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Como Montar Carteira Agressiva em Tempos de Coronavírus

Publicado 03.04.2020, 18:18
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Benjamin Disraeli dizia que a mudança é constante e inevitável. Na economia, essa observação se faz tão verdadeira a ponto de existir uma estratégia de alocação de ativos totalmente baseada em mudanças contínuas.

A partir de Markowitz, a teoria do portfólio ganha relevância imediata, se tornando praticamente indispensável na construção de uma carteira de investimentos. A diversificação é a ferramenta mais importante para minimizar riscos enquanto se busca melhor rentabilidade.

Uma das estratégias mais utilizadas por fundos de investimentos de gestão ativa é conhecida como Alocação Tática. Através dessa abordagem, o gestor busca montar sua carteira de ativos a longo prazo, porém, se permite realizar ajustes pontuais de acordo com as mudanças que o mercado venha a apresentar.

Considerando uma gestão de perfil agressiva, com amplo apetite pelo risco e com objetivo a longo prazo, a estratégia de alocação tática inicia com a análise do cenário macroeconômico atual.

Passo 1 - investigar o cenário global

Com o coronavírus vindo da China e impactando toda economia mundial, a volatilidade nos mercados acaba trazendo riscos enormes a curto e médio prazo. Parte dos economistas enxerga essa crise pior que 2008. A falta de previsibilidade faz desse cenário uma incógnita, aumentando o risco de qualquer ativo.

Buscando salvar empregos para garantir que a economia não entre em colapso, todos os países estão injetando capital intensamente no mercado. Os EUA planejam colocar 2,2 trilhões de dólares em sua economia.

Passo 2 - investigar o cenário local

No Brasil a situação é tão caótica quanto nos outros países. No último boletim Focus, o PIB estimado para 2020 já era negativo. Devido ao risco-país, o dólar sobe de forma colossal ante o real. Por isso, mesmo com amplo déficit primário, o governo planeja injetar R$ 400 bilhões na economia, aumentando ainda mais sua dívida pública.

Passo 3 - analisar ativos e correlações (inflação x juros x câmbio x bolsa):

Ações brasileiras

Após breve análise macroeconômica, é possível ter adequada dimensão acerca dos investimentos. Em período de queda do PIB, a bolsa de valores tende a cair, se tornando uma opção pouco viável. Entretanto, a queda do Ibovespa foi tão grande nas últimas semanas que acabou abrindo espaço para aceitação ao risco. Por estar tão desvalorizados, os ativos de risco acabam valendo a pena. Porém, até que ponto?

A alocação no Ibovespa deve ser feita com algumas considerações: não se sabe o fundo dessa queda. A bolsa pode continuar caindo. Entretanto, se o cenário econômico começar a indicar que a crise será mais curta do que parece, os ativos de risco podem subir rapidamente, oferecendo poucas oportunidades para entrada no futuro. Aproveitar uma alocação nesse momento se torna interessante.

Por isso, diante da imprevisibilidade, aportar grande parte do capital na bolsa brasileira não seria racional, porém, ficar de fora de alguma possível alta súbita também não. Portanto, investir 20% do patrimônio em ações (por enquanto) parece razoável.

Dólar

Com o risco de uma crise global nos moldes de 2008, a moeda norte-americana continua sua alta intensamente. Porém, assim como as ações, o dólar já chegou em um patamar nunca antes visto. Por enquanto, parece que a alta não tem fim. Mas apostar no dólar nesse momento parece loucura, assim como deixar de apostar.
Desse modo, aportar 10% na moeda norte-americana e 5% no S&P 500 dolarizado se mostra uma estratégia interessante, visto que 20% do patrimônio já estará em ações brasileiras.

O dólar funciona como uma proteção em caso de fuga do investidor estrangeiro do país. Contudo, caso a economia dê sinais de melhora, o S&P 500, juntamente com o Ibovespa, irão apresentar altas consideráveis.

Renda Fixa

Em momentos como esse, ter dinheiro em caixa é fundamental. A renda fixa, para cenários assim, deve servir como porto seguro, garantindo aportes posteriores em ativos de risco (para o investidor de perfil agressivo).

A indicação é de mais cortes na taxa de juros brasileira, entretanto, quanto maior a imprevisibilidade do cenário econômico global, maior a queda dos preços de títulos pré-fixados de longo prazo. Lembrando ainda que tamanha injeção de liquidez na economia pode causar inflação a longo prazo, por isso, é importante se atentar a esse detalhe.

Contudo, se o objetivo é migrar cada vez mais para a renda variável, investir em ativos de longa duration não é interessante. Por essa razão, 40% do capital seria investido em títulos pós-fixados de liquidez imediata e baixo risco/retorno. Assim, 10% do patrimônio pode ser aportado em títulos pré-fixados de curto prazo (1 ano), e o restante (15% do capital total) em títulos de inflação de médio prazo (5 anos), com aportes mensais, garantindo rentabilidade neutra, comprando na baixa e na alta.

Passo 4 – monitorar o mercado diariamente

Por fim, se manter informado irá proporcionar ao investidor a probabilidade de acerto na hora de efetuar mudanças na carteira. Portanto, caso a economia volte a caminhar normalmente, aumentar a posição em ações brasileiras e diminuir a posição em dólar se faz necessário. Migrar aos poucos da renda fixa para a variável também faz parte da estratégia.

Conclusão

É importante ressaltar que esse artigo não se trata de recomendação de compra ou venda, sendo, portanto, apenas um resumo para facilitar a compreensão dos investidores acerca da alocação tática de ativos.

É relevante observar ainda que foram deixados de fora ferramentas importantes para a montagem de uma carteira, como a utilização do índice Sharpe para escolha de fundos; impactos das políticas monetárias e fiscais; análise de ações; entre outras.


Artigo escrito por Daniel Biot, Especialista em Investimentos ANBIMA e membro do Comitê de Investimentos da RioPretoPrev.

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