Por Barani Krishnan
Investing.com -- Os preços do petróleo alcançaram máximas no pregão de sexta-feira na marca de US$ 120 por barril após o presidente Joe Biden ter minimizado a probabilidade de viajar para a Arábia Saudita a fim de encontrar o príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, que seria crucial para decidir se a OPEP lança mais barris como forma de proporcionar alívio a um mercado estrangulado pelas sanções contra o petróleo da Rússia.
"Neste momento, não tenho planos diretos de ir para a Arábia Saudita, mas existe a possibilidade de que eu vá ao Médio Oriente", disse Biden aos repórteres da Casa Branca.
Às 14h43, o Brent, referência global para o petróleo, apresentava alta de 1,73%, a US$ 119,64 por barril com entrega para agosto. Mais cedo, ele havia atingido a máxima no pregão de US$ 120,05.O brent segue na direção da terceira semana consecutiva de ganhos. O petróleo WTI, referência de preços os EUA, registrava alta de 1,79%, a US$ 118,96 por barril, após um pico intradiário de US$ 119,41.
O Brent e o WTI fecharam em alta na quinta-feira, apesar das manchetes de uma possível reunião entre Biden e o príncipe herdeiro saudita, conhecido popularmente pelas suas iniciais MbS. O noticiário afirmava que o presidente viajaria para Riade para uma cúpula com líderes árabes do Golfo, com preparativos elaborados pelo Departamento de Estado.
Essas notícias saíram logo após a OPEP+ – que agrupa os 13 membros originais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderada pelos sauditas, mais 10 produtores de fora dessa organização, capitaneados pela Rússia – afirmar que elevaria a produção em 648.000 barris por dia em julho e em agosto.
Esse nível de produção é consideravelmente superior aos incrementos de 432.000 bpd que o grupo tem feito mês após mês ao longo do último ano. A medida foi vista como o primeiro sinal de disposição da Arábia Saudita e de outros países da OPEP de abrirem mais suas torneiras, especialmente depois de a União Europeia ter anunciado esta semana a proibição da maioria dos derivados russos de petróleo, o que poderia alienar pelo menos mais 2 milhões de barris por dia em fornecimento.
Depois do rali de quinta-feira, os preços do petróleo quase não caíram com a notícia da OPEP+. Provavelmente, isso se deve ao fato de que os incrementos de julho e agosto devem ser divididos proporcionalmente entre os membros e colaboradores atuais do grupo.
O pacto incluía a Rússia, que já perdeu um milhão de barris de produção diária em função das sanções, além de países como Angola e Nigéria, que tem sido reiteradamente incapazes de cumprir as metas de produção prescritas.
Amrita Sen, cofundador da consultoria Energy Aspects, de Londres, disse que o impulso real de produção durante julho e agosto seria em torno de 560.000 barris por dia, em comparação com os 1.3 milhão programados, porque a maior parte da OPEP+ já chegou ao limite máximo da sua produção.
"Esses volumes dificilmente terão algum efeito sobre o déficit no mercado", ela disse em comentários publicados pela Reuters.
Apesar da pressão do Ocidente para abandonar a Rússia do pacto da OPEP+, a Arábia Saudita vem se mantido fiel ao seu aliado, dizendo que não acreditava que as exportações de petróleo deveriam ser politizadas em decorrência da crise na Ucrânia.
Esse pode ser um dos motivos para que Biden não queira fazer uma visita a Riade neste momento, disseram os analistas.
"Ele basicamente está seguindo o que sempre disse em relação a MbS", afirmou John Kilduff, sócio fundador do fundo de hedge de energia Again Capital, de Nova York. "Provavelmente, ele também está tentando que a OPEP faça alguma elevação realmente significativa da produção, em vez de algo que não irá baixar o ponteiro nos preços da gasolina".
O preço médio da gasolina nas bombas dos EUA atingiu recordes históricos perto de US$ 4,72 por galão esta semana, alta de US$ 3,04 em relação a um ano atrás. A média do preço do diesel chegou a US$ 5,56 por galão, avanço de US$ 3,19 na comparação com o ano passado.
Ao ser perguntado sobre a possibilidade de uma reunião direta com MbS, Biden disse: "Olha, estamos nos precipitando aqui. Não vou mudar a minha opinião sobre direitos humanos, mas como presidente dos Estados Unidos, o meu trabalho é trazer a paz, e se eu puder trazer a paz, é isso que vou tentar fazer. O que quero é diminuir a possibilidade de que haja uma continuação de algumas das guerras sem sentido entre Israel e as Nações Árabes, e é nisso que estou me concentrado".
Aparentemente, os diplomatas norte-americanos haviam trabalhado por semanas na organização da primeira visita de Biden a Riade, após dois anos de relações tensas em função do jornalista saudita residente dos EUA, Jamal Khashoggi, e de discordâncias relativas a direitos humanos, a guerra no Iêmen e o fornecimento de armas dos EUA para o reino.
Há apenas três meses, os relatos davam conta que MbS se recusava até mesmo em falar ao telefone com o presidente, que considerava o príncipe herdeiro como um "pária" pelo seu suposto papel em 2018 na morte e desmembramento de Khashoggi, um jornalista do Washington Post que havia feito severas críticas ao príncipe herdeiro.
Na quinta-feira, a Casa Branca pareceu aparar as arestas com Riade, ao anunciar que reconhecia o papel de MbS na extensão do cessar-fogo no Iêmen. Também disse que estava grata pelo papel saudita em alcançar consenso dentro da OPEP sobre o aumento das exportações de petróleo.
Mas Biden pensava de forma diferente quando lhe foi feita a pergunta na sexta-feira. "O anúncio da OPEP sobre o aumento da produção [foi] positivo, mas não tenho a certeza se é suficiente", disse.