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Biden Tenta Mudar Relação com Arábia Saudita para Baixar Preços do Petróleo

Publicado 04.06.2022, 22:53
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Você conhece o ditado latino: Quid pro quo, ou, em bom português, uma mão lava a outra.

A promessa da Opep de aumentar a produção mais do que o previsto nos meses de julho e agosto está sendo vista como uma estratégia da Arábia Saudita para “quebrar o gelo” na visita que o presidente americano Joseph Biden fará a Riad.

A popularidade do mandatário norte-americano está definhando antes das eleições de meio de mandato em novembro, diante da disparada dos preços dos combustíveis, dos alimentos e dos itens de maior necessidade. A inflação no país está nas máximas de quatro décadas.

Petróleo diário

Dos 23 países que pertencem ou estão associados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), apenas a Arábia Saudita – e, por extensão, os Emirados Árabes Unidos – podem dar o que os EUA precisam para resolver o problema da inflação: mais petróleo.

Ocorre que Biden ainda não dispõe desse petróleo porque recusou-se todo esse tempo a lidar com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro saudita popularmente conhecido como MbS, a quem a CIA acusou de ordenar o assassinato de um residente dos EUA.

Além do reconhecimento e respeito que deve ser concedido a ele como o rei da Arábia Saudita, MbS também quer um apoio mais enfático dos EUA a Riad na guerra do Iêmen. Tanto o príncipe herdeiro quanto seu congênere dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, ficaram frustrados com a indiferença de Biden em relação às preocupações com o programa de mísseis do Irã e seus apoiadores regionais no Golfo.

De pária a líder: mudança de Biden em relação ao príncipe saudita

Agora parece ser o momento perfeito para resolver essas diferenças. A Casa Branca se apressou, na quinta-feira, a fazer isso, ao reconhecer o papel de MbS na extensão do cessar-fogo no Iêmen. “Reconhecemos sobretudo a liderança do Rei Salman e do príncipe saudita em ajudar a consolidar a trégua”, afirmou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

O interessante é que, menos de 24 horas antes dessas declarações, o governo Biden considerava o príncipe herdeiro como “pária", por sua suposta participação no assassinato e esquartejamento ocorrido em 2018, na Turquia, de Jamal Khashoggi, jornalista saudita que trabalhava no Washington Post e residia nos EUA.

Tudo indica que diplomatas americanos passaram semanas trabalhando na organização da visita de Biden a Riad, após dois anos de relações tensas devido ao assassinato de Khashoggi e desacordos envolvendo questões de direitos humanos, a guerra no Iêmen e o fornecimento de armas dos EUA para o reino. Há apenas três meses, MbS supostamente teria se recusado a conversar ao telefone com o presidente americano.

LEIA MAIS: Petróleo toca US$ 120 com dúvida de Biden de que fará visita à Arábia Saudita para encontro com o príncipe herdeiro

Mantendo sua ofensiva de apaziguamento, a Casa Branca disse reconhecer, na quinta-feira, o papel saudita em buscar um consenso dentro da Opep a respeito do aumento das exportações petrolíferas.

O que nos leva exatamente ao que Biden deseja alcançar.

EUA conseguirão melhorar suas relações com a Arábia Saudita?

A Opep+ concordou, em sua reunião na quinta-feira, em produzir 648.000 barris por dia em julho e agosto.

A aliança reúne os 13 membros originais da Opep, liderada pela Arábia Saudita, e 10 países produtores externos sob a direção da Rússia.

Já faz quase dois anos que a Opep+ assegura que os países do grupo fornecerão menos petróleo do que o necessário para abastecer o mercado, a fim de preservar os preços do barril em níveis ótimos, após o colapso do mercado ocasionado pela Covid em 2020.

Até junho, a Opep+ anunciou um aumento-padrão de 432.000 barris por dia em suas reuniões mensais, apesar de repetidos pedidos dos EUA, China e Índia por mais petróleo, já que as sanções à Rússia por causa da guerra na Ucrânia retiraram pelo menos um milhão de barris por dia do mercado.

Para piorar as coisas, a Opep+ está exportando menos do que sua meta todos os meses. Vários membros citam restrições de capacidade por subinvestimento em campos petrolíferos durante a pandemia.

De acordo com uma fonte citada pela Reuters, Washington gostaria de ter clareza a respeito dos planos de oferta da Opep+, antes da visita de Biden a Riad para a cúpula com os líderes árabes do Golfo, incluindo MbS.

O anúncio de quinta-feira foi visto, portanto, como o primeiro sinal de disposição da Arábia Saudita e outros membros da organização de “abrir as torneiras” mais livremente, sobretudo depois que a União Europeia anunciou, nesta semana, a proibição da maioria dos produtos petrolíferos da Rússia, o que pode eliminar pelo menos 2 milhões de barris por dia da oferta.

A questão, entretanto, é se Biden obterá o que deseja dos sauditas e do cartel, na medida em que o combate efetivo à inflação envolve a capacidade de trazer os preços para baixo.

Nesse sentido, os preços do petróleo praticamente não se mexeram após o anúncio da Opep+ na quinta-feira. Durante a janela asiática de negociações, a cotação do barril caiu levemente, com o Brent, referência para o mercado mundial, girando em torno de US$ 117, e o WTI, referência nos EUA, a cerca de US$ 116.

O pior é a marcação de preços nas bombas de combustível dos EUA. O preço médio da gasolina atingiu a máxima histórica perto de US$ 4,72 por galão nesta semana, uma alta em relação a US$ 3,04 um ano antes. Já o diesel registrou preço médio de US$ 5,56 por galão, uma alta de US$ 3,19 em relação ao ano passado.

Biden tentou mostrar uma conexão maior com a insatisfação dos americanos com os preços dos combustíveis e outras formas de inflação, no momento em que seu partido democrata se prepara para as eleições de meio de mandato em novembro. As pessoas estão ficando cada vez mais desiludidas com a capacidade do seu governo de controlar os preços. A cada mês, a inflação consome uma parcela maior da renda das famílias.

Ainda assim, parece haver uma boa razão pela qual o novo acordo de produção da Opep+ não conseguirá reduzir os preços do petróleo nem dos combustíveis nos EUA.

Analistas apontam que o aumento de 648.000 barris por dia em julho e agosto por parte do cartel seria dividido proporcionalmente entre os atuais membros e colaboradores do grupo.

O problema é que quem está incluída no acordo é a Rússia, que já perdeu um milhão de barris de produção diária devido às sanções, e países, como Angola e Nigéria, não estão conseguindo atingir suas metas de produção.

Amrita Sen, cofundadora da consultoria Energy Aspects, de Londres, afirmou que o aumento real da produção entre julho e agosto seria de cerca de 560.000 barris diários, em comparação com a previsão de 1,3 milhão, porque a maioria dos países da Opep + já havia atingido sua capacidade máxima de produção.

“Esses volumes não vão conseguir reduzir substancialmente o déficit do mercado”, declarou em comentários à Reuters.

Stephen Innes, sócio executivo da SPI Asset Management, de Singapura, concordou:

"Os traders acreditam que o aumento é muito pequeno em relação aos riscos cada vez maiores de oferta decorrentes do embargo da UE [à Rússia] em meio a um aumento esperado da demanda na China".

Analistas da ANZ Research disseram também:

“O fato de a Rússia ter sido incluída no acordo é sinal de que a aliança continuará enfrentando dificuldades para realizar até mesmo esse aumento modesto das cotas”.

John Kilduff, sócio-fundador de um fundo de hedge de energia de Nova York, também tem uma visão interessante a respeito da permanência da Rússia no acordo da Opep+ e do que os sauditas realmente querem.

“Eles querem preservar a Opep+, simplesmente isso”, afirmou Kilduff.

Ele acrescentou:

“A colaboração entre a Arábia Saudita e a Rússia na produção de petróleo já dura mais de cinco anos e resistiu a pelo menos duas grandes quedas na cotação do barril, inclusive o crash da Covid em 2020. Isso fortaleceu sua parceria, apesar de desavenças ocasionais. A despeito de toda a oposição do Ocidente à Rússia por causa da Ucrânia, os sauditas recusaram-se a abandonar sua aliada, dizendo que a Opep permaneceria apolítica quanto às suas exportações. Os sauditas sabem que os preços do petróleo não continuarão tão favoráveis quanto agora, e se for necessário reduzir novamente a produção, será mais fácil fazê-lo com todos os aliados ao seu lado. E a Rússia é essa aliada que os sauditas sempre vão precisar”.

“Quid Pro Quo”

Então isso quer dizer que MbS conseguirá o que deseja e que Biden ficará com as mãos abanando?

Sim e não.

Os sauditas desejam obter o melhor preço para o seu ouro negro, mas sem sacrificar sua fonte de receita. Isso explica seu desejo de manter os preços em torno de US$ 100 por barril, em vez de deixá-los atingir US$ 150, provocando um possível crash na economia dos EUA e do mundo.

“Certamente não é do interesse da Opep jogar o mundo numa recessão”, ressaltou Jeffrey Halley, que supervisiona a pesquisa da plataforma de negociações online OANDA para a região Ásia-Pacífico. Ele disse ainda:

“É incrível como os preços da gasolina nos EUA e as eleições de meio de mandato geram mobilização”.

O que Biden e os democratas querem é que o preço da gasolina fique entre US$ 3,80 e US$ 3,50 o galão até as eleições de novembro. Para tanto, o petróleo precisa cair para a faixa de US$ 90-95 por barril.

Após sua visita a Riad, tudo leva a crer que o presidente americano continuará pressionando o príncipe saudita e os emirados a aumentarem sua própria produção na Opep+.

Os sauditas afirmam que estão trabalhando para aumentar sua capacidade anunciada para 13,4 milhões de barris por dia até 2027, em comparação com a capacidade atual de US$ 12,4 milhões. A atual produção de Riad é de 10,5 milhões de barris por dia e nunca testou níveis sustentados de produção acima de 11 milhões por dia.

Os emirados, enquanto isso, possuem menos de 2 milhões de barris por dia de capacidade ociosa.

Independente da sua capacidade de conseguir o que quer, ninguém espera que Biden se aproximará de MbS como seu antecessor Donald Trump fez.

“Também depende de até onde MbS deseja ir com o presidente”, afirmou Kilduff.

Ele disse ainda:

“A relação saudita com Biden não é excelente e nunca será. Biden também poderia firmar um acordo nuclear com o Irã e colocar o petróleo persa de volta ao mercado sem as sanções. Os sauditas ainda estão esperando que o acordo não aconteça”.

“Quid pro quo”, certo?

Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.

 

 

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