Quando optamos pela gestão passiva dos investimentos, normalmente escolhemos uma gestora de capitais, basicamente terceirizando a decisão do que fazer com o nosso dinheiro.
Num mercado em que quem dita as regras é o sell side, acabamos “comprando” o produto que vende mais. Grande parte dos investidores menos experientes acabam sendo “reféns” de “especialistas”: soldados de uma guerra de incentivos, recrutados por bancos e corretoras que, invariavelmente, se beneficiam mais da escolha pela alocação do que o investidor. Há um velho ditado que diz: o rio sempre corre para o mar e não o inverso.
Um dia desses – juro - um amigo recebeu uma mensagem da corretora com uma indicação de investimento: tal ação poderia ser beneficiada por um fator X, que somado a questões econômicas Y, trariam um upside (potencial de crescimento) de 40%. E não parou por aí. A mensagem, continuava: caso esse cenário se realize, se você investir R$1.000,00, terá R$1.400,00; Se investir R$20.000,00, terá R$28.000,00! Nenhum “disclosure”. Nenhum respeito às instruções da CVM – Comissão de Valores Mobiliários.
Mas como ter um mapa certo sendo bombardeado por informações que, para você, investidor iniciante, são como ouvir um idioma desconhecido? Em quem confiar?
Em primeiro lugar, olhe para o histórico de rentabilidade de qualquer produto, seja ele um fundo, uma ação, ou um título público. Depois, compare com ativos semelhantes, sempre num horizonte acima de 5 anos, pois, mesmo sabendo que resultados passados não são garantias de retornos futuros, a análise da performance de longo prazo dever ser a métrica principal para balizar nossa tomada de decisão.
Considere também a possibilidade de tomar frente das decisões. Nesse caso, há dois caminhos:
- Estudar conceitos de análise fundamentalista entendendo as empresas, seus negócios, controladores, resiliência, barreiras de entrada e por fim, por meio dos múltiplos, se ela está cara ou barata e, assim, se posicionar nas que considerar mais adequadas;
- Investir em ETFs (Exchange-traded funds), fundos negociados na bolsa que buscam replicar os principais índices do mercado, tanto na sua composição quanto peso. Por exemplo, o Ibovespa – maior benchmark (referencial) da bolsa brasileira – possui alguns ETFs administrados por gestoras sólidas e confiáveis que entregam resultados muito próximos do IBOV. O mesmo acontece com ETFs do S&P500 – 500 maiores e mais negociadas empresas da bolsa americana.
Há grandes vantagens nessa segunda opção. Em primeiro lugar, a taxa de administração de ETFs costuma ser de 0,1% a 0,4% ao ano – muito diferente dos 2 a 4% anuais dos fundos FIM (multimercados) e FIA (fundos de ações) das assets, oferecidos pelas corretoras e bancos.
Depois vem a questão de enquadramento de perfil: você pode escolher quanto risco quer assumir montando posições em grandes e pequenas empresas brasileiras (blue chips e small caps), empresas americanas e até em renda fixa – há opções de ETFs que investem em títulos do tesouro nacional.
Cabe ressaltar que diversos estudos realizados nas últimas décadas mostram que poucos fundos de ações (os do começo do texto, normalmente com nomes chiques e arrojados), conseguem uma performance superior ao seu benchmark num horizonte temporal superior a 5 anos.
E por fim há a questão da liquidez. Como pequeno investidor, ao investir em ETFs é possível liquidar suas cotas em dois dias, diretamente no homebroker em que compramos e vendemos ações.
Independente da sua escolha, esteja ciente de todos os riscos que ela poderá representar, pois no mercado financeiro não há gênios. Há sim disciplina, diligência e paciência.
E pense sempre no longo prazo. Relembrando Samuelson, “investir é como ver a grama crescer. Se você quer adrenalina, pegue mil dólares e vá até Vegas”.