Brasil não é para longo prazo!

Publicado 11.03.2025, 10:00

Você já ouviu a famosa frase: “O Brasil não é para amadores”? Pois bem, após analisar a relação entre o investimento estrangeiro e o comportamento do mercado brasileiro, chego à conclusão de que ela faz todo sentido.

O mercado financeiro brasileiro é fortemente influenciado pelo fluxo de capital estrangeiro, fator que impacta diretamente o desempenho da Bolsa de Valores. Diferente de mercados desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Europa, o Brasil enfrenta uma volatilidade intensa, impulsionada por instabilidades políticas e econômicas. Nesse cenário, o papel dos investidores internacionais é determinante para os movimentos do Ibovespa, ditando tendências e afetando diretamente a dinâmica do mercado.

A entrada e saída desses investimentos impactam diretamente o desempenho do mercado acionário. No mercado à vista de ações, o volume financeiro médio diário (ADTV - Average Daily Traded Volume) foi de R$ 25,6 bilhões no quarto trimestre de 2024, sendo que investidores estrangeiros foram responsáveis por 55,8% dessa participação.

Investidores estrangeiros frequentemente buscam mercados emergentes, como o Brasil, em busca de retornos atrativos. Sua presença na B3 (BVMF:B3SA3) é significativa, representando uma parcela considerável do volume negociado, refletindo sua confiança na economia do país. No entanto, em 2024, houve uma retirada líquida de R$ 26,9 bilhões de investimentos estrangeiros, acompanhada por uma queda de 10,36% no índice Ibovespa.

A relação entre investimento estrangeiro e a variação mensal do Ibovespa pode ser observada no gráfico a seguir, com dados coletados entre outubro de 2021 e fevereiro de 2025.

Essa relação, entretanto, nem sempre é estável. O dado citado evidencia que mais da metade das transações realizadas na B3 envolvem recursos provenientes do exterior, demonstrando a influência dos investidores internacionais. Isso sugere que o mercado brasileiro só consegue ganhar tendência de alta e tração quando há "dinheiro gringo" sendo injetado na Bolsa.

O mercado brasileiro é mais volátil do que mercados desenvolvidos, como os EUA e a Europa, devido a fatores políticos, econômicos e cambiais. A economia brasileira passa por ciclos instáveis, com mudanças frequentes na política fiscal, monetária e regulatória. Como resultado, investidores estrangeiros evitam exposições de longo prazo e preferem "trades" ágeis para capturar ganhos antes de possíveis turbulências. Diferentemente dos mercados desenvolvidos, onde o longo prazo é a abordagem predominante, no Brasil investidores estrangeiros optam por operações de curto prazo devido à alta volatilidade, minimização de riscos cambiais e necessidade de liquidez. Essa diferença de comportamento pode ser confirmada pela análise comparativa entre o Ibovespa e o S&P 500.

Comparando o Ibovespa ao S&P 500

Utilizando um conceito básico de análise gráfica, podemos identificar uma tendência de alta quando o preço está acima das médias de 50 e 200 períodos. Da mesma maneira, uma tendência de baixa ocorre quando o preço está abaixo dessas médias. O movimento é considerado lateral quando o preço oscila entre as duas médias.

O gráfico diário do Ibovespa ilustra esses conceitos, onde a linha preta representa o preço, a linha azul clara corresponde à média de 50 períodos e a linha azul escura, à média de 200 períodos.

Com base nesse critério, analisamos dados de fechamento por 20 anos (2004 a 02/2025) para o IBOV e o S&P 500. Os resultados são apresentados na tabela abaixo, em porcentagem de dias dentro de cada tendência:

Observamos que, apesar de haver certa relação entre os movimentos das bolsas, a magnitude dos ciclos é diferente. O S&P 500 permaneceu em tendência de alta durante 62% do tempo, reforçando a tese de que investimentos de longo prazo são uma boa estratégia nos EUA. Observe comportamento dos preços (linha preta) e médias (linhas azuis) do gráfico diário do S&P500 e IBOV de 2020 a 2025.

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Já no caso do Ibovespa, apenas 39% dos dias analisados apresentaram tendência de alta. Isso escancara uma realidade incômoda: insistir em uma estratégia de longo prazo no Brasil pode ser um erro caro. Enquanto nos Estados Unidos o "buy and hold" é quase um dogma inquestionável, aqui, essa abordagem se mostra muito mais arriscada e, muitas vezes, ineficaz. Será que faz sentido seguir cegamente o modelo americano em um mercado tão volátil e imprevisível como o nosso? Ou estamos nos iludindo ao acreditar que as mesmas regras se aplicam a um jogo completamente diferente?

O jogo é estratégia, não espera

Se há uma certeza no mercado financeiro brasileiro, é que a estabilidade é uma ilusão. Diferente do S&P 500, onde a previsibilidade favorece estratégias de longo prazo, o Ibovespa se comporta como uma montanha-russa imprevisível, exigindo flexibilidade e rapidez dos investidores.

Olhando para os dados, fica claro que insistir no "buy and hold" no Brasil pode ser mais uma crença do que uma estratégia fundamentada. O mercado brasileiro recompensa aqueles que sabem navegar sua volatilidade, aproveitando oportunidades de curto e médio prazo para capturar ganhos antes que o cenário mude drasticamente.

Em vez de esperar que o mercado se comporte como gostaríamos, o investidor inteligente adapta sua estratégia ao jogo real: posicionando-se com agilidade, gerenciando riscos e tirando proveito das oscilações. No Brasil, vencer no mercado financeiro não é sobre paciência, mas sobre timing e estratégia.

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