Fiz algo que não fazia havia anos: acompanhar presencialmente um encontro com investidores de uma companhia listada. É o tipo de visita que aprofunda o entendimento sobre a tese de investimentos da ação, porque, além da chance de conversar presencialmente com os executivos da empresa, nos permite trocar impressões com os pares, colocando nossas visões à prova de quem pensa diferente.
Gostei do que vi e ouvi: os fundamentos da tese de investimento parecem estar em ordem. Entretanto, a cotação da empresa em questão sofre pela nuvem negra que paira sobre a renda variável. O aperto monetário só faz aumentar o custo de oportunidade do capital, o que motiva investidores a sair dos ativos de risco em direção à segurança e aos lucros da renda fixa, agora mais generosos. O noticiário político, por sua vez, só aumenta o desconto aplicado sobre as ações de empresas afetadas por potenciais medidas eleitoreiras.
Nos Estados Unidos, assistimos ao começo de um filme que já estamos vivendo há um ano no Brasil: a subida de juros. O tom cada vez mais duro do banco central americano só aumenta a aversão a risco do investidor gringo, que vai fugindo para os portos seguros clássicos em tempos de crise: renda fixa, ouro e dólar. Nesse cenário, as bolsas emergentes, caso do Brasil, inclusive, ficam para trás.
Não à toa, os investidores com alguma exposição ao mercado acionário podem estar vendo suas rentabilidades caminharem para o terreno negativo. Desde que o aperto monetário começou no Brasil, o Ibovespa cai 21%, e o Índice Small Cap da B3 (SA:B3SA3), 37%. O índice S&P 500, que aglutina as 500 maiores empresas listadas nos Estados Unidos, cai 11% no mesmo período, em reais. Quanto mais arriscado o ativo, mais ele sofre. Por outro lado, o DXY, que representa a performance do dólar contra uma cesta de moedas globais, sobe 9% no ano – o dólar é um dos portos seguros dos investidores globais em tempos de aversão a risco.
Isso tudo, entretanto, é o passado. O que nos espera à frente?
Tanto o banco central americano quanto o brasileiro sinalizam novos aumentos nas taxas de juros, o que torna provável que os ativos de risco continuem sofrendo, especialmente nos Estados Unidos. Portanto, reduzir o nível de risco na parcela internacional do portfólio é algo urgente. Já faço isso com a venda, há alguns meses, de posições em big techs. Na parte brasileira da carteira, a redução de risco tem sido marginal, dado que estamos mais avançados no aperto monetário por aqui e que a nossa bolsa se encontra no menor nível de múltiplo dos últimos 13 anos. Por isso, a estratégia é a montagem de vendas a descoberto (short) para reduzir a exposição líquida à bolsa brasileira temporariamente. Ao apostar contra empresas prejudicadas por esse cenário, acabamos nos protegendo também de dores de barriga extremas.
Gastar sola de sapato na busca de empresas vencedoras continuará sendo uma estratégia para maximizar o retorno dentro do universo de ações. Entretanto, a escolha dos pesos para cada classe de ativos explica a maior parte dos retornos de um portfólio. É importante que o investidor se atente a isso.
Um abraço