O IGP do mês passado ainda veio alto, tendo o preço do minério de ferro como grande vilão do IPA. Mas, como aprendemos nas primeira aulas de Introdução à Economia, “não olhe o cachorro, olhe o rabo dele, se quiser saber como ela está-se sentindo”. Vale dizer, não se preocupe com o valor da função e sim com sua derivada, para prever para onde ela vai.
E a derivada do IPA é bem animadora. Depois de acumular em 12 meses 50%, caiu pela metade, com destaque para Alimentos, que vinham corroendo o poder aquisitivo das classes mais baixas. Se as chuvas chegarem, como se prenuncia, e se o preço internacional do petróleo já bateu no teto, pode-se esperar uma continuidade robusta desta tendência.
Nada de surpreendente, pois todo o processo de elevação dos índices de preço observado há 1 ano foi causado exclusivamente por fatores de oferta: commodities, energia elétrica e câmbio. Sim, pois apesar da notável recuperação da atividade pós-pandemia, nem Consumo nem Investimento revelaram pique suficiente para referendar as tentativas de repasse de custos a salários: estamos lambendo a franja do nível de atividade pré-pandemia, nada de aquecimento ameaçador. E a boa Teoria nos ensina que em situações como esta, o mercado – através da restrição orçamentária – se encarrega de reverter a alta dos preços, talvez com um novo perfil de preços relativos e perdas de renda diferenciadas. Basta ver como se desenrola processo semelhante nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) se manteve gelado, sem subir juros. Só agora, quando pontos de estrangulamento em segmentos do mercado de trabalho se agravam, o Fed avisa que vai diminuir a injeção de liquidez mensal que vem realizando, através de recompra de títulos públicos e privados, mas elevar a taxa de juros curtos.
Na luta por manter a credibilidade do nosso Banco Central, sua Diretoria optou pela rota oposta: disparou na subida de juros, para mostrar quem manda na Moeda. Verdade que aqui a falta de chuvas e a contaminação da taxa de câmbio pelos disparates políticos geraram um quadro mais agudo que nos Estados Unidos: apesar de uma demanda letárgica, os índices de preços caminharam rapidamente para tangenciar os dois dígitos.
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Resumo da ópera: a inflação está em queda natural, mas a atividade já se ressente da truculência do aperto monetário. Sobem índices de inadimplência, reflui a atividade e os resultados recentes favoráveis de retomada do emprego tem seus dias contados. Ou o Banco Central se apropria da narrativa de que o pior já passou, a onda inflacionária está-se revertendo e as projeções altistas de juros curtos do mercado estão exageradas ou vamos perder valiosos pontos de crescimento em 2022.
Infelizmente, o que se vê é mais do mesmo. Um diretor do Banco, em vez de enfatizar os ganhos já percebidos no fronte de combate à inflação, deixa escapar que, se preciso, os juros subirão mais do um ponto e meio de porcentagem nas próximas reuniões.
Junte-se a esta postura o alvoroço criado pela PEC dos Precatórios e entende-se o clima de desalento que permeia os agentes econômicos: estagflação, calote da dívida, crescimento negativo do PIB em 2022 passam a fazer parte do nosso cotidiano midiático. A equipe econômica é vilipendiada, a despeito de estar conseguindo uma gestão primorosa do orçamento de 2021, a maior reversão de déficit fiscal da nossa História. Acusá-los de renegados porque acomodaram um gasto adicional de 30 bilhões de reais na mitigação das necessidades da classes baixas em um orçamento de mais de 1 trilhão e meio é injusto.
O momento é de alimentar o processo de formação de expectativas com informações objetivas do que pode estar no nosso futuro: o surto de investimentos decorrente das concessões exitosas da infraestrutura, já ocorridas e por ocorrer; os avanços na modernização da economia, com a eliminação dos controles demagógicos de preço, a flexibilização do mercado de trabalho e a redução unilateral das alíquotas de importação; o empenho em aprovar uma reforma fiscal que cerceie as vantagens pornográficas de grupos corporativos e devolva flexibilidade ao orçamento da União; a maturidade da cidadania, que incorporou a estabilidade de preços e o equilíbrio fiscal como valores importantes; a solidez do nosso sistema financeiro, cutucado agora pela proliferação de fintechs modernizantes. E a robustez das instituições democráticas, assediadas pelos radicais liderados por Bolsonaro, mas defendidas com vigor pela sociedade civil e por manifestações constitucionalistas de chefes militares.