A volta do maior (único) propulsor dos mercados
A bolsa brasileira vem da maior alta do ano na última sexta-feira. Hoje os mercados estendem os ganhos de forma expressiva.
O fundo do poço chegou?
O ajuste fiscal saiu da caixa?
Já sei: temos um novo governo, com Lula e o baixo clero do PMDB!
Menos, menos...
Temos, na realidade, a volta do principal combustível dos mercados nos últimos 8 anos:
Explico...
A causa e a solução de todos os problemas
A linha azul no gráfico acima representa o índice S&P 500, principal referência para os ativos de risco dos EUA.
A linha verde marca o balanço do Federal Reserve, ou, as injeções de estímulo pelo Banco Central americano.
Com o final do Quantitative Easing 3 (QE3), o terceiro programa de estímulos americano, os mercados viram-se no limbo: sem novas injeções de liquidez e diante da iminente subida dos juros no EUA.
Ou seja, a linha pontilhada preta representa um alerta de fim de festa.
Na sexta-feira, porém, veio o alento.
Os dados do mercado de trabalho americano decepcionaram bastante.
Com isso, cresceram as apostas de que o Federal Reserve deve esperar mais para subir os juros e adiar um pouco mais a ressaca.
E por enquanto vamos alimentando essa bolha... depois lidamos com esse probleminha de 12 trilhões de dólares criado pelos Bancos Centrais globais (& contando).
Mardi Gras? É Carnaval!
Poxa, mas como explicar reflexos tão efusivos sobre os ativos brasileiros?
Primeiro, pelo motivo óbvio de que o grosso do nosso fluxo é gringo, responsável por mais da metade dos movimentos de compra e venda no mercado brasileiro.
Com o dólar a R$ 4 e a bolsa em dólares abaixo do piso da crise 2008, um tanto melhor para o gringo...
Segundo, mas não menos importante, que somos um dos grandes betas mundiais. Ou, economia altamente sensível a choques externos, baseada em commodities e de moeda exótica.
Você pode acreditar nesses argumentos, ou que a volta do Mercadante à Educação é um divisor de águas.
A propósito, com a reforma a Dilma passa ter 31 ministérios, equivalente ao número de Obama e Merkel, somados.
Para não perder o costume...
Hoje tivemos novamente suspensão dos negócios no Tesouro Direto por conta da volatilidade das taxas de juros.
Com isso, são 12 paralisações ou suspensões de negociação nos últimos 13 dias.
Tenho falado que, além do Carnaval, o Brasil oferece hoje o último peru com farofa fora do Dia de Ação do Graças.
Ou, juros da ordem de 17% ao ano com perfil de risco soberano, em um mundo de juros zerados.
Isso tem alimentado uma série de perguntas dos leitores, do tipo:
“Explica uma coisa pra mim: porque vcs indicam título do tesouro se tem banco médio pagando 18% a.a. e 125% do cdi?”
Respondo: se a ideia é deixar o grosso do seu patrimônio livre de risco, ou o mais próximo disso possível, por que se expor a risco de banco médio para ganhar uma migalha a mais?
Fosse diferente, Cruzeiro do Sul, Banco Rural, BVA, Panamaericano não teriam quebrado nos últimos anos, e o Indusval (SA:IDVL4) não teria recém feito aumento de capital...
“Aaa, mas o FGC garante!”
Garante.
Mas garantia tem limite (até R$ 250 mil) e envolve uma burocracia/prazo até você ver a cor desse dinheiro.
E lembrando que entre a liquidação do banco pelo BC e o recebimento na prática desse dinheiro, o que geralmente dura alguns meses, os 18% do nosso amigo ali viram 0%.