Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 19/03/2021
Os juros baixos e um enorme otimismo fizeram o S&P 500 atingir máximas recordes. Mas agora que os juros começam a subir, será necessária uma contração dos múltiplos. O mais preocupante é saber quanto esses múltiplos precisam cair, e tudo indica que é muito.
O S&P 500 está sendo negociado a quase 18 vezes as estimativas de resultados de 2023 a US$ 219,90 por ação, de acordo com dados da Refinitiv. Isso está bem acima da média histórica de 14,9 desde 2014 e indica que as expectativas de crescimento de lucros futuros são muito altas. Se o P/L voltar para a média com o tempo, o índice precisaria cair para 3.256, ou seja, 16% abaixo do seu valor em 18 de março a 3.915.
Para o múltiplo P/L do S&P 500 voltar a 14,9, seria necessário que os resultados em 2023 ou 2024 disparassem para US$ 262,41 por ação, quase 19,3% acima das atuais estimativas para 2023, e é improvável que isso aconteça. De fato, a maior parte do crescimento dos lucros deve ocorrer em 2021, subindo 25,5% para 172,07. Contudo, as projeções atuais indicam que haverá uma desaceleração no crescimento dos resultados em 2022 para 15,2% e 11% em 2023.
Dessa forma, o crescimento dos lucros precisaria acelerar mais de 32,4% em 2023. Desde 1985, só tivemos dois períodos em que os resultados cresceram mais de 30%: 1989 e 2011-2012. Parece-nos pouco provável que os lucros em 2023 crescerão mais de 30%. Seria necessária uma alta de 19,2% em 2024 para alcançar US$ 262,41. Após dois anos seguidos de crescimento em desaceleração, parece algo difícil de se realizar.
Isso não significa que o múltiplo P/L do S&P 500 deve recuar tanto até atingir 14,9 vezes a estimativa de lucro futuro de 2 anos. Mas nos diz quanto do crescimento dos resultados já foi precificado no mercado. Também sugere que as expectativas do mercado são muito maiores do que o consenso dos analistas.
Os juros baixos também têm grande influência no valuation do S&P 500, o que dificulta ainda mais a quantificação. Porém, mesmo considerando os juros menores, o S&P 500 não deixa de estar supervalorizado.
Usar as estimativas prospectivas de 18 meses para avaliar o retorno (earnings yield) do S&P 500 é uma forma de medir o valuation com base nas taxas de juros. O índice tem atualmente tem um earnings yield com prêmio de 3,2% sobre a nota de 10 anos do tesouro americano, com base nas estimativas prospectivas de lucro de 18 meses. A última vez em que esses níveis ficaram tão baixos foi em janeiro e outubro de 2018.
Agora, com a alta dos rendimentos dos treasuries ao longo de toda a curva, o índice começará a ser pressionado, comprimindo os múltiplos e elevando o earnings yield. A última vez em que a nota de 10 anos foi negociada com um rendimento de cerca de 1,75%, o retorno do S&P 500 era de quase 5,7%. Ou seja, 85 pontos-base acima do atual retorno do S&P 500 de 4,85%. Isso faria o P/L do S&P 500 PE cair de 20,6 para 17,5, valorando o índice a 3.374 com base nas estimativas de lucro prospectivo de 18 meses a US$ 192,82.
Parece-nos claro que as expectativas de crescimento de lucros futuros no S&P 500 estão muito altas. Considere esse cenário com os juros menores que ajudaram a expandir drasticamente os múltiplos de resultados do S&P 500. Isso nos leva a crer que a alta dos juros comprimirá esses múltiplos na forma da queda dos preços.