Definimos o Copom de outubro nesta quarta-feira, sendo consenso uma elevação “mais forte” da Selic, havendo dúvidas apenas sobre sua intensidade, se em 1,25, 1,50 ou até 2,00 pontos. Além da deterioração fiscal em curso, pelo afrouxamento do “teto dos gastos”, o IPCA-15 de outubro, maior em 26 anos, reforça este discurso mais hawkish. É o Bacen tentando compensar a perda da “perna fiscal”, sendo obrigado a “reforçar” a “perna monetária”, combatendo a inflação e tentando “ancorar as expectativas”.
Ontem, no mercado de juros, os investidores adicionaram mais prêmio na ponta curta e intermediária da curva, até considerando ume elevação de 1,75 ponto para a Selic, ou mesmo 2,0 pontos. Isso acabou derrubando ainda mais o Ibovespa, pelos impactos ao crédito e ao consumo. Com isso, o índice da B3 (SA:B3SA3) fechou em baixa de 2,11%, a 106.419 pontos.
Por outro lado, em Wall Street, novos recordes foram observados, com os balanços positivos das empresas. Isso nos parece fato. Estamos totalmente “descolados” das bolsas de NY, em tempos de balanço superando as expectativas. No mercado cambial, o dólar operou com um olho na piora do ambiente doméstico, mas também atento à arbitragem de um juro mais elevado internamente, atraindo recursos. Ao fim do dia, a moeda americana fechou a R$ 5,5734 (com valorização de 0,32%).
Nesta quarta (dia 27) estejamos também atentos à votação da PEC dos precatórios. Serão os recursos adiados no pagamento destas dívidas judiciais, que o governo deve usar para o Auxilio Brasil, atravessando o restante deste ano e 2022.
O IPCA-15 de outubro veio pressionado, a 1,20%, acima das estimativas de mercado, em 12 meses registrando 10,34%. O maior impacto veio dos Serviços, subindo 1%, com contribuição relevante das passagens aéreas. Depois de mais uma autorização de reajuste de combustíveis (7% na gasolina) não será surpresa se a inflação fechar o ano acima de dois dígitos.
Neste cenário, o Copom deve ser mais hawkish na reunião desta quarta-feira, sancionar uma elevação mais pesada na Selic, na dúvida se entre 1,25 ou 2,00 pontos, até 8,00%. Ao fim deste ano já há os que estimam a Selic a 10% ou 11%. Amigos do mercado, no entanto, acreditam até num choque de juro de 3 pontos. Para estes, o que aconteceu com a política fiscal os leva a acreditar neste choque de juro para readquirir a credibilidade perdida e voltar a ancorar as expectativas.
O que é fato. Nós, por enquanto, acreditamos no ajuste da Selic em 1,25 p.p. a 7,50% e 9,5% ao fim do ano. Isso deve ser reforçado, além de outros fatores, pelo quadro de deterioração descrito abaixo, nas projeções de inflação, risco país, câmbio e nos indicadores de atividade.
Vemos aqui o esforço do Bacen em manter alguma credibilidade e ancorar as expectativas. Lembremos, inclusive, que era isso a ser feito por Henrique Meirelles, presidente do Bacen, nos anos 2000, a frente do governo Lula, diante dos “ataques” dos heterodoxos, sempre dispostos a sancionar uma farra de gastos públicos sem contrapartida.
Importante considerar que há outros instrumentos para segurar o “descontrole inflacionário” como o compulsório sobre renda fixa, a vista e mesmo o IOF sobre crédito. Nesta batalha, a evitar uma inflação aberta de 10%, todos os instrumentos devem ser pensados.
A inflação já vem se deteriorando há algum tempo, diante do choque da energia, depreciação cambial e relaxamento na gestão das contas públicas. Os núcleos mostram elevada disseminação de preços, o que nos leva a acreditar que não seja apenas um choque de oferta. A inflação aqui no Brasil tem particularidades, também atreladas a crise fiscal permanente e aos erros na atuação do governo.
PEC dos precatórios. Com a votação desta quarta-feira, haverá recursos que proporcionarão o encaminhamento do auxilio temporário até dezembro de 2022. O permanente só com a reforma do IR, parada no Senado. Esta deve se tornar possível talvez a partir de 2022 ou 2023. Importante, nesta reforma será o uso da taxação sobre dividendos, mas o relator, Ângelo Coronel, se mostra contrário a esta medida. Sobre a votação, embates são esperados, pois a oposição já se mostra contrária. Lembremos que são necessários no mínimo 308 deputados do universo de 513.
Sobre a PEC, é previsto um espaço fiscal considerável, autorizando o governo federal a pagar só parte dos precatórios. Isso dará um espaço fiscal de R$ 83 bilhões. Com certeza isso deve levar o Congresso a tentar aprovar o fundo eleitoral de R$ 5 bilhões e incluir emendas de R$ 16 bilhões a partir daí.
CPI da Covid terminou seus trabalhos. Por 7 a 4 o relatório final foi aprovado. Agora a PGR irá avalia-lo. Acreditamos que Augusto Aras deve dar uma segurada nas punições. Em paralelo, o TSE adiou a votação que avaliava a cassação da chapa de Bolsonaro e Mourão. Também acreditamos que não deve dar em nada.
Para a agência de rating S&P ainda não existem motivos para o Brasil ser rebaixado. “A fraqueza fiscal ainda não impactou a economia em níveis tão contundentes”. A nota do País é de BB- com perspectiva estável.
Indicadores
Pelo Caged, foram criadas 313.902 vagas formais em setembro, no ano chegando a 2,51 milhões de vagas. O setor agrícola levantou 9.084 vagas; a indústria criou 76.169 vagas, a construção civil, 24.513 e o comércio 60.809.
Arrecadação federal de setembro somou R$ 149,10 bilhões, no ano indo a R$ 1,348 trilhão. Contra setembro de 2020, a alta foi de 12,8%, recuando 12,9% contra o mês anterior, o que já pode antever uma perda de dinamismo da economia neste momento. No ano, a ala é de 22,3%.
Nos EUA
Índice de confiança do consumidor foi a 113,8 pontos em outubro, acima da previsão de 108,3; e as vendas de casas novas subiram 14,0% em setembro, contra queda de 1,4% em agosto.
Mercados
Os mercados asiáticos operaram em queda nesta quinta-feira. Já o americano e o europeu sem uma definição clara. Os preços do barril de petróleo, do minério de ferro e do gás operavam próximo da estabilidade ou em pequenas quedas.
No Brasil, o Ibovespa fechou Terça-feira(dia 26) em queda de 2,11%, a 106.419 pontos. Já o dólar encerrou o dia em alta de 0,32%, a R$ 5,5734.
Hoje, quarta-feira, o Bacen faz leilão de swap para overhedge até 14 mil contratos (US$ 700 mil). Faz também leilão de swap para rolagem de até 8 mil contratos (US$ 400 mil).
Na madrugada do dia 27/10, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam sem rumo: DAX (Alemanha) recuando 0,13%, a 15.736 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), -0,05%, a 7.274 pontos; CAC 40 +0,05%, a 6.769 pontos, e Euro Stoxx 50 -0,02%, a 4.222 pontos.
Na madrugada do dia 27/10, na Ásia (05h05), os mercados operaram em maioria, em queda: S&P/ASX (Austrália), +0,07%, a 7.448 pontos; Nikkei (Japão) -0,03%, a 20.098 pontos; KOSPI (Coréia), -0,77%, a 3.025 pontos; Shanghai Composite -0,98%, a 3.562, e Hang Seng, -1,76%, a 25.582 pontos.
No futuro nos EUA, as bolsas de NY, no mercado futuro, operavam em alta neste dia 27/10 (05h05): Dow Jones, +0,15%, 35.697 pontos; S&P 500, +0,14%, a 4.571 pontos, e Nasdaq +0,19%, a 15.589 pontos. No VIX S&P500, 18,88 pontos, recuando 0,24%. No mercado de Treasuries, US 2Y avançando 4,32%, a 0,5049, US 10Y -0,07%, a 1,617 e US 30Y, -0,78%, a 2,035. No DXY, o dólar -0,08%, a 93,862, e risco país, CDS 5 ANOS, a 224,7 pontos. Petróleo WTI, a US$ 83,30 (-1,59%) e Petróleo Brent US$ 84,55 (-1,28%). Gás Natural em recuo de 1,03%, a US$ 5,94 e Minério de ferro, +1,0%, a US$ 707.
Na agenda desta quarta (27), na Alemanha, o Clima do Consumidor GfK, no Brasil o IPP de setembro, a taxa de desemprego (PNAD Contínua, Setembro), além da decisão de política monetária do Copom. Nos EUA, os Pedidos de Bens Duráveis e a Balança Comercial de setembro.