Recentemente, temos testemunhado uma notável valorização do dólar em relação a diversas moedas globais, inclusive o real. Essa tendência traz questionamentos sobre os fatores impulsionadores deste movimento e seu impacto nos mercados financeiros e na economia mundial.
Desde o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos até os desafios fiscais enfrentados pelo Brasil e os acontecimentos geopolíticos no Oriente Médio, cada um desses tópicos acarretam em repercussões na dinâmica do mercado cambial. Por isso, compreender esses elementos oferece uma percepção valiosa sobre o futuro do câmbio e as estratégias para lidar com ele.
Crescimento dos EUA
O câmbio é uma dinâmica complexa, mas, se há algo que tende a valorizar a moeda de um país, é a percepção positiva que o mundo tem sobre ele. Dessa forma, uma aversão ao risco internacional ou uma maior confiança na economia dos Estados Unidos costumam fortalecer o dólar, considerado globalmente um refúgio seguro.
Nas últimas semanas, tanto o Índice de Preços ao Consumidor quanto os números do mercado de trabalho norte-americano têm ultrapassado as projeções realizadas até então. Segundo o Federal Reserve (Fed), esses dados apontam para a necessidade de manter as taxas de juros elevadas por um período prolongado.
Inicialmente, previa-se que o Banco Central do país estaria reduzindo as taxas de juros no começo do ano. Atualmente, a taxa está entre 5,25% e 5,5%, o nível mais alto desde o início do século. No entanto, dados econômicos surpreendentes nos Estados Unidos alteraram essa expectativa; atualmente, a taxa está entre 5,25% e 5,5%, o nível mais alto desde o início do século, e cortes só devem ocorrer em setembro.
Aliás, essa visão tem encontrado apoio entre os diretores da instituição financeira, que sinalizam a importância de manter a política monetária restritiva por um período prolongado. Na prática, isso reflete nos juros futuros dos Estados Unidos e, por conseguinte, no aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, contexto que tende a impulsionar o dólar globalmente.
Desafio fiscal no Brasil
Com os recentes indicadores da atividade econômica nos Estados Unidos continuando a superar as expectativas, é possível que haja uma pressão adicional sobre a política monetária e cambial brasileira. A lentidão do país norte-americano em iniciar o ciclo de cortes de juros, além da redução da taxa Selic realizada pelo Banco Central do Brasil (Bacen), diminui o diferencial de juros entre as duas economias. Assim, a atratividade do chamado "trade de carrego", ou carry trade, cai, o que tende a enfraquecer a moeda local.
A deterioração da percepção fiscal no território brasieiro também acentuou o avanço do dólar em relação ao real. Na revisão das metas fiscais na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), as estimativas de um superávit primário de 0,5% em 2025 foram substituídas pela eliminação do déficit no próximo ano. Já a projeção de 1% para 2026 foi reduzida para 0,25%, chegando a 0,5% em 2027 e retornando a 1% em 2028.
Recentemente, o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, também destacou que o custo da política monetária precisará ser elevado devido à diminuição da confiança fiscal. Diante dos riscos em jogo, uma redução adicional das taxas de juros poderia resultar em uma depreciação ainda mais acentuada do real e aumentar as pressões inflacionárias.
Por outro lado, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que a maior parte da depreciação cambial decorre do contexto internacional, o que não é infundado. O aumento do risco global e uma abordagem mais cautelosa da política monetária pelo Fed possuem um efeito significativo.
No entanto, não podemos ignorar que as preocupações internas têm contribuído para a recente deterioração.
Escalada de tensões no Oriente Médio
Por fim, o envolvimento direto do Irã nos conflitos com Israel têm reacendido a preocupação dos investidores com um possível ressurgimento da inflação. Embora as incertezas estejam concentradas na região, os impactos desses eventos são globais, tanto em termos diplomáticos quanto econômicos. O principal risco para os mercados reside na possibilidade de uma escalada do embate afetar o preço do petróleo, pois qualquer interrupção na logística regional deve interferir na oferta dessa commodity crucial.
Nas últimas semanas, os valores do produto já ultrapassaram a marca de US$ 90 pela primeira vez desde outubro, impulsionados por preocupações relacionadas ao ataque iraniano ao território israelense. Apesar da baixa letalidade da investida, a apreensão quanto a uma potencial retaliação mais incisiva é latente.
Não à toa, especialistas alertam que um conflito aberto entre Irã e Israel poderia elevar os preços do petróleo para cerca de US$ 120, exacerbando a inflação global. Este cenário, por sua vez, reduziria as chances de cortes de juros nos Estados Unidos.
Precauções para o futuro do dólar
Em meio às complexidades do cenário econômico global, é evidente que a recente valorização do dólar tem implicações profundas e multifacetadas. Ao compreendermos os agentes causadores dessa alta e suas interconexões, podemos vislumbrar os possíveis desdobramentos no mercado cambial e na economia mundial.
Diante disso, é essencial adotar uma abordagem cautelosa e adaptativa para navegar pelos desafios e oportunidades que se apresentam. À medida que avançamos em 2024, permanece crucial monitorar de perto esses fatores e ajustar estratégias conforme necessário para apaziguar riscos e capitalizar sobre as projeções existentes.