Abrimos a semana com os investidores divididos entre o que deve acontecer na PEC dos precatórios, em segundo turno nesta terça-feira, e o ambiente externo de “destampar gradual da panela”, evitando-se assim estouro de bolhas. Sim, inevitável afirmar que, depois do pior da pandemia, a retomada vem sendo tocada com todo cuidado e gradualismo. E isso ainda num ambiente de surtos de Covid, a “ir e voltar”, agora assustando parte da Europa Oriental.
Neste clima, a bolsa operou “de lado” na segunda-feira, o dólar voltou a subir e os juros experimentaram melhora. O Ibovespa terminou em pequeno recuo de 0,04%, a 104.781 pontos, o juro futuro refletiu alguma sinalização de avanço na PEC de hoje, com queda nas taxas intermediárias e longas, mas as curtas em alta, pela inflação mais elevada no IGP-DI, Focus e quarta com o IPCA. Já o dólar mostrou cautela, em avanço de 0,33%, a R$ 5,5410.
Enfim, no exterior alguma recuperação das commodities serve de alento, assim como nos EUA a sinalização de que o aumento do juro ainda deve demorar, dando ao mercado de NY “um gás a mais”. No Brasil, ao contrário, “seguimos com um pé atrás”, depois da ministra Rosa Weber, do STF, pedir maiores esclarecimentos sobre a votação da PEC dos Precatórios, em primeiro turno na Câmara. Nesta terça temos o segundo turno. O problema aqui é que devem ocorrer mudanças de rumo, como o PDT, pressionado pelo candidato Ciro Gomes.
Inflação e juro no Brasil
O repique do IGP-DI em outubro deve levar o mercado de juro a um olhar mais cauteloso, com maior inclinação na ponta curta. Por outro lado, se houver avanço na PEC dos precatórios, as pontas médias e longas devem se acomodar em patamar mais aceitável. Por outro lado, não é isso que se observa pelas movimentações de ontem e hoje. No STF a decisão de Rosa Weber deve prevalecer, e as emendas serem bloqueadas.
PEC dos precatórios
Como dito, hoje é dia de votação da PEC dos precatórios, mesmo que ainda cercada de incertezas. Várias bancadas prometem mudar o voto, o que pode derrubar a apertada vitória de 312 em primeiro turno, 4 do mínimo. O PDT, por exemplo, já decidiu votar em bloco contra, mesmo com os dissidentes mantendo seus votos (devem ser expulsos do partido). Por outro lado, a mesa da Câmara liberou as votações remotas. No STF, Rosa Weber, relatora da medida que suspendeu o pagamento de emendas, está em submissão pelo plenário virtual da corte, com decisão até o fim da quarta-feira (placar de 3 a 0 para a suspensão). Arthur Lira já conversou com o ministro presidente do STF, Luiz Fux, sobre o tal “orçamento secreto” e não acredita que esta instância da justiça paralise a votação. Por outro lado, caso isso aconteça não restará outra saída a não ser o tal “plano B”, envolvendo créditos extraordinários ou, talvez, alguma “judicialização”. A extensão do auxílio emergencial está nesta pauta.
Nos EUA
Gargalos nas cadeias produtivas, commodities em alta e desequilíbrios entre oferta e demanda, continuam a pressionar a inflação. Em NY o Fed regional divulgou uma pesquisa mostrando a mediana dos preços, pela taxa anualizada, para daqui a um ano, passando de 5,3% em setembro para 5,7% em outubro. Por outro lado, há muitos que observam uma inflação moderada no ano que vem, o que não deve exigir muita pressa na elevação do juro. Há os que acreditam que a taxa Fed Funds deva ser elevada só depois de junho do ano que vem, quando termina o tapering. Hoje é dia de PPI, amanhã de CPI, ambos considerados essenciais para o comportamento do dólar. Se vieram mais altos, o dólar sobe, caso contrário, recua. Interessante, Joe Biden segue conversando com potenciais integrantes do Fed. Diretorias regionais estão em renovação. O que pensam alguns deles.
Opinião dos diretores
Clarida (com direito a voto neste ano) acha que o pleno emprego deve ser consistente om a meta de estabilidade de preços. Para ela, o mercado de trabalho está muito mais próximo de 2017, do que 2011 e 2012. O desemprego deve recuar a 3,8% da PEA. Considera ainda distante a elevação do juro em 2022. Acha que o IPC deve passar de 2% ao ano nos próximos meses de 2021.
Bullard (vota em 2022) espera mais de 4% de crescimento do PIB em 2022, um mercado de trabalho mais aquecido. Acredita em duas elevação da taxa de juros em 22. Se a inflação for mais persistente, pode atuar antes. As interrupções das cadeias produtivas devem se estender a 2022. Acredita na continuidade da política de juro, mesmo que Powell não continue.
Evans não antevê aumento de juro até 2023. “Há tempo para termos paciência”. Há possibilidade da inflação se manter elevada por mais tempo. O ritmo do tapering pode ser ajustado dependendo do momento. Ajuste entre oferta e demanda devem se normalizar e conter a inflação. Sua duração, no entanto, é incerta.
Indicadores
No Brasil
O IGP-DI de outubro registrou 1,6%, depois de -0,55% em setembro, com aceleração no atacado (+1,90%, depois de retração em setembro, -1,17%). No ano, índice da FGV acumula 16,96% e em 12 meses 20,95%. Minério de ferro (+4,29%) e óleo diesel (+10,24%), mais caros no atacado, contribuíram para esta alta mensal. Por outro lado, alimentos mais baixos devem trazer alívio em novembro. Cinco itens recuaram: bovinos (-7,71%); milho em grão (-4,45%); soja em grão (-0,38%); feijão (-4,79%); e leite (-4,01%).
Em resposta a isso, inflação pressionando, Paulo Guedes deve aprovar a redução de diversas tarifas de importação da Tarifa Externa Comum (TEC), visando a modernização do Mercosul, mas claro, de olho na inflação interna de alimentos.
Na pesquisa Focus, em 2021, IPCA passou de 9,17% a 9,33% e em 2022, de 4,55% para 4,63%; o PIB, neste ano, passou de 4,94% para 4,93% e no ano que vem, de 4,55% para 4,63%; Selic segue em 9,25% neste ano (mais um de 1,5 p.p, no Copom de dezembro); e no ano que vem, de 10,25% a 11,0%.
Na China
O desempenho da balança comercial foi recorde. Isso elevou as commodities e deu um gás neste mercado das bolsas de valores.
Mercados
No Brasil, o Ibovespa apresentou queda de 0,04% na segunda-feira, a 104.869 pontos e o dólar alta de 0,35%, R$ 5,5417, mesma direção da inclinação da curva de juros.
Na madrugada do dia 09/11, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam cautelosos: DAX (Alemanha) avançando 0,06%, a 16.055 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,00%, a 7.300 pontos; CAC 40 -0,16%, a 7.036 pontos, e Euro Stoxx 50 -0,10%, a 4.348 pontos. Cautela pelo risco de contaminação da Covid na Europa Oriental.
Na madrugada do dia 09/11, na Ásia (05h05), os mercados operaram sem direção definida: S&P/ASX (Austrália), -0,24%, a 7.434 pontos; Nikkei (Japão) -0,75%, a 29.285 pontos; KOSPI (Coréia), +0,08%, a 2.962 pontos; Shanghai Composite +0,24%, a 3.507, e Hang Seng, +0,12%, a 24.794 pontos.
No futuro nos EUA, as bolsas de NY, no mercado futuro, operavam em queda neste dia 09/11 (05h05): Dow Jones, -0,20%, 36.241 pontos; S&P 500, -0,17%, a 4.686 pontos, e Nasdaq -0,08%, a 16.323 pontos. No VIX S&P500, 18,73 pontos, avançando 1,27%. No mercado de Treasuries, US 2Y recuando forte E 3,63%, a 0,4327, US 10Y -0,71%, a 1,486 e US 30Y, -0,30%, a 1,882. No DXY, o dólar -0,09%, a 93,957, e risco país, CDS 5 anos, a 233,7 pontos. Petróleo WTI, a US$ 82,00 (+0,09%) e Petróleo Brent US$ 83,46 (+0,04%). Gás Natural em recuando 0,81%, a US$ 5,38 e Minério de Ferro, -0,97%, a US$ 561.
Na agenda desta semana, muitos indicadores de inflação, EUA (IPC e IPP) e no Brasil (IPCA e IGP-DI). Estejamos atentos também aos dados de comércio varejista, da PMC do IBGE, de setembro, conhecidos na quinta-feira, projetando queda de 1,0% na base mensal, diminuindo a intensidade da queda registrada em agosto (-3,1%). Já o crescimento do setor de serviços, também de setembro, será divulgado na sexta-feira, com expectativa de alta de 0,5% contra o mês anterior, mantendo o ritmo de crescimento registrado em agosto.