Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- Décadas de paz: Ascensão econômica da Rússia levou a um jogo político
- Guerra na Ucrânia muda dinâmica das relações internacionais
- Europa se armará, EUA aumentarão orçamento militar
- Um mercado acionário fraco
- Ações de defesa vivem bom momento
Em novembro de 1989, a queda do muro de Berlim marcou o fim do comunismo na Europa Oriental e Central. A Guerra Fria oficialmente se encerrou com a Cúpula de Malta e a reunificação da Alemanha em outubro de 1990.
Com o fim da Guerra Fria, um agente russo da KGB na Alemanha Oriental retornou para Leningrado, atual São Petersburgo. Esse agente era Vladimir Putin, atual presidente da Federação Russa e que recentemente disse que o colapso do império soviético foi a “maior catástrofe geopolítica do século”.
Suas ações nos últimos anos mostram que ele está determinar a fazer da Rússia uma proeminente força no mundo. Ele aumentou sua esfera de influência, aliando-se à Síria e ao Irã, bem como ao cartel produtor de petróleo. Mais recentemente, virou o melhor amigo do mundo da China.
Nos Jogos Olímpicos de Pequim, Putin e o presidente chinês, Xi Jinping, concordaram em selar um acordo comercial de US$117 bilhões e estabelecer um apoio mútuo “sem limites”. No dia 4 de fevereiro, a reunião entre os dois líderes acabou se tornando um divisor de águas, ensejando a invasão russa na Ucrânia menos de um mês depois, em 24 de fevereiro.
Fevereiro de 2022 entrará para a história como o mês em que o mundo começou a se armar e as tensões voltaram a atingir os níveis da Guerra Fria.
Décadas de paz: Ascensão econômica da Rússia levou a um jogo político
Antes da Revolução Russa de 1917, Vladimir Lenin, vivendo no exílio, escreveu:
“Há décadas em que nada acontece, é há semanas em que décadas acontecem.”
Ainda que as últimas três décadas não tenham sido totalmente tranquilas para a Rússia, em vista das ações na Crimeia, Síria e outras regiões, nada se compara à sua invasão na Ucrânia, que torna a frase de Lenin profética.
Putin não considera que a Ucrânia seja um país, mas parte da Rússia ocidental. A Ucrânia, os EUA, a Europa e seus aliados acreditam que o país do Leste Europeu seja soberano e que tem o direito de determinar seu próprio futuro. A Rússia opõe-se à expansão da Otan na Europa. O desacordo atingiu seu auge quando tropas russas invadiram a Ucrânia, dando início ao primeiro grande conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Como a Rússia é uma das principais produtoras de commodities, a alta dos preços e o influxo de empresas americanas, europeias e asiáticas na Rússia elevou drasticamente seu padrão de vida em comparação com a época da URSS. A participação da Rússia na política de produção do cartel petrolífero internacional fez com que Putin se tornasse uma das mais importantes vozes no mercado mundial de petróleo, ao lado da Arábia Saudita. Ele tem apoio doméstico, já que melhorou as condições de vida no país, expandiu a classe média e elevou a posição da Rússia no cenário mundial.
Putin passou anos cimentando sua liderança, controlando a imprensa, reunindo um vasto grupo de oligarcas megarricos e eliminando quaisquer desafios ao seu predomínio político. As eleições na Rússia são como as partidas de hockey que ele disputa, nas quais marca sete ou mais gols, já que nenhum jogador seria tolo o bastante para opor-lhe resistência.
A ascensão econômica da Rússia, a popularidade de Putin e seu desejo de continuar expandindo a posição mundial do seu país acabou gerando um desafio ao Ocidente. A invasão na Ucrânia é um grande jogo do líder russo, mas ele toma como certo que tem um parceiro em Pequim.
Guerra na Ucrânia muda dinâmica das relações internacionais
Nas últimas semanas, a dinâmica de poder no mundo bifurcou-se em dois blocos. China, Rússia, Coreia do Norte, Irã e outros países aliados ocupam um lado da divisão ideológica. Os EUA, Europa, Reino Unido, Canadá, Austrália, Coreia do Sul, Japão e outros aliados situam-se do lado oposto.
A China e a Rússia viram fraqueza nos EUA e Europa e decidiram realizar um movimento para mudar o cenário geopolítico a seu favor. Em discursos feitos no fim de 2021, o líder russo disse que o Ocidente estava se destruindo por causa da política “woke”. Em 2021, o presidente Xi fez distinções entre a cultura americana e a chinesa.
Antes da aliança de cooperação “sem limites”, os líderes da China e da Rússia usaram as diferenças culturais como armas ideológicas contra a economia líder mundial, os EUA.
Europa se armará, EUA aumentarão orçamento militar
A guerra na Ucrânia é a primeira rejeição da influência dos EUA e possui consequências de amplo espectro. A bifurcação do globalismo está gerando um aumento do armamentismo Os últimos sintomas são a decisão da Alemanha e do Japão de atualizar suas forças. Na semana passada, a Coreia do Norte testou um novo míssil balístico intercontinental. Os EUA chamaram o teste de uma “grave escalada”.
O fato é que a bifurcação do mundo em duas esferas globalistas ideológicas provocará um drástico aumento dos gastos militares.
Um mercado acionário fraco
Na semana passada, o escritório de estatísticas trabalhistas dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor subiu em fevereiro, para 7,9%, maior aceleração em quatro décadas. O governo Biden culpou a invasão da Rússia na Ucrânia pelas altas de preços. No entanto, a guerra só começou no fim de fevereiro, portanto seu atual impacto nos preços não apareceu nos dados do mês passado. As sanções, proibições de exportações e outros eventos econômicos ainda não constam dos índices de preços ao consumidor e ao produtor. O impacto da guerra sobre a economia global continuará provocando altas de preços nos EUA e na Europa.
Ao mesmo tempo, a Rússia é um “supermercado” de matérias-primas, e a China é a sua maior consumidora. O acordo de 4 de fevereiro pode tornar as sanções sem efeito, já que a Rússia e a China se beneficiam da cooperação, e a Rússia provavelmente venderá para a China suas commodities a preços descontados.
A alta da inflação e a guerra estão pesando sobre o mercado acionário dos EUA. O índice amplo S&P 500 tocou sua máxima histórica em 5 de janeiro, a 4.818,62.
Fonte: Barchart
Em 14 de março, o índice estava no nível de 4.226,09, uma queda de 12,3% em relação à máxima. A volatilidade das ações aumentou, e a tendência tem sido de baixa, com o S&P 500 registrando máximas e mínimas descendentes desde o pico recorde.
Ações de defesa vivem bom momento
Os investidores têm adotado uma postura defensiva. O cenário geopolítico está provocando o aumento dos gastos militares. As ações de defesa deve se beneficiar dessa mudança, e as líderes estão tendo melhor desempenho que o mercado mais amplo em 2022.
Fonte: Barchart
A General Dynamics (NYSE:NYSE:GD) (SA:GDBR34)subiu de US$208,47 no fim de 2021 para US$233,77 em 14 de março, uma alta de 12,1%.
Fonte: Barchart
A Northrop Grumman Corporation (NYSE:NYSE:NOC) (SA:NOCG34)saiu de US$387,07 para US$437,39, uma alta de 13%, no mesmo período.
Fonte: Barchart
A Raytheon Technologies (NYSE:RTX) (SA:RYTT34) disparou de US$86,06 em 31 de dezembro para US$96,40 em 14 de março, uma alta de 12%.
Os mercados são um reflexo do cenário político e econômico. As empresas que fabricam equipamentos militares devem lucrar com o aumento dos gastos militares, diante do aumento dos orçamentos dos EUA, Europa e outros países ocidentais para fortalecer seus exércitos.
A Guerra Fria terminou quando o muro de Berlim caiu, mas está de volta em 2022. As ações de defesa podem ser as ferramentas mais defensivas para investidores circunavegando o perigoso mercado acionário, com a inflação e a guerra atuando como um potente coquetel baixista para muitos papéis.