Os preços do ouro devem iniciar uma nova pernada de baixa nos próximos dois dias, enquanto o dólar pode se beneficiar de especulações de que o Federal Reserve anunciará uma ação mais veemente em sua reunião de política monetária deste mês, ao lado dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano.
Os investidores do petróleo, enquanto isso, tentarão avançar com a saga do furacão Ida, que já dura três semanas e segue prejudicando um quarto da produção petrolífera na Costa do Golfo do México. A indicação de que a China usará mais estoques para evitar as importações mais caras do produto também pesou sobre seus preços.
O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve iniciar, na terça-feira, sua reunião de dois dias, seguida de um anúncio de política e de uma coletiva de imprensa do seu presidente, Jay Powell na quarta-feira.
Já duram meses as especulações de que o banco central americano anunciará uma redução das suas compras mensais de títulos no valor de US$120 bilhões, em vigor desde o início da Covid em março de 2020.
O cronograma do Fed para a retirada de estímulo é importante, na medida em que representa o primeiro passo em direção a uma elevação de juros, que é mantida perto de zero há 18 meses.
As maiores autoridades do Fomc, inclusive o presidente do Fed, fizeram tudo o que podiam para atrasar a retirada do estímulo, usando a desculpa da alta de infecções causada pela variante Delta. Desta vez também o Fed pode proferir um discurso pouco convicto sobre o aperto, seguido de uma mensagem mista de Powell. Especialistas esperam que o Fed não faça qualquer anúncio sobre tapering, como é chamada a redução de compras, até novembro.
O ouro, o petróleo e outras importantes commodities tiveram um início conturbado na sessão asiática de negociação desta segunda-feira, devido aos feriados na China continental, Japão e Coreia do Sul, impactando a liquidez. De fato, o cronograma de dias festivos nos países do norte da Ásia provavelmente afetará a liquidez de alguma forma, exacerbando os movimentos de mercado.
Desde a sexta-feira, a aversão ao risco tem afetado os mercados após a secretária do Tesouro, Janet Yellen, reiterar seu alerta de que a economia pode entrar em recessão se o congresso não chegar a um acordo em breve para elevar o limite de endividamento do país.
Jeffrey Halley, diretor de pesquisa sobre Ásia na plataforma de negociação online OANDA, afirmou:
“A lista de perigos é grande, a começar com o ruído cada vez maior nos EUA sobre o teto de endividamento. A elevação do teto de dívida costumava ser um exercício de praxe, mas, em um país tão polarizado, como os EUA, esse não é mais o caso”.
Quanto ao tapering do Fed, Halley disse ainda que era ingênuo acreditar que não haveria qualquer impacto, “depois de deixar o mundo viciado em quantidades sem fim de dinheiro a juro zero e respaldar até mesmo os investimentos mais tolos na última década”.
O contrato futuro mais ativo do ouro na Comex, de Nova York, registrava queda de US$2,65, ou 0,2%, a US$1.748,75 por onça, estendendo a queda de 2,3% da semana passada.
O cobre também caía 1,8%, ao lado do alumínio, com desvalorização de mais de 1%, platina e paládio, despencando cerca de 2%.
Os preços do petróleo também ficaram sob pressão após o premiê chinês Li afirmar, no fim de semana, que seu país usará “instrumentos de mercado” para estabilizar os preços das commodities. Isso parecia ser uma mensagem codificada para a liberação de mais ofertas de petróleo e metais dos estoques para reduzir as importações.
O barril de West Texas Intermediate, referência do petróleo nos EUA, estava um pouco abaixo de US$71,15, caindo 67 centavos ou 1%. O WTI encerrou a semana passada com uma alta de 3%.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, estava a US$74,73, caindo 61 centavos, ou 0,8%. O Brent também subiu cerca de 3% na semana passada.
“Como grande consumidora de commodities, a China pode exercer grande impacto nos preços no médio prazo”, afirmou Halley.
“Mas, quando isso ocorre em um dia com liquidez menor por conta dos feriados, os mercados ficam nervosos, o que pode ter um impacto superdimensionado, em vista da alta nos rendimentos nos treasuries e do dólar antes do Fomc.”
Uma forte correção nas ações americanas também pode intensificar a aversão ao risco nos mercados, inclusive no petróleo, fazendo o ouro se valorizar, afirmam os analistas.
“Pessoal, adoraria ver uma correção de 5%-7% no S&P 500 até 10 de outubro, apenas para restabelecer as expectativas”, declarou Brian Gilmartin, analista de ações.
Embora acredite que os resultados das empresas do S&P 500 no 3º e 4º tri não apresentarão surpresas, isso não significa que os mercados continuarão, declarou Gilmartin.
“Só porque as condições para uma ‘bolha de mercado’ não estejam presentes não significa quer S&P 500 não possa ver uma correção significativa”, complementou.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.