Com a chegada do Dia da Eleição nos EUA, os mercados se preparam para um possível aumento da volatilidade. Historicamente, o mercado de ações pode reagir de forma imprevisível aos resultados eleitorais, especialmente quando o desfecho é incerto ou contestado. Em eleições anteriores, mudanças repentinas nas políticas, incertezas políticas ou resultados controversos elevaram a volatilidade—fazendo com que seja essencial preparar o portfólio agora para enfrentar o que o dia possa trazer.
O índice S&P 500 registrou, em média, um ganho de 7% em anos de eleições presidenciais nos EUA desde 1952. Embora esse retorno esteja longe de ser negativo, ele é bem inferior ao ganho de 22% registrado até agora neste ano. Vale lembrar que desempenho passado não garante retornos futuros, e desde 1952 ocorreram apenas 18 eleições presidenciais.
Este ano, particularmente, destaca-se como o melhor para o mercado de ações em um ano eleitoral no século XXI, mesmo com o risco de turbulências pós-eleitorais, dados os profundos desentendimentos políticos no país. Assim, pode ser prudente que os investidores foquem em anos anteriores em que o resultado das eleições foi contestado.
Eleição de 2000: Bush vs. Gore
Disputa: A eleição de 2000 é o exemplo moderno mais conhecido de um desfecho contestado. O resultado dependeu da contagem de votos na Flórida, o que desencadeou uma batalha judicial até que a Suprema Corte dos EUA a resolvesse em 12 de dezembro de 2000.
Reação do mercado:
- Queda inicial: o S&P 500 recuou cerca de 5% no mês seguinte ao Dia da Eleição (7 de novembro), com a incerteza aumentando devido aos processos legais e recontagens.
- Aumento da volatilidade: o índice VIX (Índice de Volatilidade) disparou, refletindo o temor crescente entre os investidores.
- Desempenho no fim do ano: ao final do ano, o mercado permaneceu contido, refletindo preocupações com uma economia em desaceleração, que acabou entrando em recessão em 2001.
Eleição de 2016: Trump vs. Clinton
Volatilidade na noite da eleição: embora a eleição de 2016 não tenha resultado em disputa legal, a vitória inesperada de Trump gerou pânico no mercado futuro durante a madrugada.
Reação do mercado:
- Queda nos futuros: os contratos futuros do Dow Jones Industrial Average caíram mais de 800 pontos durante a noite, refletindo a incerteza dos investidores quanto ao desfecho inesperado. Contudo, o mercado rapidamente inverteu a direção, reagindo positivamente a expectativas de cortes de impostos e desregulamentação. No dia seguinte, os mercados subiram expressivamente.
Eleição de 2020: Biden vs. Trump
Disputa: a eleição de 2020 gerou preocupações em torno de votos por correio, atrasos nos resultados e desafios legais, principalmente nos estados-pêndulo. A incerteza afetou as perspectivas do mercado.
Reação do mercado:
- Volatilidade inicial: o S&P 500 subiu levemente na semana após o Dia da Eleição, em antecipação a pacotes de estímulo independentemente do vencedor.
- Picos de volatilidade: o VIX permaneceu elevado ao longo de novembro, refletindo a incerteza contínua sobre processos judiciais e recontagens nos estados decisivos.
- Rali em dezembro: quando os resultados se consolidaram, os mercados subiram até o final do ano, apoiados pelo otimismo em relação ao início da vacinação e novos estímulos fiscais.
Os investidores enfrentam um risco elevado de aumento acentuado da volatilidade após a eleição caso surjam conflitos entre os partidos. Esse cenário se torna ainda mais provável caso a eleição seja acirrada e Donald Trump vença no colégio eleitoral. Nesse caso, a vice-presidente Kamala Harris precisaria certificar a eleição, o que eleva a possibilidade de atrasos. Atualmente, os investidores estão com posições longas em ações, o que abre espaço para uma reversão de baixa caso “algo aconteça”.
Curiosamente, traders também estão fortemente posicionados no índice de volatilidade. Em períodos anteriores, isso ocorreu em cenários de queda ou correção no mercado de ações. É incomum, e até sem precedentes, que tal posicionamento ocorra com as ações próximas das máximas históricas.
Investidores devem se preparar para oscilações em um cenário de incerteza eleitoral
Dia da Eleição e possível volatilidade: o que esperar
Com o aumento no fluxo de eleitores às urnas hoje, surgem alertas de que estados-chave podem demorar dias para reportar os resultados. Segundo o Yahoo News:
"Para esta eleição, alguns estados-pêndulo, como Nevada e Michigan, implementaram novas leis para acelerar a contagem dos votos. Já outros, como os decisivos Pensilvânia e Wisconsin, ainda não permitem a contagem de votos antecipados e por correio antes do Dia da Eleição—o que pode prolongar o processo de apuração em uma eleição presidencial tão acirrada."
Esse atraso na definição do resultado eleitoral pode elevar a volatilidade do mercado no curto prazo. Historicamente, o mercado tem mostrado desempenho relativamente estável, apesar de incertezas momentâneas. As ações geralmente caem no dia seguinte à eleição, com dados históricos indicando que o S&P 500 recua em média 0,66% após o Dia da Eleição.
Essa reação reflete a decepção quando o resultado não corresponde às expectativas e a incerteza sobre a direção das políticas do novo governo. No entanto, os mercados tendem a se recuperar em dezembro, com o S&P 500 mostrando ganhos em cerca de 61% dos anos eleitorais, embora esses ganhos sejam mais baixos em comparação a anos sem eleição, com aumentos médios abaixo de 1%.
Um risco a se considerar é uma eleição contestada. Eleições disputadas, como em 2000 e 2020, historicamente prolongaram a volatilidade. Após a disputa entre Bush e Gore em 2000, o S&P 500 caiu 5% no mês seguinte, à medida que o impasse legal se arrastava. Em 2020, a contagem de votos atrasada e os desafios jurídicos mantiveram os investidores cautelosos durante semanas.
Embora a eleição presidencial seja importante, os mercados estão atentos também às corridas para o Senado e a Câmara. O mercado financeiro prefere um "bloqueio" no Congresso; assim, uma divisão de controle entre Senado e Câmara, independentemente do resultado presidencial, pode aliviar preocupações sobre políticas que possam afetar o crescimento econômico.
Treasuries como proteção essencial
Investidores devem considerar o uso de títulos do Tesouro americano (Treasuries) para proteger suas carteiras. Em uma eleição contestada, esses ativos podem funcionar como um "refúgio seguro" caso um resultado inesperado desencadeie uma liquidação de ações. Historicamente, títulos têm um bom desempenho tanto em ciclos de corte de taxas do Federal Reserve quanto em momentos de incerteza elevada.
Em ciclos eleitorais anteriores com cortes de taxas, como em 2008 e 2020, os títulos do Tesouro foram beneficiados, pois investidores buscaram ativos seguros em meio à instabilidade. Taxas mais baixas reduzem os rendimentos dos títulos, mas elevam seus preços, tornando-os atraentes em cenários voláteis.
Além disso, as opções de futuros de títulos do Tesouro mostram um viés marcante, enquanto, conforme mencionado, os traders mantêm posições longas expressivas em ações. Se o resultado da eleição de hoje for contestado ou demorado, os títulos do Tesouro podem valorizar-se conforme os investidores busquem alternativas às ações.
Em 2000, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos caíram consistentemente ao longo do período de disputa eleitoral, refletindo a crescente demanda por ativos seguros. Embora não estejamos sugerindo que o mesmo ocorra, a possibilidade de um resultado eleitoral inesperado torna favorável o uso de títulos do Tesouro como proteção de carteira.
Movimentos estratégicos para a carteira
Em nossa visão, investidores devem se preparar para uma possível volatilidade enquanto aguardam o fechamento das urnas na noite de terça-feira, especialmente considerando o potencial para um resultado contestado. A experiência histórica mostra que mercados enfrentam dificuldades em eleições disputadas, como em 2000 e 2020, o que provoca vendas e alta volatilidade conforme os desafios legais se desenrolam.
Se o resultado eleitoral permanecer incerto ou surgirem disputas judiciais, setores vinculados a mudanças de políticas podem passar por oscilações abruptas. Além disso, a decisão de corte de taxa do Federal Reserve, prevista para amanhã, pode intensificar a incerteza, tornando atrativos ativos defensivos como os títulos do Tesouro.
Assim, considerando o potencial de volatilidade, aqui estão estratégias para proteger sua carteira nesta terça-feira e nos próximos dias:
- Ajuste stop-loss para os níveis de suporte atuais de cada posição.
- Proteja a carteira contra quedas intensas no mercado.
- Realize lucros em posições com grandes ganhos.
- Venda posições fracas ou perdedoras.
- Aumente o caixa e reequilibre a carteira para os pesos-alvo.
Embora já tenhamos discutido essas regras ao longo das últimas semanas, reiteramos a importância de reequilibrar o risco, especialmente se há exposição elevada a ações.
Mantenha os movimentos pequenos neste momento. À medida que o mercado sinalizar sua próxima direção, ajustaremos conforme necessário.
Considerações finais
Teremos um novo presidente na quarta-feira? Talvez sim, talvez não. O mais importante é que o controle do Senado e da Câmara determinará a capacidade do próximo presidente de implementar políticas. Como o mercado reagirá? O que o Federal Reserve fará a seguir?
Infelizmente, nem eu nem ninguém pode prever como esses eventos se desenrolarão. Em breve teremos respostas para essas questões, e precisaremos lidar com a resposta do mercado. Sabemos que o mercado frequentemente reage de forma contrária ao esperado. Recomendamos manter flexibilidade, aumentar o caixa e proteger as posições atuais.
Lembre-se: devemos sempre levar o guarda-chuva se o tempo fechar. Não tente procurar um depois que a tempestade começar.