Publicado originalmente em inglês em 23/1/2020
Na semana passada, o impacto do coronavírus nos mercados não passava de uma suposição. Havia poucas informações sobre a doença, como a rapidez da sua disseminação, sua letalidade, o número de pessoas infectadas e a magnitude da quarentena.
As especulações, no entanto, não paravam. Resultado: os investidores não conseguiam prever com precisão o efeito de tudo isso sobre os preços do petróleo, a economia mundial e, mais especificamente, a economia chinesa, principalmente em termos de mão de obra, produção e transporte.
Nos próximos dias e semanas, serão divulgados mais dados concretos sobre os efeitos da epidemia nos indicadores econômicos.
A seguir, analisamos o que se sabe até o momento sobre o impacto do vírus sobre os mercados de petróleo.
Comparações com a Sars
Muitos investidores e analistas fizeram comparações com a epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) ocorrida em 2003. Tanto naquele ano como agora os mercados de ações e petróleo sucumbiram à disseminação do vírus.
No entanto, não se pode confiar nessa comparação para saber a influência que a epidemia está tendo na expansão da economia mundial. Como a difusão da Sars na China ocorreu simultaneamente à invasão dos EUA ao Iraque, é difícil distinguir devidamente o impacto desses dois grandes eventos.
A economia chinesa se transformou desde 2003, e o país parece estar respondendo de forma apropriada ao coronavírus. Além disso, as epidemias ocorreram em diferentes épocas do ano.
Indústrias já começam a ser afetadas
Mais de uma semana após as primeiras notícias sobre a epidemia, suas ramificações já começam a aparecer na economia mundial e na demanda de petróleo. O coronavírus terá impactos negativos nas companhias aéreas e, por conseguinte, no mercado de combustível de aviação.
Empresas como United (NASDAQ:UAL), Air Canada (TSX:AC), American Airlines (NASDAQ:AAL), Lufthansa (OTC:DLAKY), British Airways (OTC:BABWF) e Cathay Pacific (OTC:CPCAY) estão mudando seu atendimento na China.
Algumas delas suspenderão voos entre a China e a América do Norte ou Europa por várias semanas. Outras estão reduzindo sua carga de voos. Voos de longa distância entre a Ásia e os Estados Unidos ou a Europa Ocidental utilizam muito combustível de aviação.
Para se ter uma ideia, um voo só de ida entre Los Angeles e Tóquio, por exemplo, utiliza cerca de 9.500 galões de combustível de aviação, o que corresponde a 226 barris. Mais linhas aéreas podem suspender os voos para a China ou mesmo dentro do próprio país nos próximos dias.
Aumentam as preocupações no longo prazo; Opep ensaia resposta
A maior preocupação entre os operadores é que o vírus provoque uma queda geral e sustentada na atividade econômica não só da China, mas também de outras partes do mundo.
O efeito do coronavírus na demanda mundial de petróleo claramente é uma preocupação para a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
A Opep e seus parceiros da Opep+ acreditam que podem solucionar a questão da demanda fraca no primeiro e segundo trimestres com seus novos cortes de produção. Os membros do cartel já estão discutindo um acordo para estender a restrição de oferta até junho, alterando a reunião marcada para março. Os temores do coronavírus fizeram os preços do petróleo despencar tanto na semana passada quanto nesta semana.
Em uma iniciativa que demonstra desespero, a Argélia, que ocupa a presidência da Opep pelo período de um ano, anunciou que o cartel está considerando mudar a reunião de março para fevereiro.
Isso faz com que muitos investidores tenham a sensação de que a Opep está entrando em pânico. O ministro do petróleo da Arábia Saudita declarou, alguns dias atrás, que estava “monitorando de perto” os mercados petrolíferos, numa resposta mais reservada. Ainda não está claro como a reunião apressada da Opep+ ajudará a estabilizar os preços, haja vista que o grupo pouco conseguiu fazer para elevá-los com seus cortes mais recentes, mesmo com um milhão de barris da Líbia fora do mercado atualmente.
Por fim, se o coronavírus continuar amedrontando os investidores nas próximas semanas e meses, os operadores de petróleo talvez precisem trocar seus amigos geólogos por epidemiologistas.