Por Clement Thibault
A Apple (NASDAQ:AAPL) divulgará o seu balanço do segundo trimestre fiscal de 2017 nesta terça-feira (2/5), após o fechamento do mercado. A empresa por trás das conhecidas marcas iPhone, iPad e dos computadores pessoais Mac deverá publicar, de acordo com as expectativas de Wall Street, lucro por ação (LPA) de US$ 2,01 e receita de US$ 52,6 bilhões.
1. Market Share: Maior nos EUA e menor na China
Os últimos números disponíveis do Kantar World Panel mostram duas tendências opostas do market share da Apple – em uma direção nos EUA e no sentido oposto na China.
Nos EUA, a Apple mantém um market share de mais de 40% nos últimos cinco meses, um feito não atingido pela companhia desde julho de 2013. O número exato nos três meses encerrados em fevereiro é de 42%, maior que os 38,3% estimados em fevereiro de 2016. Esses 3,7 p.p. de aumento em market share, combinado com os 3 p.p. de queda no market share do Android (NASDAQ:GOOGL) nos EUA no mesmo período (59% para 56%), nos faz imaginar o quão grande foi o impacto das explosões das baterias do Samsung (KS:005930) Note 7 no fortalecimento da posição da Apple no país.
Os números da China, contudo, pintam um cenário bem menos positivo para a Apple. O market share do iOS na China nos últimos três meses é estimado em 13,2%, uma bela queda na comparação com os 22,2% do ano passado. O Android parece ser o maior beneficiado aqui; seu market share na China subiu de 76% para 86%.
O declínio da Apple na China parece ser motivado pelo aumento de pequenos fabricantes como OPPO, Gionee e Vivo, que, juntos com a Huawei, viram suas vendas mais que dobrarem ao longo de 2016. A maior parte do crescimento desses dispositivos de baixo custo veio em áreas rurais, mas há pouca dúvida que essas companhias vão mirar na melhor parte do mercado em breve.
Isso significa que há sim motivos para preocupações, mas agora ainda não é o momento de nós darmos esse alarme.
2. Importantíssimo lançamento do iPhone 8
O lançamento do iPhone 8 e o número de aparelhos vendidos na sequência são, sem dúvida alguma, os eventos mais aguardados por consumidores e investidores da companhia nos últimos anos. Planejado para setembro/outubro de 2017, o iPhone 8 marcará o 10º aniversário do lançamento do primeiro iPhone. É quase inacreditável o quão rápido a tecnologia mobile avançou em sofisticação e capacidade na última década. Nós estamos bullish para o iPhone 8 por três razões: a força do ecossistema da Apple, o esperado upgrade do aparelho e a paixão adolescente pelos dispositivos Apple.
Sobre o ecossistema da Apple: a empresa ‘prende’ seus usuários oferecendo um sistema completo de hardware e software, o que deixa mais difícil trocar para a concorrência uma vez que você construiu seu portfólio de aplicativos e serviços do iOS. Isso sempre foi uma das maiores forças de venda da Apple. Tudo é integrado e, normalmente, quando você está dentro do ecossistema, é muito mais confortável simplesmente permanecer nele.
Segundo, a expectativa e a intenção de fazer upgrade para o iPhone 8 pode ser bem significativo para uma parte grande da base de consumidores. O último relatório da CIRP sobre a Apple sugere que cerca de 45% dos usuários possuem iPhones com dois ou mais anos. O lançamento do iPhone 6 e 6 Plus foi um dps mais bem-sucedidos nos últimos anos e o iPhone 8 deverá ser o próximo aparelho desses usuários.
Por último, de acordo com uma pesquisa recente da empresa de análise PiperJaffray, 76% dos 5.500 jovens norte-americanos consultados já possuem iPhones, e 81% dizem que seu o próximo celular será um iPhone. Esses números parecem muito altos, especialmente considerando que o market share da Apple é estimado em 42% da população. Contudo, mesmo que os números estejam muito errados – ainda parece que a parcela que possui iPhones entre jovens é alta. Como a lealdade à marca é muito importante dentro da indústria de smartphones e, considerando que jovens tendem a fazer mais upgrades (seja por causa do forte interesse por tecnologia ou por pressão dos amigos), isso é um bom sinal para a Apple e para o iPhone 8, que está para ser lançado.
3. Macs, iPads e serviços
O iPad está morto, por agora. Anos de declínio na receita acentuados por um trimestre fraco de Natal (-22%) nos faz imaginar que esse é o fundo do poço para o iPad. Esse já é o menor segmento da Apple, depois de ser o segundo maior há apenas dois anos.
No último trimestre, a Apple basicamente vendeu o mesmo número de Macs do que em igual período um ano antes. A receita para esse segmento cresceu 7% por causa dos altos preços do novo MacBook Pro. No ano passado, a receita de venda dos Macs caiu10%, então a Apple começa 2017 com uma base melhor de comparação. Esse ano pode se provar fundamental para o negócio de computadores para a Apple, para melhor ou pior.
Os serviços são a próxima grande oportunidade da Apple. A fabricante de smartphone já possui dezenas de milhões de usuários, muitos deles abertos para que a Apple forneça serviços como o Apple Music. A receita da App Store cresceu também e nós esperamos que o faturamento dessa área de softwares (+18% ano sobre ano) continue aumentando e compense a falta de crescimento em dois segmentos de hardware da empresa – iPads e Macs.
Nós gostamos de Apple, mas não a esse preço
Tudo considerado, nós estamos cautelosamente bullish com a Apple e o iPhone 8. Contudo, isso não significa que nós gostamos da Apple no preço atual de US$ 143 por ação. Além disso, nós realmente acreditamos que há um downside potencial de 10%, para a área de US$ 130, por um motivo: os números da Apple não foram divulgados.
Um rápido histórico dos últimos anos: em abril de 2015, a Apple era vendida a US$ 130, nova máxima histórica. A receita da Apple e o crescimento do LPA começa a mostrar fraqueza em setembro de 2015, estagnou em dezembro de 2015 e virou para o negativo nos três primeiros trimestres de 2016. A ação da Apple cedeu para a faixa inferior dos US$ 90 durante esse período. A Apple retornou aos níveis de US$ 110 no terceiro trimestre de 2016 e voltou a ter crescimento da receita e do LPA no último balanço – o que, junto com rali após a eleição de Donald Trump em 8 de novembro, levou a ação para o valor atual de US$ 143.
Nós acreditamos que esse rali já se estendeu muito. Os doze meses da Apple anteriores ao último balanço ainda é 7,5% inferior ao do ano anterior. O LPA de 12 meses é 11% menor na mesma comparação. O fluxo de caixa em 12 meses – ainda que gigantescos US$ 52 bilhões – é 25% abaixo do que os US$ 69 bilhões do período anterior. Além disso, enquanto a maior parte das métricas se recuperaram no último balanço, a margem operacional da Apple cedeu para o menor nível desde junho de 2009, 27%.
Apesar de nenhum desses números acima ser horrível, ou mesmo ameaçador, a trajetória atual aponta para baixo, por enquanto. Ainda que estejamos bullish para a Apple no longo prazo, nós acreditamos em um ponto de entrada perto dos US$ 130, no qual o papel estava há dois anos, antes do problema de crescimento surgir.
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