Publicado originalmente em inglês em 08/01/2021
Faltando menos de duas semanas para a posse presidencial e um possível anúncio de distribuição de cheques emergenciais de US$ 2.000 aos americanos, Joe Biden acabou se tornando a maior esperança dos investidores do ouro, que querem ver o mercado subir mais.
O problema é que não é apenas o mercado do ouro que está de olho nos trilhões de dólares que o governo Biden provavelmente gastará ao longo do próximo ano para combater a pandemia.
As ações, o bitcoin e até mesmo os títulos do Tesouro americano estão registrando novas máximas nos últimos dias, com os investidores buscando de todas as formas rentabilizar seu capital, em meio à incerteza econômica e à disparada da dívida federal, que não mostra sinais de arrefecimento, assim como o coronavírus.
Competição pela atenção dos investidores
A competição pela atenção dos investidores pode fazer com que o ouro espere mais algum tempo antes de chegar às máximas desejadas.
O comportamento dos preços nesta semana foi uma clássica representação da história recente do metal precioso: primeiro vem um forte rali, ao ritmo de US$ 50 por onça, depois vem a volatilidade e correções, até que o mercado termina voltando aonde parou ou caindo mais.
Durante vários meses, o dólar foi o catalisador dos reveses ocorridos no ouro.
O vigor do dólar no segundo semestre de 2020 afetou o desempenho do ouro, até a moeda americana se desvalorizar e atingir as mínimas de três anos, onde parece ter se estabilizado. Em vista da enorme dívida pública americana – que deve ser de US$ 3,8 trilhões só neste ano –, a força relativa do dólar estava desafiando a lógica, apesar do argumento de que estava servindo de moeda de reserva e ativo de proteção.
Agora o ouro tem outro rival, o bitcoin, que, na quinta-feira, disparou até a máxima recorde de US$ 40.000.
Essa moeda digital “provavelmente vai chegar a US$ 100.000, US$ 150.000 e US$ 200.000", afirmou Chamath Palihapitiya, CEO da Social Capital, em uma entrevista à CNBC, quando perguntado até onde poderia ir o rali no bitcoin. Ele complementou dizendo que era difícil fornecer uma previsão de tempo para esses patamares, em razão da natureza hiperespeculativa das criptomoedas.
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Critptos tiram investidores do ouro
Ed Moya, analista sênior de mercado da OANDA em Nova York, afirmou que muitos investidores institucionais que normalmente estariam se posicionando no ouro também estão saltando para o mercado de criptomoedas. O analista afirmou:
“A bolha do bitcoin está atraindo um enorme interesse, o que pode apagar certo brilho do ouro no longo prazo”.
Em meados do ano passado, quando o ouro estava nas máximas recordes de quase US$ 2.090 por onça, os investidores posicionados no metal provavelmente ririam se alguém lhes dissesse que o próximo pico do mercado não aconteceria nos seis meses seguintes.
O fato é que a vitória do partido democrata no Senado – permitindo que Biden aprove sem obstáculos o pacote de estímulos tão importante para o ouro – só ocorreu seis meses depois da máxima de 7 de agosto.
Fundamentos do ouro ainda são excelentes
Independente do que esteja acontecendo no mundo das criptomoedas, a boa notícia para os investidores do ouro é que Biden já deu sinais de que quer aprovar pelo menos dois pacotes de estímulo em 2021 para superar a crise econômica gerada pela pandemia.
Os dois pacotes de estímulo do ano passado aprovados pelo governo Trump totalizaram cerca de US$ 4 trilhões. Com os democratas controlando todas as casas legislativas, Biden será capaz de fazer muito mais.
Como se não fosse o bastante para os investidores do ouro, o Federal Reserve ficará a postos para fazer frente a qualquer falta de liquidez no mercado de capitais, fornecendo créditos para empresas necessitadas se as condições de negócios não melhorarem nos próximos meses.
Tudo isso é complementar à promessa do Fed de manter os juros perto de zero nos EUA pelo tempo que for necessário, além de comprar dezenas de bilhões de dólares em títulos por mês para manter a economia rodando. O aumento do déficit fiscal provavelmente aumentará a busca de proteção em ativos como o ouro, o que explica toda a euforia dos investidores posicionados no metal.
Mas o uso do bitcoin não para de crescer
O bitcoin está fazendo bastante barulho, atraindo inclusive o interesse de investidores céticos.
Já surgindo cada vez mais sinais de que o bitcoin está se transformando em um ativo de proteção.
O CEO da PayPal (NASDAQ:PYPL) (SA:PYPL34) disse que os usuários poderão usar criptomoedas [disponíveis no PayPal] para “comprar produtos dos nossos 28 milhões de comerciantes... A promessa é usar a tecnologia moderna para melhorar a utilidade dos pagamentos”.
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Em outubro do ano passado, o PayPal, com mais de 300 milhões de usuários ativos, anunciou que havia entrado no mercado de criptomoedas, permitindo que seus usuários comprassem e vendessem bitcoin e outras moedas digitais usando contas do PayPal.
A forte demanda de usuários fez o volume de negociação de bitcoins disparar mais de 500% na plataforma do PayPal nos últimos dois meses, passando de cerca de US$ 20 milhões em novembro para mais de US$ 100 milhões, de acordo com ItBit, corretora parceira do PayPal.
Mas, a menos que ganhe aceitação universal, a volatilidade do bitcoin – que chega a ser três vezes maior que a do ouro – pode afastar investidores que podem preferir a estabilidade e a relativa liquidez do ouro, segundo Moya, da OANDA. Ele diz ainda:
“O ouro está se consolidando entre US$ 1900-1950, mas a perspectiva de mais estímulo fiscal e monetário deve alimentar a alta”.
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
Tecnicamente, tudo indica que o ouro deverá enfrentar novos desafios, declarou o grafista Sunil Kumar Dixit, da SK Dixit Charting, de Kolkata, Índia.
Dixit afirma que o preços à vista do ouro, que reflete as negociações em lingotes, não conseguiu romper a máxima US$ 1.960 na quarta-feira, caindo para US$ 1.901.
Ampla faixa de negociação do ouro: US$ 1.892-2.127
Entretanto, o ouro não conseguiu sair da consolidação, arriscando cair para US$ 1.838, segundo Dixit, que disse ainda:
“Os gráficos diários sugerem que as áreas de suporte estão na média móvel simples de 20 dias a US$ 1.887. Esse suporte cruzou para cima a média móvel exponencial de 50 dias a US$ 1.880 e está tentando fazer a interseção com a média móvel simples de 100 dias a US$ 1.892.”
“Embora essas áreas possam atuar como suporte com o tempo, um movimento sustentado abaixo de US$ 1,880 pode expor o metal a quedas até os patamares de US$ 1.850 e US$ 1.838.”
Pelo lado positivo, um forte rompimento acima de US$ 1.965-1.970 pode abrir a porteira para os cobiçados níveis de US$ 2.000, embora o rompimento da máxima recorde de agosto a US$ 2.089 possa levar algum tempo, segundo Dixit.
“Se chegar a US$ 2.075, pode fazer uma parada em US$ 2.127 para cravar outro recorde.”