Costuma-se dizer que “quando não se espera nada, é impossível se decepcionar”.
Os investidores do ouro ficaram mais do que um pouco decepcionados depois que o Banco Central Europeu (BCE) deixou as taxas de juros inalteradas na quinta-feira.
As apostas do mercado em um corte imediato do BCE, de qualquer forma, não eram tão grandes assim, ficando um pouco acima de 50% na semana passada, e a redução da taxa, se houvesse, seria de 10 pontos-base. Por isso, as expectativas de uma flexibilização monetária imediata na zona do euro eram bastante baixas. Mesmo assim, a decisão sobre as taxas do BCE era acompanhada de perto ao redor do mundo como precursora de outra ação: um corte do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).
Situação desconfortável para os investidores do ouro
A hesitação de Mario Draghi e de seu Conselho Dirigente em agir agora sem dúvida gerou uma situação desconfortável para os investidores do ouro.
A ação do BCE não necessariamente muda a grande expectativa pelo primeiro corte de juros nos EUA em uma década, quando o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) se reunir nos dias 30 e 31 de julho.
Porém, mais importante do que o que vai acontecer na próxima quarta-feira é a expectativa do mercado quanto à ação subsequente do Fed a partir de setembro. É aqui que realmente pode haver decepção, não só para os traders do ouro, mas também para os investidores de ações que fizeram o S&P 500 e o Nasdaq Composto atingirem suas máximas históricas na quarta-feira, antes da decisão do BCE.
Os investidores estão esperando um Fed moderado demais?
O estrategista-chefe de investimentos da Blackstone, Joseph Zidle, está entre aqueles que acreditam que o mercado está esperando demais do Fed.
Zidle expressou seus pensamentos em uma entrevista à CNBC na terça-feira:
“O mercado é realmente terrível para prever a direção ou a magnitude das ações do Fed. O mercado não acerta nunca, e o Fed também não é tão bom assim em prever seu próprio caminho.”
“A marcha em direção aos 3.000 pontos no S&P 500 não está sendo impulsionada pelos balanços. Tampouco pelos fundamentos. O que está impulsionando o mercado é a liquidez baseada na esperança de que o Fed fará um corte agressivo de juros.”
Em suma, Zidle acredita que o Fed não realizará os diversos cortes na taxa de juros esperados nos próximos meses. E a decepção pode provocar um derretimento das ações a partir das máximas históricas.
Por hora, o mercado futuro dos fundos do Fed prevê uma chance de 58% de um corte de 50 pontos-base na reunião do FOMC sem setembro.
Zidle, como diversos outros analistas, espera que o Fed anuncie um corte de 25 pontos-base na quarta-feira, como um “seguro” para manter o crescimento econômico caminhando bem. Mas ele não espera muito além disso.
E ele explica por quê:
“A inflação não está nem perto de ser tão fraca quanto os mercados preveem. Grande parte dos cortes que o mercado exige do Fed se baseia nessa expectativa de inflação bastante baixa. O crescimento econômico está desacelerando, mas acredito que vamos evitar uma recessão por um longo período.”
Decisão do BCE pode antecipar ação do Fed quanto à inflação?
Para quem está preocupado, o alerta de Zidle sobre a inflação não é tão diferente daquele exposto por Mario Draghi, presidente do BCE, que insiste que o risco de recessão na zona do euro é “bastante baixo”, ao contrário das expectativas do mercado. Ele também afirmou que os formuladores da política do Conselho Dirigente não discutiram cortes na quinta-feira, apesar de terem realizado sua reunião contra o pano de fundo da atividade industrial na mínima de sete anos na Alemanha, maior economia da região.
O fato de o BCE pensar de forma tão diferente dos mercados está preocupando alguns analistas que ponderam o que o Fed dirá na quarta-feira, quando chegar sua vez.
Peter Kenny, da Kenny’s Commentary, afirmou:
“A Europa tem alguns problemas significativos com seu cenário econômico, e o comentário de Mario Draghi, do BCE, não ajuda muito."
Investidores do ouro, fortemente posicionados em US$ 1.400, aguardam movimentação do Fed
Stefan Gleason, presidente da Money Metals Exchange, observa que “não é comum” que o Fed inicie uma campanha de estímulo com o mercado de ações perto das máximas históricas, quando sua prática tradicional é esperar que o rali esfrie e que os indicadores de recessão acendam antes de aparecer para acudir.
Mas Gleason também afirma que o atual ambiente pode ser diferente: “O que parece estar motivando a moderação preventiva dos banqueiros centrais é a crença de que a inflação não só está controlada, mas baixa demais. Eles querem fazer a inflação subir, acima até da meta declarada de 2% por um longo período.”
Para os investidores do ouro, a derrapada do metal amarelo na quinta-feira – a pior desde 5 de julho – refletiu a decepção com a falta de ação do BCE. Tanto o ouro spot quanto os futuros de ouro nos EUA recuperaram parte das perdas no pregão asiático desta sexta-feira, segurando-se acima de US$ 1.416 por onça, em antecipação ao próximo movimento do Fed.
Enquanto isso, a Perspectiva Técnica Diária do Investing.com tem recomendação “neutra” para o ouro, projetando resistência a US$ 1.451 no curto prazo.