Enquanto 2021 fez sua despedida, mas a curva de juros de 2 e 10 vem tem se achatando. E ela só deve piorar em 2022, à medida que a ponta curta da curva sobe enquanto a ponta de longo prazo cai.
Há duas forças opostas em jogo: de um lado da equação está o Federal Reserve (Fed), e do outro, um mundo com juros baixos e preocupações de crescimento. Com estas dinâmicas ocorrendo em paralelo, muita confusão será gerada nos mercado em relação ao que uma curva mais chata pode representar.
Ela pode acabar se revelando uma distorção.
O rendimento do Tesouro de 2 anos aumentou acentuadamente nos últimos meses, à medida que as expectativas crescem em torno do início do aperto da política monetária pelo Fed, em resposta às elevadas taxas de inflação. O rendimento do Tesouro dos EUA de 2 anos foi negociado a cerca de 75 bps em 29 de dezembro, contra aproximadamente 14 bps em março. Enquanto isso, o rendimento do Tesouro dos EUA de 10 anos está atualmente sendo negociado a cerca de 1,54%, um valor inferior à sua máxima de 1,76% de março. Isto levou o spread entre o Tesouro de 10 anos e o de 2 anos para 78 bps, em relação a aproximadamente 1,6% em março.
Taxas de curto prazo em alta
As taxas de curto prazo estão aumentando devido às expectativas de que o Fed inicie a escalada das taxas de juros já em março de 2022, com o Fed Fund Futures para março negociando a 17,5 bps. Enquanto isso, o Fed Funds Futures de dezembro aponta para três aumentos dos juros e está sendo negociado atualmente a 78,5 bps.
Se a taxa do Fed Fund ficar mais alta como os futuros indicam, o Tesouro de 2 anos terá de aumentar dramaticamente em relação aos seus níveis atuais, forçando a frente da curva para cima.
Ao mesmo tempo, a ponta longa vem caindo, o que surpreendeu muitos investidores, apesar das taxas de inflação terem atingido os níveis mais altos em várias décadas. As taxas em declínio podem ser o resultado de um mercado que acredita que o Fed terá de realizar um aperto agressivo, causando uma recessão, ou que as altas taxas de inflação irão causar uma recessão.
Em qualquer um dos casos, parece que o mercado está preocupado com uma recessão no futuro.
Rendimentos globais tornam as taxas dos EUA atrativas
Outro fator que alimenta essas preocupações pode ser o modo como os investidores internacionais veem as taxas nos EUA, que são muito atrativas em comparação com várias outras obrigações soberanas. Por exemplo, um bund alemão de 10 anos rende -17 bps, o que significa que o Tesouro de 10 anos dos EUA está 1,7% mais alto.
Assim, se o spread entre as taxas dos EUA e as taxas de outras partes do mundo aumentar, atrairá mais compradores de dívida dos EUA, suprimindo a ponta de longo prazo da curva de juros.
Curva ainda mais plana
No geral, isto significa que a curva de juros poderia se achatar ainda mais. Os gráficos técnicos sugerem que um declínio na curva poderia acontecer, com o potencial de cair para até 50 bps.
O spread de 10-2 anos tem flutuado em torno de 80 bps por vários dias de negociação e parece estar formando um padrão de bandeira de baixa. A próxima área de suporte pode não chegar até os 50 bps, caso o spread diminuísse.
Isso poderia resultar num cenário em que o rendimento de 2 anos suba para cerca de 1%, enquanto o rendimento de 10 anos permanece em torno destes 1,5%. Esse fato certamente realizaria a tarefa de achatar a curva, sendo que, com base de onde os Fed Fund Futures se encontrarem para 2022, uma movimentação para 1% no Tesouro de 2 anos não seria muito difícil.
A curva mais chata levará a muita especulação sobre o que o mercado de títulos está sinalizando aos investidores; talvez uma recessão ou talvez apenas uma distorção motivada pelo mercado, causada por nada além do que os investidores internacionais famintos pelos rendimentos dos EUA.
De qualquer forma, quanto mais chata for a curva, mais atenção ela receberá. E, pelo menos inicialmente, os mercados certamente irão reagir como sempre reagiram no passado.