Publicado originalmente em inglês em 16/02/2021
O fundador e CEO da Tesla, Elon Musk, já provou várias vezes que seus críticos estavam errados.
Entre outras coisas, Musk ficou conhecido por seus comentários excêntricos e muitas vezes controversos em entrevistas e via Twitter. Mesmo assim, as ações da sua empresa de carros elétricos se valorizaram 400% nos últimos 12 meses, tornando-se a ação com melhor desempenho no S&P 500.
No mês passado, a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34) divulgou seu balanço que marcou seu sexto trimestre seguido de lucratividade, encerrando o ano fiscal com entregas de 500.000 carros, uma alta de 36% em relação ao ano anterior. Após um sucesso atrás do outro, até mesmo as vozes críticas da Tesla mais vorazes capitularam, admitindo que estavam erradas ao recomendar “venda” na ação.
“Não há outra forma melhor de expressar isso do que dizer que erramos feio com a ação da TSLA”, escreveu Joseph Spak, analista da RBC Capital Markets, no mês passado. Chris McNally, analista da Evercore ISI, declarou o seguinte:
“Estou há um ano no lado errado em relação à TSLA”.
De fato, McNally quase triplicou seu preço-alvo das ações da Tesla para US$ 650. Da mesma forma, Dan Levy, analista do Credit Suisse (SIX:CSGN) Group AG, dobrou seu preço-alvo para US$ 800. A ação fechou na sexta-feira a US$ 816,12.
Essas admissões de erro feitas pela comunidade do sell-side, no entanto, não escondem o fato de que ainda é difícil ver qualquer razão por trás de alguns movimentos recentes de Musk.
O que chamou mais atenção recentemente foi sua aposta em criptomoedas usando o caixa da Tesla. Em um registro protocolado junto à SEC em 8 de fevereiro, a fabricante automotiva sediada em Palo Alto, Califórnia, adquiriu US$ 1,5 bilhão em bitcoins, a fim de diversificar seu efetivo em caixa.
A Tesla também afirmou no anúncio que pretende permitir, em algum momento, que seus clientes adquiram seus carros usando a moeda digital.
Reação forte no bitcoin
Ao ingressar nesse segmento de mercado altamente especulativo, Musk colocou em jogo US$ 1,5 bilhão dos quase US$ 19 bilhões que a companhia tem em caixa, segundo seu balanço patrimonial ao final de dezembro. A fabricante de veículos elétricos levantou US$ 12 bilhões desse valor no ano passado fazendo ofertas subsequentes de ações em seu agressivo plano de expansão.
Apesar da sua recente disparada de preço, o bitcoin continua sendo um ativo altamente volátil e com um futuro imprevisível. A moeda pode subir ou cair 20% em um único dia, muitas vezes sem qualquer razão aparente.
No mês passado, a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido alertou que investir em criptoativos ou investimentos ligados a eles envolvia riscos muito elevados. “Se os consumidores investem nesses tipos de produtos, devem estar preparados para perder todo o dinheiro”, declarou o órgão regulador.
Embora os ativos digitais sejam relativamente novos, a história financeira mostra que já houve no passado o uso especulativo similar dos fundos de uma empresa industrial, e a experiência não acabou nada bem, segundo Charley Grant, colunista do Wall Street Journal, em uma matéria recente.
Um exemplo citado por Grant ocorreu há um século, quando a General Motors (NYSE:GM) (SA:GMCO34) precisou ser resgatada em razão das atividades especulativas realizadas por seu fundador William Durant no mercado de ações. Nos anos 1980, a especulação corporativa generalizada nos preços de terrenos no Japão ajudou a alimentar a bolha acionária que acabaria estourando logo depois.
Além de todas as críticas em relação ao movimento de Musk nas criptomoedas, os investidores da Tesla têm outras razões para se preocupar. Redução das margens de lucro, concorrência acirrada na China e Europa e alguns problemas de qualidade relacionados aos carros da Tesla estão entre os ventos contrários no horizonte.
No mês passado, a Tesla disse aos investidores que suas margens operacionais haviam registrado queda de 5,4% no último trimestre, uma queda de 9,2% em relação aos três meses anteriores, devido aos cortes de preços na China, custos com cadeira de suprimentos e um grande pacote de remuneração concedido ao CEO Musk e outros altos executivos.
A Tesla foi convocada recentemente pelas autoridades chinesas a responder a reclamações de qualidade e segurança em seus carros. A China é um componente crucial na história de crescimento da Tesla, já que a receita proveniente dos EUA parece ter atingido o pico, pelo menos no curto prazo.
Isso significa que o rali de cair o queixo da Tesla está chegando ao fim, após uma alta de 1.000% no valor das suas ações desde março? Alguns analistas acreditam que sim. De acordo com a RBC Capital Markets:
“Em vista da forte corrida de alta, dos resultados abaixo das expectativas, da falta de projeções para 2021 e das possíveis restrições de suprimentos, pode ser que a ação perca força. Mas os que acreditam na ação no longo prazo parecem não se importar tanto com isso”.
Seus analistas estabeleceram o preço-alvo de US$ 725 para a ação.
Resumo
Para investidores que mantiveram as ações da Tesla durante a pandemia, os resultados foram de saltar aos olhos. No entanto, isso não justifica o fato de o fundador da empresa arriscar o dinheiro dos seus acionistas em uma aposta altamente especulativa, em um segmento de mercado extremamente volátil e imprevisível. Em nossa visão, a Tesla continua sendo uma das ações mais especulativas em Wall Street. Isso, por si só, requer cautela de quem tem a ação em carteira ou faz trading com ela.