Chama atenção nos últimos dias a decolada que deram as ações da Tesla (NASDAQ:TSLA) e ações ligadas ao setor de tecnologia, tanto nos EUA quanto no Brasil. No início do ano, as ações da Tesla estavam sendo negociadas a US$ 430, e agora estão a US$ 1.544, ou seja, uma alta de 259% apenas em 2020, e em ano de pandemia.
Uma das premissas de investidores em valor ou investidores que procuram investir com uma razoável margem de segurança é que as cotações das ações devem acompanhar o lucro ou, na minha visão, o caixa gerado por essas companhias. Muitas vezes, o lucro pode advir de um lucro contábil, algo não operacional, como reavaliação de propriedades que não são o core business da empresa investida e que vem sendo muito comum em algumas empresas da bolsa brasileira.
No exemplo da Tesla, nos últimos dois trimestres ela começou a gerar lucro e, mesmo assim, foram cerca de US$ 16 milhões, ou US$ 0,09 (sim, 9 centavos) por ação, que está sendo negociada a US$ 1.544, ou um price-earnings (preço dividido pelo lucro anualizado) de 4.289 vezes!!!!!! Lembro que, no quarto trimestre de 2019, os ganhos foram de US$ 105 milhões de lucro líquido, ou US$ 0,56.
Corrobora com isso que venho falando a questão de a Tesla valer hoje US$ 260 bilhões, possuindo um valor de mercado maior que GM, Ford, Fiat Chrysler, Honda, Daimler e Ferrari JUNTAS!
No último ano, as receitas dos outros produtores de automóveis foi de US$ 731 bilhões, contra US$ 26 bilhões da Tesla, ou seja, 27x a menos!!! O que o mercado vem precificando é um crescimento gigantesco para Tesla nos próximos anos e provavelmente fontes de receita fora do negócio principal, quem sabe algo também relacionado à Solar City (sim, a Tesla é dona de uma empresa de telhas fotovoltaicas, que geram energia a partir da luz solar).
Por morar aqui na Flórida, vejo amigos com desejo de ter um Tesla e alguns até compraram, até pela questão de leasing, em que você paga cerca de 20%-40% do carro em 2-3 anos para uma empresa que é responsável pela manutenção do carro. Após esse período, o carro retorna para as mãos de quem o alugou. O ponto positivo disso é que pode ser utilizado como despesas em uma empresa, diminuindo o pagamento de impostos, tudo de uma maneira correta e honesta.
Acredito que todo esse movimento, seja devido ao aumento de número de investidores pessoa física e aos hobinhooders, pessoa física que negocia ações via o aplicativo Hobinhood, de corretagem grátis, mas que vende a ciência das compras e vendas para investidores maiores, de grande parte os investidores profissionais.
Esse movimento que tem acontecido com ações de Tesla vem acontecendo com outras empresas tech e empresas de crescimento que estão nas máximas históricas e com um peso gigante, um dos maiores da história na composição do S&P 500, como podemos ver abaixo, enquanto que ações de empresas cíclicas e de setores considerados investimento em valor, como bancos e setor financeiro, indústria, energia e consumo discricionário, estão nos patamares mais baixos. Lembro que investir é olhar para frente, imaginando o que pode acontecer com a empresa daqui para o futuro, baseando-se no que ocorreu no passado, porém o que vem acontecendo é uma valorização em patamares históricos de empresas de crescimento e aqui faço meu alerta e cautela. O melhor investimento é aquele quando poucos querem, poucos prestam atenção, feito também em um timing correto!
No quadro abaixo, podemos ver o retorno anualizado nos últimos anos de empresas global commodities, ou empresas de commodities, mercados emergentes que tiveram um dos maiores riscos (medido pelo desvio padrão) e retornos no passado que não corresponderam ao risco incorrido. Lembro que empresas que não andaram bem no passado podem andar bem no futuro, pois têm grande possibilidade de estarem com desconto e é nisso que pessoalmente acredito em meus investimentos.
Muitos comentam que as ações poderiam estar negociadas a patamares altíssimos, os maiores da história, mas o fato é que ainda não batemos os múltiplos da bolha.com, como podemos ver abaixo:
Venho acompanhando alguns youtubers, muito deles meus amigos e que são geradores de opinião. Acredito que eles fazem um ótimo trabalho de educação financeira, mas a carteira deles normalmente é de ativos linkados ao crescimento. Muitos gostam de ações como Weg (SA:WEGE3), B2W (SA:BTOW3), Magazine Luiza (SA:MGLU3) e Tesla, e convém alertar que essas empresas podem ter atingido patamares acima de uma margem de segurança adequada de investimento.
Quem é investidor há mais tempo sabe que é o cachorro que balança o rabo, e não o contrário. Falo isso acerca dos lucros e geração de caixa atual e futura que fazem com que o preço de ação caia ou suba e que, muitas vezes, a maioria é pouco inteligente e emocional e uma das características de grandes investidores é filtrar a opinião alheia, servindo-se dessa “bipolaridade” do mercado, que às vezes é muito otimista e outras muito negativista com alguns setores. Olhando o quadro abaixo, será que o mercado não está sendo muito negativista com setores mais tradicionais da economia? Note as mudanças de expectativas entre 31-12-2019 e 30-06-2020.
Não há dúvidas que investir em empresas tech foi uma das melhores estratégias dos últimos anos, mas será que o futuro para o investidor se manterá assim?
Descolamento da economia real e do mercado: desemprego nos EUA continua no pico
Nos últimos dias tivemos uma melhora na taxa de desemprego nos EUA, surpreendendo aqueles que apostavam contra isso e lembrando a frase que ficou marcada por Warren Buffett, no encontro anual de acionistas Berkshire: “Never bet against America (EUA)”. Mesmo assim, com toda a recuperação do mercado de trabalho, o número de desempregados ainda é acima das crises anteriores (atualmente estamos com 11,1% e alguns contestam esse número):
- 2007-09: 10.0%
- 2001: 6.3%
- 1990-1991: 7.8%
- 1981-1982: 10.8%
- 1973-75: 9.0%
- 1969-70: 6.1%
- 1960-61: 7.1%
- 1957-58: 7.5%
- 1953-54: 6.1%
- 1948-49: 7.9%
Fico por aqui!
Era isso!!
Um grande abraço