Um avanço bastante atrasado
Uma das notícias mais comentadas da semana foi a de que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) alterou as regras para negociação de BDRs (Brazilian Depositary Receipts).
BDRs são instrumentos em que o investidor brasileiro pode negociar ações estrangeiras na Bolsa local.
A partir de 1º de setembro de 2020, qualquer investidor passa a ser apto a negociar BDRs — antes somente os investidores qualificados (com mais de 1 milhão de reais de patrimônio) possuíam o direito de acessar este mercado.
De fato, a mudança na regra mostra um avanço importante na regulação do mercado de capitais brasileiro, motivo pelo qual as corretoras e a B3 trataram de comemorar como um grande golaço.
Sinceramente, eu acho que essa era uma notícia para ser comemorada se tivesse saído há uns 2-3 anos.
Falo isso porque nos últimos anos as corretoras americanas facilitaram muito o acesso de investidores brasileiros. O processo de abertura de conta foi simplificado, a aprovação se dá em poucas horas e algumas, inclusive, como é o caso da Avenue, oferece suporte em português. Esta última já atende mais de 115 mil clientes vindos do Brasil (agora deu para entender o porquê da pressão da B3 e das corretoras).
É por estes motivos, e outros que listarei abaixo, que eu acredito que o melhor caminho para quem quer se expor a ações diretamente é abrir uma conta em uma corretora fora do Brasil.
Para aqueles que querem ter exposição a ações em dólar, mas dispõem de poucos recursos, falta de conhecimento e de tempo, o melhor caminho continua sendo o ETF IVVB11. É bastante líquido, barato (taxa de administração de 0,24 por cento) e oferece ao investidor uma carteira diversificada. Ainda não encontramos boas opções de fundos de gestão ativo nas plataformas de investimento brasileiras.
Investindo lá fora
Liquidez
A liquidez do mercado local aumentou bastante nos últimos tempos e, com a maior participação do varejo, deve acelerar. Entretanto, o volume médio diário negociado está na casa dos 90 milhões de reais. Ainda é pouco líquido.
Fonte: Valor Investe / B3
Se este mercado fosse de uma ação apenas, não estaria entre as 50 ações mais negociadas do Ibovespa. Para servir de comparação, mesmo que a liquidez triplique ou quadruplique, ainda negociará menos do que uma empresa como Suzano (SA:SUZB3), BTG (SA:BPAC11) ou Lojas Renner (SA:LREN3) por dia.
Outros dados para servir de comparação:
- A B3 negocia diariamente algo em torno de 30 bilhões de reais, enquanto o S&P 500 negocia 70 vezes mais.
- São quase 3 milhões de investidores na B3, enquanto apenas 5 mil investidores em BDRs.
A Liquidez é muitas vezes menosprezada, mas a gente sabe que quando o mercado azeda e despenca, a liquidez seca e não tem comprador.
Esse é um tipo de risco que não topamos correr, principalmente depois de ver o que aconteceu recentemente no auge da crise com algumas ações da bolsa brasileira.
Oferta
Atualmente existem 550 BDRs listados no Brasil. Já é um número razoável e a oferta deve ser ampliada com a entrada de empresas como a XP Inc..
Mas nos Estados Unidos, o universo é outro. Existem mais de 4 mil empresas listadas e outros tantos milhares de ETFs disponíveis.
Spread no book de ofertas
Como o mercado aqui é pouco líquido, alguns BDRs apresentam um spread considerável no book de ofertas. Isso significa que ao investir no mercado local o investidor estaria pagando um pênalti sobre a cotação real do ativo em dólares.
Peguei um exemplo que o nosso analista Cesar Crivelli usou ontem no canal do Telegram do Nord Global que evidencia este problema.
Ontem, até às 13h47, os BDRs da rede de farmácia CVS tiveram apenas um negócio, às 10h30 da manhã.
A diferença entre a compra e a venda na B3 é da ordem de 1 por cento.
Já na NYSE, a diferença é de 0,01 e temos centenas de milhares de negócios por dia.
Custo de remessa
Nos últimos 2 anos as plataformas de câmbio digital também evoluíram bastante, e isso se traduziu, principalmente, em remessas mais rápidas (1-2 dias) e custos bem mais baixos. Entre spread e IOF, é possível encontrar plataformas que cobram algo em torno de 1,68 por cento. Considerando a liquidez do mercado local, o spread na compra e na venda de um BDR por aqui, eu acredito que vale a pena pagar esse prêmio.
Lote Padrão
Ao contrário do que ocorre nos EUA, onde não há diferenciação entre lote padrão e fracionário, no Brasil o lote mínimo de negociação é de 10 BDRs. Isso significa que para comprar um lote padrão de Amazon (NASDAQ:AMZN) um investidor terá que desembolsar mais de 86 mil reais.
Há possibilidade de operar no mercado fracionário, e ainda assim o investidor precisa desembolsar 8,6 mil reais. Não parece algo muito preparado para o investidor de varejo.
Tributação
Como diz a matéria do Valor Investe: "A B3 ainda não divulgou detalhes sobre a tributação, mas adiantou que não haverá a isenção de Imposto de Renda (IR) para pessoa física, como é hoje em ações (com limite mensal de R$ 20 mil). Hoje, os BDRs são tributados em 15 por cento nas operações que geram lucro".
Para quem investe por meio de uma corretora no exterior, a regra é de isenção de IR até 35 mil reais por mês. É importante dizer que é preciso considerar a variação cambial na conta. Nesse sentido, a Avenue é a corretora que oferece o melhor suporte, pois disponibiliza uma série de relatórios para declaração de imposto de renda, como: informe de rendimentos pelo recebimento de dividendos, extrato de depósitos, retiradas e ajustes, relatório de câmbio, notas de corretagem e relatórios de ordens e execuções.
Um abraço e até a próxima.