Depois das Americanas (BVMF:AMER3), diversos casos de reestruturação de dívida e inadimplência de companhias vieram à tona. E isso não se restringiu somente ao setor de varejo. Além da gigante comandada pelo trio da 3G, tivemos notícias de problemas envolvendo Marisa, CVC (BVMF:CVCB3), Light (BVMF:LIGT3) e até a Pan, dos chocolates.
Com retornos acima da média, a classe de crédito privado, que financia boa parte das empresas citadas no início do artigo, ganhou espaço na carteira dos investidores.
Segundo a Anbima, o volume de debêntures nas mãos de investidores de varejo cresceu cerca de 50% em 2022 e chegou a um total de R$41,6 bilhões contabilizados até novembro do ano passado.
Ainda de acordo com a entidade, a quantia estava dividida entre 417 mil contas. A explicação para o crescimento deste mercado é relativamente simples: juros baixos (meados de 2021) e isenção do Imposto de Renda (IR).
Porém, o crescimento rápido de um mercado sempre traz consigo problemas. E um deles é que é pouco provável que este emaranhado de pessoas saiba exatamente os riscos que correm e como avaliar adequadamente um fundo ou ativo na hora de investir.
A minha explicação estará focada na classe de um modo geral e menos nas gestoras. O objetivo aqui é trazer informações para que o investidor possa ter elementos para escolher o ativo e ter condições de fazer perguntas mais assertivas para as assets.
Sobre os tipos de investimentos em crédito privado, uma das mais conhecidas são as Debêntures, que são títulos de dívida de médio ou longo prazo por companhias privadas. Elas podem ser comuns ou incentivadas.
No primeiro caso, a aplicação segue a tabela regressiva de tributação. No segundo, há isenção no imposto de renda a fim de, como o nome entrega, incentivar especialmente projetos de infraestrutura, essenciais para o desenvolvimento econômico do país.
Neste ponto, é importante ressaltar que o prazo desta classe costuma ser mais longo, com duração média de quatro anos.
Além desses, temos ainda os CRIs e CRAs entre os mais conhecidos, que são certificados de recebíveis imobiliários e de agronegócio respectivamente. Esses títulos também são referentes às dívidas de negócios, porém, também como seus respectivos nomes indicam, são papéis voltados para o setor de construção e de agro.
Em ambos os casos, não há incidência de Imposto de Renda e os prazos variam de médio a longo prazo.
Tudo bem, você deve estar pensando, mas qual a importância da duração do investimento, Rebeca?
Segundo alguns especialistas, este quesito deve ser observado por conta da vulnerabilidade das empresas à condições políticas, econômicas e de má governança ao longo do tempo.
Em outras palavras, quanto maior o tempo investido, maiores são as chances de problemas futuros, especialmente no Brasil. Neste caso, há o risco de mercado, liquidez e crédito caso a companhia apresente problemas.
Por outro lado, também é preciso observar o tipo de remuneração uma vez que existem opções pós, que acompanham indexadores como a Selic, IPCA (indexado à inflação) e CDI para o pagamento, e pré-fixadas, com taxa já estabelecida no momento do investimento.
A depender da inflação no período, podem haver variações significativas no tamanho da dívida da empresa caso esteja atrelada à taxa básica de juros ou ao próprio CDI.
No caso de um papel pré-fixado, o problema muda de ângulo. Neste caso, a inflação pode corroer a rentabilidade da aplicação apesar de um certo controle no tamanho do endividamento do tomador.
Sobre os riscos envolvidos em crédito privado, os dois mais destacados são o de liquidez, de mercado e de crédito.
Nos dois primeiros, os cuidados estão mais centrados para pessoas que pretendem se desfazer dos títulos antes do vencimento. No caso da liquidez, isso se refere à facilidade (ou não) para negociações do papel no mercado secundário. Quando temos poucos compradores, o papel pode sofrer grande desvalorização no momento da venda.
Já a parte de mercado, como eu disse mais acima, diz respeito às oscilações de preço de acordo com variáveis macroeconômicas como juros, inflação e cenário fiscal.
Por último, o risco de crédito talvez seja o mais importante de todos. Mais conhecido como calote, o investidor pode ter sérios problemas uma vez que nem todos os tipos de investimentos são protegidos pelo FGC do Banco Central.
Neste ponto, é fundamental observar as garantias e as cláusulas contratuais, que muitas vezes são frágeis, ao optar por A ou B.
Aqui também é importante lembrar que existem companhias com bons ratings, mas que ainda assim oferecem riscos importantes para a carteira.
Em alguns casos, o não pagamento da dívida vira um processo com centenas de credores que possivelmente não terá um desfecho, seja favorável ou desfavorável, tão cedo.
Portanto, a dica, mais uma vez, é apostar - especialmente em ativos de crédito - na diversificação e pulverização e, para quem investe em fundos, gestoras.
No penúltimo artigo, eu trouxe uma espécie de “receita de bolo” do que pode ser feito pelo investidor a fim de minimizar problemas sérios com o patrimônio.
Muitas vezes, mesmo para pessoas experientes do mercado, é difícil encontrar o erro com tantas informações e variáveis presentes.
Contudo, o que de fato trará uma proteção adequada é e sempre será a boa diversificação.
Pense nisso!