Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação oficial do Brasil acumulada em 12 meses entrou no quarto trimestre no maior nível do ano, depois de os preços terem registrado máxima para um mês de outubro em 19 anos, pressionados pelos combustíveis.
Em outubro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 1,25%, depois de ter subido 1,16% no mês anterior, alcançando a maior variação para o mês desde 2002 (1,31%).
A taxa acumulada em 12 meses passou com isso a 10,67%, de 10,25% em setembro, resultado mais forte desde janeiro de 2016 (+10,71%).
Os resultados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficaram acima das expectativas em pesquisa da Reuters e um avanço de 1,05% na base mensal e de 10,45% em 12 meses.
Com isso, a inflação segue firme para terminar o ano bem acima da meta, possivelmente na casa dos dois dígitos --a última vez que isso aconteceu foi em 2015 (10,67%). O objetivo oficial é de uma taxa medida pelo IPCA de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Os preços vêm sendo bastante influenciados este ano pela força do dólar, bem como crise hídrica e custos altos de insumos. As preocupações com uma inflação persistente já levaram o Banco Central a elevar a taxa básica de juros Selic a 7,75% até agora neste ano.
"O que tem contribuído para inflação dos últimos meses são os monitorados, como combustíveis, gás de botijão e energia elétrica, sendo que desde setembro temos escassez hídrica", explicou o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
O índice de difusão dos preços, segundo o IBGE, subiu a 67% em outubro, de 65% em setembro, indicando maior espalhamento da alta entre os grupos.
COMBUSTÍVEIS
O mês de outubro foi marcado novamente pela pressão dos preços de Transportes, com alta de 2,62%, de 1,82% no mês anterior. Os maiores responsáveis por isso foram os combustíveis, cujos custos subiram 3,21%.
A gasolina subiu 3,10% em outubro e teve o maior impacto individual no índice do mês, marcando a sexta alta consecutiva. Com isso a gasolina acumula alta de 38,29% no ano e de 42,72% nos últimos 12 meses.
Também subiram os preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%).
"A alta da gasolina está relacionada aos reajustes sucessivos que têm sido aplicados no preço do combustível, nas refinarias, pela Petrobras (SA:PETR4)", disse Kislanov.
Também se destacaram o aumento nos preços das passagens aéreas (33,86%) e do transporte por aplicativo (19,85%).
Também pesou com força no bolso do consumidor o aumento de 1,17% dos alimentos e bebidas, de alta de 1,02% em setembro. O resultado foi puxado por tomate (26,01%) e batata-inglesa (16,01%), devido à redução da oferta por questões climáticas, o que fez os custos da alimentação no domicílio subirem 1,32%.
A alta de 1,16% da energia elétrica levou o grupo Habitação a registrar avanço de 1,04% nos preços, embora esse item tenha desacelerado em relação à taxa de 6,47% de setembro. Em outubro, foi mantida a bandeira Escassez Hídrica.
A inflação de serviços também acelerou com força em outubro, para 1,04%, de 0,64% no mês anterior, conforme segue a retomada desse setor com a abertura da economia depois da pandemia de Covid-19.
Numa tentativa de debelar as crescentes pressões inflacionárias, o BC elevou a taxa básica de juros Selic em 1,5 ponto percentual no mês passado, indicando novo aumento da mesma magnitude na reunião de dezembro.
Para este ano, o BC enxerga inflação de 9,5%, indo a 4,1% no ano que vem. Já o mercado vê a alta do IPCA ao fim deste ano em 9,33%, indo a 4,63% em 2022, como mostra a mais recente pesquisa Focus realizada pelo BC junto a uma centena de economistas.