Por Fabricio de Castro
(Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou na noite desta sexta-feira que, embora a reprecificação recente no mercado brasileiro se deva principalmente ao cenário externo, parte deste movimento está ligado à mudança da meta fiscal do governo e a autarquia precisa de tempo para entender os efeitos disso em sua função de reação.
Desde a semana passada as taxas futuras de juros vêm subindo no Brasil, assim como o dólar, na esteira da percepção, expressa também na curva de juros norte-americana, de que o Federal Reserve adiará o início do processo de cortes de juros.
No Brasil outro fator passou a impulsionar as taxas e o dólar: a decisão do governo Lula de reduzir a meta fiscal para 2025 de superávit de 0,5% do PIB para resultado primário zero.
Neste cenário, nos últimos dias a curva de juros brasileira passou a precificar corte de apenas 0,25 ponto percentual da taxa básica Selic em maio -- e não de 0,50 ponto percentual, como vinha indicando o BC em suas comunicações mais recentes. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.
Em evento com investidores em Washington, Campos Neto afirmou na noite desta sexta-feira que o BC precisa de tempo para entender o que a reprecificação significará para a função de reação da instituição. Ao mesmo tempo, ele reforçou a mensagem de que não há uma "relação mecânica" entre mudanças na área fiscal e a política monetária.
"É preciso olhar como a reprecificação afeta a função reação", afirmou.
Campos Neto avaliou também que os mercados estão "muito bem comportados", considerando os acontecimentos mais recentes, e disse que não fez nenhuma mudança em sua comunicação desde o último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em março. Sobre este aspecto, ele argumentou que apenas revisitou a comunicação mais recente.
Em sua fala, Campos Neto também considerou que os últimos dados de inflação foram bons, ponderando que o BC não reage a um único número, ainda que seja importante observá-lo.
O presidente do BC também voltou a pontuar que surgiram algumas surpresas positivas no crescimento interno e que instituições revisaram as projeções para o PIB em 2024. O mercado de trabalho aquecido segue como um foco de atenção, segundo ele.
(Por Fabrício de Castro, em São Paulo)