Por Clement Thibault
A Alphabet, controladora do Google, vai divulgar o balanço do primeiro trimestre hoje (27/4) após o fechamento do mercado dos EUA. Wall Street projeta que a Alphabet anuncie receita de US$ 19,6 bilhões e lucro por ação de US$ 7,48.
Passado
Para qualquer um que acompanhe a Alphabet, os dados e métricas de crescimento do gráfico abaixo não será uma surpresa.
Os números que a Alphabet gerou nos últimos cinco anos foram interessantes e recompensaram muito bem os investidores.
Obviamente, a performance passada não necessariamente indica bons resultados no futuro, mas isso tende a ser mais verdade para os preços das ações do que para o sucesso da companhia. Quando um modelo de negócio funciona e a gestão da empresa é eficiente, sabe evoluir e se adaptar, é razoável esperar que bons resultados continuarão. E a Alphabet tem acertado em todas as áreas.
Presente
O principal motor de crescimento da Alphabet é a publicidade em várias formas – cliques pagos, impressões na web e anúncios em vídeos – via o motor de busca do Google e o YouTube. A publicidade somou US$ 78 bilhões à receita da companhia no último ano, ou 88% do total. O negócio depende de dois pontos críticos: uma plataforma para distribuir os anúncios e a habilidade de reunir dados para refinar os anúncios para cada usuário.
Os principais modelos do Google são: a venda via AdWords, que mostra publicidade nos resultados de buscas; via AdSense, que direciona anúncios nos sites; e os vídeos que são exibidos no YouTube. A dominância do Google nas buscas é impressionante. De acordo com a NetMarketShare, o Google possui 77% de todas as buscas em desktops e 96% em mobile e tablets.
Isso é absurdamente alto, mas certamente explica a gigantesca receita. Não há concorrentes significativos para o Google, sem importar o quanto a Microsoft (NASDAQ:MSFT) tentou emplacar e aumentar a relevância do Bing como motor de buscas.
O YouTube controla entre 60% e 70% do mercado online de vídeos. Em fevereiro, o Google revelou que os usuários do YouTube estão vendo 1 bilhão de horas de conteúdo diariamente. Diariamente. Isso é mais de 100 mil anos de vídeo todos os dias.
Recentemente houve uma confusão com alguns anunciantes do YouTube que não estavam contentes com a distribuição. Alguns anúncios estavam precedendo vídeos controversos que podem prejudicar suas marcas.
Como resultado, um número significativo de dólares em anúncios foi retirado da plataforma. Isso é um problema importante para o Google resolver, e rapidamente. Alguns analistas estimam que esse movimento está custando perdas de US$ 1 bilhão em receita.
Apesar de preocupante, o Google é tão dominante que nós acreditamos que a maior parte desses dólares está aguardando a companhia achar uma solução para esse problema e, no futuro, serão despejados novamente no YouTube.
O motor de busca do Google e o YouTube são de fato as áreas mais visíveis da companhia, mas o império da Alphabet não termina aqui. O NetMarketShare também estima que o Android, sistema operacional do Google, está em 63% dos celulares do mercado. O Chrome, navegador do Google, possui 58% do market share nos desktops, muito à frente do Edge/IE da Microsoft (19%) e do Firefox (12%). O Chrome também possui 53% de market share no mobile. Tudo isso impulsiona o império de anúncios.
A Alphabet possui US$ 86 bilhões em dinheiro vivo e investimentos de curto prazo. Essa é uma quantia gigantesca de recursos que viabiliza uma cornucópia de possibilidades para desenvolvimento futuro.
Futuro
Muito do que já foi escrito sobre as Outras Apostas do Google, porção do balanço trimestral que une os inovadores e arriscados projetos, como o Verily, iniciativa de saúde e biologia; Nest, produtos hardwares para casa inteligente; Waymo, o carro autônomo; inteligência artificial (que tem potencial para ter um grande impacto em todas as áreas de negócio da Alphabet) e mais. Nós nunca tivemos problemas com a rotineira estratégia do Google de queimar US$ 3,5 bilhões para financiar esses projetos, muitos que nunca darão certo. Quando você gera US$ 25 bilhões em caixa livre, você pode bancar isso.
Também, isso cria uma cultura de empreendedorismo dentro da companhia, algo raro dentro das grandes corporações, e empodera os empregados para estar sempre buscando o próximo motor gerador de receita.
Agora, Outras Apostas pode não ser necessariamente onde o dinheiro é gerado. Ainda assim, se a Alphabet consegue achar a cura para o envelhecimento, por exemplo, é suficiente para fazer a companhia mais valiosa do que já foi. Mas nós vamos nos apegar aos cenários plausíveis: o Google oferece produtos viáveis como capacidade de computação na nuvem.
Apesar de a Amazon (NASDAQ:AMZN) dominar esse negócio, a Microsoft e o Google possuem market share significativos. O setor deverá ter um crescimento forte nos próximos cinco anos e isso deverá gerar receita significativa para as três companhias, mesmo que o market share permaneça o mesmo. E ainda, é claro, existem os US$ 86 bilhões em dinheiro e investimentos ditos acima. Nós gostaríamos de ver esse dinheiro sendo utilizado, seja para aquisições (talvez o Twitter (NYSE:TWTR) faça algum sentido para o império Google?); investimento adicional em pesquisa e desenvolvimento (o retorno sobre o investimento da Alphabet tem sido de cerca de 14% nos últimos anos, o que achamos razoável); ou talvez para algum dividendo.
Entretanto, desde que a Alphabet se veja como um inovador no espaço tecnológico – e historicamente tem se acreditado que o melhor jeito de companhias inovadoras de tecnologia tem de gerar valor ao acionista é reinvestir e criar novos produtos e serviços do que distribuir dividendos – nós não esperamos que a Alphabet comece a pagar dividendos num futuro próximo. Acreditamos que isso só irá ocorrer quando a companhia atingir um ponto no qual não consegue mais imaginar um jeito melhor de gastar seu dinheiro, ou quando concluir que o crescimento chegou ao limite.
Enquanto dividendos são potencialmente positivos para acionistas, nós vemos isso como uma mudança pessimista para a cultura de empreendedorismo da Alphabet. Das formas possíveis que a companhia pode maximizar o seu caixa, como discutido acima, dividendos é a menos provável. De qualquer forma, nossa mensagem para a Alphabet é clara: vocês têm dinheiro, não o deixe parado; crie valor adicional para seus acionistas.
Conclusão
Por anos consideramos a Alphabet (e o Google antes da criação da holding) como uma das melhores companhias do mundo. A gestão tem provado repetidas vezes que merece nossa confiança. Os resultados – seja por valorização das ações ou crescimento e desenvolvimento – têm consistentemente sido bastante satisfatórios.
Nós não vemos razão para mudar agora nossa visão sobre o cenário de longo prazo para a Alphabet, mesmo que tenha atravessado algumas lombadas em seu caminho recente como a controvérsia em relação ao YouTube. Nós acreditamos que a empresa poderá criar novas oportunidades adicionais de compra para consumidores assim que esses problemas forem resolvidos.
A Alphabet é uma das poucas companhias que nós sem a menor dúvida recomendamos compra, mesmo que se você tenha que entrar em máximas históricas.
Claro que facilita o fato de que o valuation atual da companhia está perfeitamente em linha com seu histórico. O preço por lucro da ação da Alphabet é 31, não muito longe das suas medianas de cinco ou dez anos, ambas em 29. O preço por patrimônio é de 4,3, menos de 10% acima da mediana de cinco ou dez anos de 4. Usando seu caixa livre como parâmetro, é praticamente a taxa mais barata dos últimos três anos.
A última vez que escrevemos sobre a Alphabet, nós concluímos que os preços em geral das ações do mercado estão altos, e isso inclui a Alphabet. Isso ainda é verdade, mas se você está confortável com isso, não há razão para que você não compre a Alphabet.
Nós não podemos deixar mais claro: a Alphabet é uma das melhores companhias no mercado hoje e deveria fazer parte do seu portfólio.
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