Os derivativos financeiros talvez sejam os instrumentos mais sofisticados e também os mais arriscados do mercado. Embora tenham se popularizado a partir dos anos 90, sua origem é bem anterior, remontando à época medieval. O instrumento surge com o objetivo de reduzir o risco e a incerteza para os agentes do mercado.
Por mais que possa soar estranho, os derivativos são instrumentos financeiros sem valor próprio. A sua nomenclatura diz respeito a algo cujo valor derive de outro ativo (durante o Governo Lula tornou-se comum falar que o Brasil era um derivativo da China, já que o nosso crescimento dependia diretamente do apetite chinês), já a sua utilidade serve para limitar o risco das flutuações inesperadas do preço.
Um fator crucial para se compreender a função dos derivativos é que eles só possuem valor em ambientes voláteis. Ou seja, diferente do que muitos imaginam, os derivativos são “sintomas” do bom ou mal funcionamento da economia e dos mercados, e não a causa de sua volatilidade.
Um bom exemplo é o índice VIX, ou o “índice do medo” que busca mensurar o preço das opções de ações que compõem o índice S&P 500. Assim, o índice age como um “termômetro” das expectativas implícitas dos investidores pelos próximos 30 dias: quando o VIX dispara é por que houve um aumento do risco e da incerteza e aumenta o número de vendas e compras de PUTs como “seguros”.
Enquanto os derivativos reinam com a volatilidade, o agricultor/produtor não tem margem para ela. Os investimentos que são necessários na propriedade demandam equipamentos, fertilizantes, mineral, sementes, adubo e outra série de custos. Como os custos são elevados, o agricultor/pecuarista precisa recorrer a um financiamento bancário. Ao adquirir um financiamento, o produtor precisa imediatamente produzir o suficiente para arcar com o passivo e se pagar.
O agricultor por sua vez possui três riscos principais: Clima, Praga e Preço.
O primeiro e o segundo podem ser limitados e gerenciados até certo ponto, no entanto não há como se proteger totalmente de variações de clima cada vez mais comuns em todo o mundo e de uma praga que assola lavouras inteiras, embora o uso de fertilizante tenha reduzido consideravelmente ameaças menores. Já o terceiro seja talvez o mais importante de todos e o menos gerenciado por parte dos produtores brasileiros.
A lógica é simples, o agricultor planta para colher e ganhar dinheiro no futuro. Sua incerteza será quanto estará o preço na época da colheita. Se o preço disparar ele não terá muitas preocupações, no entanto, se o preço cair, ele poderá não ter como arcar com os seus custos de produção. Para isso, é interessante negociar sua colheita durante o plantio, fixando um preço futuro.
Ao tomar essa atitude, o agricultor topa reduzir um pouco a sua margem de lucro caso os preços subam em troca da redução do risco de perda total caso os preços desabem. No entanto, ao fixar o seu preço de venda o seu risco passa a ser uma disparada do mesmo. Esse cenário traz uma memória recente não muito favorável para muitos agricultores brasileiros que se lamentaram por terem negociado soja a R$ 90 enquanto o seu preço disparou e chegou a R$ 160 no 1° semestre desse ano.
É justamente para evitar pesadelos como esse que a união entre agricultor e derivativos se faz necessária. Ao recorrer ao uso de derivativos o agricultor pode hedgear sua posição. O hedge ocorre quando se assume posições contrárias. Logo, se ele vendeu sua produção o seu risco passa a ser uma alta do preço, então ele precisa entrar comprado com uma Call (opção de compra) no mercado, caso o preço caia suas opções de compra viram “pó” no entanto ele já fixou o preço com a venda da produção.
Nos últimos 2 anos o mundo vem observando os Estados Unidos (um dos maiores produtores agrícolas do mundo) enfrentar problemas climáticos, afetando diretamente o desbalanceamento entre oferta e demanda por alimentos no mundo. Os acontecimentos na safra americana jogaram a soja e o milho brasileiros para a lua.
Esse cenário de alta desenfreada tornou bem mais “fácil” a vida de agricultores que trabalham sem uma gestão de preços eficiente. Em tese, nesse cenário de alta todos ganham. No entanto Warren Buffet já nos alertou que “só quando a maré baixa é que você descobre quem estava nadando nu.”
Com a volta da inflação na economia brasileira o produtor que não se atentar à alta crescente dos seus custos de produção e não fizer uma boa comercialização da sua produção corre sérios riscos. O agronegócio no século XXI atua em todo o mundo e quem atua nesse mercado altamente globalizado, informatizado e competitivo precisa se atentar às mudanças e tendências de mercado corre o risco de ser eliminado por ele.