- Crescimento do PIB dos EUA continua desacelerando, apesar de dados robustos no mercado de trabalho.
- As expectativas dos analistas estão defasadas em relação aos dados divulgados.
- A previsão é que haja mais reduções nas projeções de crescimento econômico.
Já é possível sentir o ambiente de recessão nos EUA. O PIB do primeiro trimestre ficou no negativo e o indicador GDPNow, do Fed de Atlanta, mostra que o crescimento no 2º tri deve continuar no vermelho. Além disso, na semana passada, economistas do Bank of America (NYSE:BAC) Global Research emitiram uma nota que sacudiu o mercado. A instituição prevê cinco trimestres seguidos de crescimento negativo do PIB americano.
BofA: Contração econômica até o 1º tri de 2023
Fonte: BofA Global Research
Estimativas consensuais para o crescimento do PIB no 2º tri: +0,9%:
Fonte: Bloomberg, Bianco Research
Uma recessão é definida simplesmente como dois trimestres consecutivos de crescimento abaixo de zero. O NBER, escritório nacional de pesquisa econômica dos EUA, tem a palavra final, após o fato consumado. Esse grupo analisa principalmente as tendências de emprego para avaliar se a economia passou por uma recessão. Nesse caso, em vista do robusto mercado de trabalho de junho (conforme o relatório de folhas de pagamento não agrícolas de 8 de julho), é bem possível que a economia americana tenha uma contração, apesar do aumento mensal da criação de postos de trabalho.
Claro, ninguém sabe como tudo vai se desenrolar no resto do ano e em 2023. Empresas de pesquisa do sell-side e analistas de todos os tipos aparentemente vão do céu ao inferno a cada divulgação de um dado econômico importante.
Existe um indicador interessante que fornece pistas sobre como esses dados se saem em relação às expectativas. O Citigroup (NYSE:C) Economic Surprise Index (CESI) basicamente mede a força dos dados econômicos em comparação com as estimativas consensuais. Zero é a demarcação de dados melhores ou piores do que as expectativas.
CESI: -51,3
Fonte: Yardeni Research
Neste momento, o indicador está bem no vermelho. A leitura atingiu seu menor nível em mais de dois anos, somente duas semanas depois de as ações atingirem a mínima de junho. Com algumas notícias positivas, como o forte relatório de empregos, o índice de surpresa repicou levemente. Para fins de contextualização, ele disparou até as máximas históricas em meados de 2020, já que a economia americana se recuperou muito mais rápido do que muitos analistas de Wall Street imaginavam. Não é de surpreender que o S&P já estava em processo de forte valorização em relação ao fundo de março de 2020. Isso mostra que o comportamento dos preços das ações tende a se antecipar às notícias econômicas.
Eu também gosto de monitorar outro índice de surpresa econômica. Ele é fornecido pelo Goldman Sachs (NYSE:GS) Investment Research e compara os dados de diferentes países com o consenso. Talvez o leitor se surpreenda ao saber que os EUA só ficam atrás do Japão em termos de números ruins. A zona do euro, China e alguns outros grandes países vêm registrando dados “menos ruins” ou até melhores do que os esperados.
Fonte: Goldman Sachs Investment Research
Conclusão
Eu defendo que não apenas as estimativas de lucro corporativo precisam cair, como também as previsões dos dados econômicos. Em vista da disparidade entre as estimativas e os números reais fracos, os riscos de uma recessão são cada vez maiores. Minha expectativa é que haja mais cortes nas perspectivas de crescimento, tal como vimos com o BofA na semana passada.
Aviso de isenção: Mike Zaccardi não possui qualquer instrumento financeiro mencionado neste artigo.