Por Clement Thibault
Coca-Cola vs Pepsi 2.0
No começo do ano passado, nós fizemos uma análise comparativa entre a Coca-Cola (NYSE:KO) e a PepsiCo (NYSE:PEP). Naquele momento, tentamos entender qual seria o melhor investimento. Nossa análise foi bem conclusiva – determinamos que para o cenário de 2016 a aposta na PepsiCo era mais segura e tinha um potencial melhor.
Em retrospectiva, nós acreditamos que fizemos o call certo. Enquanto a ação da PepsiCo subiu de US$ 97 para US$ 116, +16%, a da Coca-Cola só subiu 1,5% no mesmo período, de US$ 42,50 para US$ 43.
A Coca-Cola vai publicar os resultados do primeiro trimestre de 2015 amanhã (25/4), antes da abertura do mercado. A expectativa é que a companhia divulgue receita de US$ 8,9 bilhões e lucro por ação de US$ 0,44.
A PepsiCo vai apresentar seus resultados no dia seguinte, quarta-feira (26/4), antes da sessão. Wall Street aposta em US$ 11,9 bilhões em receita e lucro por ação de US$ 0,90.
1) Resultados de 2016
As receitas da PepsiCo ficaram estáveis no ano (US$ 63 bilhões em 2015 e US$ 62,7 bilhões em 2016), mas isso não é tão ruim quanto parece. Os dois maiores segmentos da companhia, North America Beverages (NAB) e Frito-Lay North America (FLNA) cresceram 3% e 5%, respectivamente. Juntas, as duas áreas correspondem a 58% da receita total da PepsiCo (34% NAD e 24% FLNA), então há crescimento.
O maior impacto negativo foi sentido na América Latina, onde as receitas da PepsiCo encolheram 17%, ou US$ 2,6 bilhões, resultado direto da apreciação do dólar (-11%) e da crise venezuelana (-14%). Contudo, as marcas da PepsiCo ainda estão performando bem no resto da região e globalmente, com 9% de crescimento orgânico na LatAm e 4% de crescimento orgânico no mundo. Os números-chave, no entanto, são: 17% de crescimento no lucro operacional e 2,3% na margem operacional, impactados pela maior eficiência e os custos de impairment na Venezuela ao longo de 2016.
As receitas da Coca-Cola caíram 5% em 2016 (US$ 44 bilhões em 2015 para US$ 42 bilhões em 2016). Não é surpreendente que o comportamento seja similar ao da PepsiCo. As receitas da Coca-Cola na América do Norte subiram 4%, mas a restruturação e os efeitos do câmbio tiveram um impacto mais forte e pressionaram as receitas da companhia. Organicamente, as receitas globais da Coca-Cola subiram 3% em 2016, mas as decisões estratégicas de desinvestimento nas operações de envase tiveram impacto significativo, derrubando as receitas em cerca de US$ 3 bilhões.
Outro ponto importante a se destacar é a divisão 52/48 das receitas da Coca-Cola com a maior parte fora dos EUA, enquanto a da PepsiCo é repartida em 58/42 sendo o mercado norte-americano o mais significativo. Se, por um lado, isso poderá ser uma vantagem futura de crescimento para a Coca-Cola, essa divisão atual tem um resultado pior – ao menos enquanto o dólar permanecer forte.
2) Dividendos
No ano passado, os dividendos da Coca-Cola e da PepsiCo foram praticamente idênticos, o que não se repetirá neste ano. No momento que escrevemos o artigo no ano passado, o yield da Coca-Cola era de 3,07% e o da PepsiCo correspondia a 2,84%. A variações nos preços das ações e o crescimento dos dividendos, no entanto, aumentaram o diferença entre as duas empresas nesta métrica.
Atualmente, o yield da Coca-Cola é de 3,25% e o da PepsiCo caiu para 2,65%. Na prática, o gap de rendimento entre as duas dobrou.
Os dois dividendos são bem seguros. A proporção do lucro que é distribuída em dividendos (payout ratio) da Coca-Cola é de 92%, já o da PepsiCo é de 67%. Não se preocupe com essa diferença, as duas companhias fazem parte do Dividend Aristocrats, grupo das companhias do S&P 500 que consistentemente pagam e aumentam seus dividendos por mais de 25 anos. A PepsiCo tem elevado seus dividendos nos últimos 44 anos e a Coca-Cola, nos últimos 54 anos.
3) Cenário de longo prazo
As duas companhias têm capacidade de gestão e estão em boas mãos. As duas estão conscientes da tendência de consumo mais saudável e têm aumentado os esforços para oferecer novos produtos nessa linha, como a Fairlife da Coca-Cola, bebida diária saudável. Ou a Tropicana Probiotics da PepsiCo, infusão de suco com culturas probióticas ativas. As duas também têm a expectativa de continuar aumentando sua geração de receita tanto em dólar nos EUA, quanto a orgânica no mundo.
Uma única preocupação vem da estratégia da Coca-Cola de desinvestimento nas operações de envase, que seguirá ao longo de 2017. Esse negócio representa mais de 40% da receita da companhia, mas o objetivo é se distanciar das operações com menores margens, indústria capital intensiva, envase e negócios de distribuição, para poder focar na sua área central de bebidas concentradas, que é muito mais lucrativa.
Com esse objetivo, a Coca-Cola está buscando franquear e vender todas as suas unidades de envase até o final do ano. Ao mesmo tempo em que a companhia acredita que a estratégia é importante para o seu futuro, ela pressiona fortemente a expectativa de receita e lucratividade da Coca-Cola no curto prazo.
Conclusão
O preço por lucro da Coca-Cola é de 29, comparada a 26 da PepsiCo. O preço sobre caixa livre da Coca-Cola também é de 29, contra os 22 da PepsiCo.
O caminho da PepsiCo para a continuidade do crescimento e prosperidade tem menos obstáculos à frente (sem muitos negócios fora dos EUA e nenhuma grande restruturação) comparada aos desafios da Coca-Cola. E a expectativa é que seu crescimento siga sem muita dificuldade. Hoje, as perspectivas de crescimento da PepsiCo são mais promissoras, fazendo as ações da empresa um investimento melhor.
Entretanto, acreditamos que a Coca-Cola está no caminho certo de transformar seu negócio e desinvestir o segmento de indústria pesada. O problema é que os investidores, como todos os humanos, não necessariamente apreciam mudanças, ao menos até os resultados se mostrem positivos. Isso, junto à tendência atual de fortalecimento do dólar pode significar que o cenário de 2017 da Coca-Cola é bem parecido com o de 2016 – bem sombrio.
No longo prazo, contudo, as duas seguem como excelentes companhias com fortes portfólios, ótimas gestões e deverão continuar a dominar o mercado nos próximos anos. Se você está de olho em uma abrir posição, nós vemos a PepsiCo caindo para testar novamente o nível de US$ 100 – US$ 105, ou cerca de 7%-10% inferior ao atual, o que cria oportunidade de entrada. A Coca-Cola poderá cair 10% ou mais ao longo do ano, para US$ 39. Se nenhuma grande crise atingir as duas empresas, elas deverão ser um bom investimento de longo prazo se atingirem os preços citados.
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