De maneira surpreendentemente cá estamos nós outra vez, no topo histórico em termos de cotação no nosso benchmark, o Ibovespa! Poucos esperariam esse patamar ser atingido tão rapidamente, mas o fato é que o mercado é assim, surpreendente, e cabe a nós, investidores, nos adaptarmos e aprendermos a cada ano, olhando para trás e melhorando aquilo que é possível. O ato de investir é uma das poucas atividades que têm tendência de evoluir e melhorar com o tempo.
Uma das lições que eu já tinha comentado em artigos anteriores e que corroborou com o movimento dessa Crise da Covid-19 foi o fato de sempre permanecer no mercado com maior ou menor percentual, de acordo com o seu perfil de investidor, diversificando os investimentos para ter “balas disponíveis” para serem usadas em momentos como o de março-abril de 2020.
Outro ponto importante foi a observação do fluxo do investidor estrangeiro. A recuperação forte do final do ano, vista no Ibovespa, foi sobretudo a entrada de capital estrangeiro, que saiu basicamente de um fluxo negativo de R$ 80 bilhões para um fluxo negativo de R$ 17 bilhões. Mesmo terminando pelo terceiro ano negativo, tivemos uma melhoria na entrada de capital estrangeiro na ordem de R$ 63 bilhões em apenas 3-4 meses do final do ano de 2020.
Essa entrada de capital por parte dos estrangeiros nos ajuda a visualizar o Ibovespa em dólar, que ainda está perto dos 23 mil pontos, muito abaixo dos 40 mil pontos em dólares atingido em meados de 2010-2012, como podemos ver abaixo:
O que vem ajudando o Ibovespa recentemente é a alta das commodities que, assim como outros ativos reais, a impressão maciça de dólares por parte dos bancos centrais mundiais (e que deve continuar nos EUA, como o Governo Democrata de Joe Biden, que já deu sinais de mais incentivos na casa dos “trillhões de dólares” e “salário mínimo da ordem dos US$ 15 a hora”, contra os atuais US$8 a 10 a hora) trouxe uma valorização nas principais commodities em 2020, favorecendo as exportações brasileiras, principalmente do setor de proteínas, soja, milho, minério de ferro, petróleo (com a recuperação rápida dos US$ 50,00 do barril) e outros, como pode ser notado na tabela abaixo:
Já em reais, o Ibovespa negocia perto dos 125 mil pontos e aproximadamente 16x lucros atuais, cujo patamar está acima em um desvio-padrão da média de 13,2x lucros anuais. Dada essa alta recente, cautela e um maior filtro quanto aos ativos escolhidos são necessários. Atuo há mais de 15 anos no mercado financeiro e é incrível como nesses momentos de alta extrema, de recordes na pontuação do Ibovespa, é que os investidores ficam mais corajosos para realizar investimentos. Um filtro de setores e ativos é importante para momentos como esses. Setores como saneamento, utilities, commodities ainda estão descontados e trazem oportunidades.
Já o S&P500 também negocia em patamares recordes, sendo avaliado a patamares semelhantes a Bolha.com dos anos 2000, como podemos ver abaixo:
Dois indicadores que servem como embasamento para termos ciência do nível de mercado é o Fear and Greed Index, da CNN Business, que está atualmente em 71, de um máximo em 12 meses atingido em 93, e o indicador Panic Euphoria Model, que está batendo o recorde de negociação dos anos 2000, como segue:
Outro indicador muito importante é o chamado “Índice de Buffett”, que utiliza o valor de mercado de todas as bolsas mundiais e o PIB mundial, tudo aquilo que é produzido no mundo, e traz outro alerta: ele está 21% acima de tudo o que está sendo produzido no mundo, estando em patamares pré-2008, ano da Crise do Subprime, o que também nos chama atenção, como podemos ver abaixo:
Sendo assim, em dólares vemos o Ibovespa ainda muito barato, quase a metade do patamar de 2010-2012, porém em reais um pouco acima do patamar histórico (nessa próxima temporada de resultados poderemos ter uma definição melhor). Uma alternativa é a compra de BDRs, para aqueles investidores para que é permitido essa modalidade de investimento.
Já nos EUA vários indicadores estão muito acima do patamar médio, o que nos pede cautela quanto aos ativos a serem investidos. Um exemplo recente é a Tesla (NASDAQ:TSLA), cujo valor de mercado atingiu os US$ 800 bilhões e tornou seu fundador e majoritário, Elon Musk, o homem mais rico do mundo. Movimentos assim devem nos trazer cautela e nos lembrar que sempre temos que ter parcimônia na escolha de ativos para se investir, principalmente em momentos como esse, que começam a demonstrar excessos em alguns setores, como o de tecnologia, por exemplo.
Sempre lembrando: faça sua própria avaliação, é importante sempre estudar e evoluir por conta própria, pois o que comentei acima não é uma indicação de negociação, apenas uma visão de alguns ativos.
Fico por aqui!
Um grande abraço