e 6,5% no próximo.
Achamos que o Banco Central deve ser mais intenso agora, com duas elevadas de juro, uma de 0,75 ponto percentual em junho, outra, de 0,5 p.p., em agosto. Será uma intensificação de momento para tentar trazer a inflação para próxima do centro da meta no ano que vem. Isso para um cenário de inflação de 5,3% neste ano, impactado pela bandeira vermelha 2 da energia elétrica, em tempos de falta de chuvas nas regiões das hidroelétricas e o “recorrer” à termoelétricas, muito mais caras. No ano que vem, acreditamos no IPCA próximo a 4,0%.
Isso posto, observamos no mercado futuro de juro uma “desinclinação da curva”, com as pontas intermediárias e longas devolvendo prêmios e a curta, mais elevada, por esta “intensificação de curto prazo” na política do Banco Central.
Revisões também seguem ocorrendo no front fiscal, ainda mais depois dos bons indicadores de abril, divulgados nesta segunda feira. A arrecadação federal segue em alta, o que nos leva a pensar num déficit primário ao fim do ano mais próximo de R$ 180 bilhões e a dívida bruta, acomodada em torno de 85% do PIB.
Devemos destacar também o bom astral de momento a derrubar o câmbio e o acelerado o rally da bolsa de valores. O dólar é negociado abaixo de R$ 5,20, ainda mais com o ingresso de investidores estrangeiros para operações de M&A, arbitragem de juro e bom resultado da balança comercial. Ontem, saiu o saldo comercial de maio, com superávit de US$ 9,3 bilhões, acumulando no ano Us$ 27,5 bilhões, impulsionado pelas exportações de commodities. Diante disso, o dólar recuou 1,5%, a R$ 5,1460, no ano perdendo 0,82%. Já testamos um novo piso, não mais R$ 5,10, agora R$ 5,00. Deve ser rompido.
Já a bolsa de valores se consolida pelo quinto dia seguido de alta, em rally surpreendente, que eleva o índice a 128 mil pontos e recordes diários. Ontem o Ibovespa avançou 1,63%, a 128.267 pontos, puxado pelas empresas de consumo doméstico e o volume negociado foi a R$ 43,3 bilhões. Casas como a XP já vislumbram o índice paulista chegando a 145 mil pontos ao fim deste ano.
No front da CPI da Covid, ontem foi dia de depoimento da Doutora Nise Yamagushi e chamou atenção seu total alheamento aos erros na condução do combate à pandemia pelo governo, defendendo sempre o tratamento preventivo e a cloroquina, mas pouco sabendo sobre pneumologia.
Claramente, e muitos observaram isso, a doutora concorda com todos os absurdos do presidente, sua obsessão pela cloroquina, talvez pensando mais nos seus dividendos políticos, ou seja, na ambição de ser ministra da Saúde. Esta é parte da conclusão que muitos tiraram ontem, depois das fortes acareações, como a do Senador Otto Alencar, também médico, com perguntas técnicas específicas e sem respostas da doutora. Foi um verdadeiro massacre.
Sobre a agenda de reformas, um boato que circulava é o de que o presidente Bolsonaro não parece muito interessado na Reforma Administrativa, já tendo recomendado ao Senador Rodrigo Pacheco, assim como ao ministro Paulo Guedes, “não mexer nisso agora”.
No mercado global, a perda de fôlego do dólar se consolida, frente a uma postura que se espalha pelos Bancos Centrais do mundo, diante da necessidade de algum “freio de arrumação” em algum momento. São muitos que (ao menos) já debatem sobre o tema do desmonte da política de compra de ativos, como os Bancos Centrais Britânico e Europeu. Isso acontece com as campanhas de vacinação a deslanchar na Europa, EUA e Reino Unido praticamente imunizados e o retomo da normalidade com força. Indicativos de crescimento nos EUA, neste primeiro trimestre, chegaram a 6,4% e as PMIs, ao redor do mundo, reforçam o dinamismo da reabertura.
Só que isso deve vir junto com alguma inflação, dadas as commodities, como petróleo, soja e minério de ferro, todas em alta. Para o Fórum Global, a economia mundial neste ano arranca num crescimento de 6,0%, puxados pelos EUA e a China.
Na agenda do dia, destaque para a produção industrial de abril pelo IBGE, recuando 0,2%, pelos efeitos da pandemia, mas neste mês de maio devendo ser bem melhor, com os indicadores de confiança mostrando isso. A Confiança do Setor Empresarial mostra um nível acima do pré-pandemia, em torno de 97,9 pontos, maior patamar desde março de 2014, a Confiança do Comércio 93,9 pontos e os Serviços 88,1.