O cenário de 2023 deve ser de moderação do crescimento global e continuidade do aperto da política monetária pelos principais bancos centrais. A atividade deve crescer 2,9% em 2022 e desacelerar moderadamente para 2,5% este ano.
Apesar do arrefecimento, as economias do mundo exibirão desempenhos díspares entre os blocos, com os Estados Unidos e Zona do Euro desacelerando e, eventualmente, registrando recessão leve. Já a China deve acelerar seu crescimento de 3% para 5,5% nesse período.
Esse cenário global será favorável para as economias exportadoras de commodities, com a demanda suportada especialmente pela China. Além disso, o enfraquecimento do dólar é esperado devido ao menor crescimento americano, o que reduz as pressões inflacionárias e melhora as condições de financiamento das economias emergentes.
Com relação à atividade norte-americana, o Federal Reserve revisou suas posições na reunião de dezembro e passou a projetar que o núcleo de inflação medido pelo PCE terminará em 3,1% e 2,5% em 2023 e 2024, respectivamente, o que implica uma convergência mais gradual para as metas.
Diante deste cenário, a taxa terminal dos Fed Funds foi revista de 4,75% para 5,25% ao ano, em linha com nossas projeções. A revisão feita pela autoridade monetária dos Estados Unidos foi acompanhada por um discurso hawkish, ressaltando os riscos do mercado de trabalho ainda aquecido e pressões sobre preços ainda elevadas e persistentes no setor de serviços.
No Brasil, a PEC da transição teve seu prazo reduzido para um ano, mas o total de gastos adicionais ficou em torno de R$198 bilhões, cerca de 1,8% do PIB. Dessa forma, o déficit primário parte de 2,2% do PIB em 2023 e requer medidas de aumento de receitas na faixa de 1% a 1,5% do Produto Interno Bruto para reduzir essa diferença.
O desafio do governo será ajustar a arrecadação e equilibrar o déficit primário num quadro de desaceleração da economia.
O novo arcabouço fiscal requer uma regra crível que produza a trajetória de sustentabilidade da dívida. As indicações iniciais do novo governo revelaram a preferência por um ajuste gradual da política fiscal, uma estratégia de risco que só funciona com a boa vontade dos investidores.
Olhando para a renda fixa doméstica, a continuidade de incertezas fiscais justifica uma posição neutra nos contratos futuros de DI janeiro 2024, janeiro 2025 e janeiro 2027. Por outro lado, a proteção para surpresas inflacionárias juntamente com os elevados cupons dos títulos indexados à inflação tornam as NTN-Bs de vencimento 2025 e 2030 interessantes para o investidor.
O nosso cenário inflacionário para 2023 e assimetria de surpresas altistas nas cadeias de preços justificam posições tomadas na inflação implícita de um ano.
Nos fundos imobiliários, a volatilidade da curva de juros, as incertezas fiscais e eventuais discussões sobre tributação de dividendos igualmente pedem uma atitude neutra na classe de ativos.
No mercado de renda fixa global, as novas projeções do Federal Reserve reforçam a atratividade das treasuries de dois a dez anos. A discussão sobre o fim do ciclo de aperto de juros pelo Fed diminui a força do dólar e justifica neutralidade na moeda frente ao euro, mas posição vendida em relação ao iene.
No caso brasileiro, o enfraquecimento da moeda americana frente aos emergentes deverá beneficiar o real e justifica a compra.
Na renda variável, as medidas de reabertura da China introduzem um potencial de valorização das empresas ligadas às commodities. Os setores defensivos deixam de ser preferidos devido ao risco regulatório. A desaceleração doméstica justifica posição neutra nas empresas ligadas ao ciclo doméstico, assim como no caso das estatais por conta da incerteza de como serão geridas.
Com relação às bolsas globais, a expectativa de que o Fed siga elevando os juros manterá as taxas longas em alta, o que implica um S&P 500 mais fraco. A flexibilização das restrições devido à Covid-19, o anúncio de compulsórios e a injeção de liquidez no mercado imobiliário chinês justificam a mudança para uma posição comprada no MSCI de emergentes.
A bolsa de Xangai, que será a principal beneficiada pela reabertura da China, também justifica compra.
Nas commodities energéticas, a expectativa de aumento da demanda por conta de China aponta para a manutenção de posição comprada no petróleo. Nas commodities metálicas, a forte alta já ocorrida no minério de ferro e cobre com o anúncio das medidas para o setor imobiliário chinês indica precificação correta e neutralidade em relação à classe de ativos.
Até o próximo artigo!