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EUA: O que esperar para o primeiro ano do governo Biden

Publicado 23.12.2020, 17:02

Por Ana Carolina Siedschlag

Investing.com - O presidente eleito dos EUA, o democrata Joe Biden, deve representar um retorno do governo americano às instituições e canais de comunicação tradicionais, com menos volatilidade para os mercados pela escolha de nomes conhecidos para a administração e sem os erráticos tuítes presidenciais que atormentaram os índices nos últimos quatro anos.

Oficialmente confirmado pelo Colégio Eleitoral dos Estados Unidos como o vencedor da eleição de novembro no último dia 14, Biden é figura conhecida da política e do público americano, ao menos nos bastidores. Foi vice de Barack Obama por oito anos (2009-2017) e, apesar de agora trazer nomes bem diferentes daquela administração, o desenho de seu governo, até o momento, não chega perto da ansiedade que antecedeu à posse do atual presidente Donald Trump - à época um completo outsider de Washington D.C.

“No curto prazo, o governo Biden não vai ser um grande assunto, pelo menos para a bolsa. Ele foi vice por oito anos, e sobre a [Janet] Yellen, já se conhece, já se sabe o que esperar”, disse Evandro Buccini, economista da Rio Bravo, ao Investing.com.

A indicada à secretaria do Tesouro para o próximo governo, Janet Yellen, foi presidente do Federal Reserve de 2014 a 2018 e ficou conhecida pela postura dovish, ou expansionista, durante o mandato. Com isso, o primeiro grande nome da economia anunciado por Biden já traz alguns sinais de continuidade da atual política fiscal de estímulos, com chance, inclusive, de mais pacotes de ajuda ao longo de 2021.

A escolha anunciada há quatro semanas vai em linha com o prometido por Biden durante a campanha e não causou marolas nos mercados. Outros nomes já colocados, como Antony Blinken para a secretaria de Estado - anunciado em coletiva de imprensa oficial, previamente agendada -, escancaram uma principal diferença em relação à atual administração: o retorno à moderação.

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“O governo Biden deve se caracterizar pela valorização das instituições, e não só às questões relativas da pandemia, mas de direitos humanos, meio ambiente, órgãos multilaterais e uma reaproximação com aliados antigos como França e Alemanha”, diz Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo.

Para ela, o presidente eleito pode até trazer à mesa, passado algum tempo da pandemia, uma reaproximação com a China, pontuando interesses do agronegócio americano - uma possibilidade que coloca mais sombra sobre a relação do governo Biden com a atual administração brasileira.

E o Brasil?

O presidente Jair Bolsonaro foi o último líder latino-americano e o penúltimo de relevância mundial a reconhecer a vitória do democrata, atrás do líder norte-coreano Kim Jong-un . A demora simbólica no envio de cumprimentos foi, segundo reportagem do Estado de S. Paulo da última quarta-feira (16), orientada pelo embaixador Nestor Forster, que teria enviado telegramas ao Planalto contendo análises e notícias falsas que apostavam numa virada de mesa nos tribunais americanos a favor de Trump.

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A aposta não se concretizou, e Bolsonaro e os demais nomes proeminentes da política externa brasileira devem agora movimentar algumas peças no tabuleiro para se adaptarem a um mundo em que o principal representante da plataforma política anti-establishment e antiglobalista não estará mais no jogo.

“Dada a proximidade de Bolsonaro a Trump, ainda é um ponto de interrogação de como essa relação se dará. O governo Biden deve ter mais disposição para o diálogo”, disse Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear.

Segundo ele, ainda é cedo para pontuar como será a postura de ambos os governos considerando que conversas sobre qualquer relação comercial ou diplomática devem andar a passos mais lentos enquanto o mundo ainda estiver enfrentando os efeitos de curto prazo da Covid-19.

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Depois da pandemia

A expectativa é que, ao menos nos primeiros meses do mandato, Biden não cause grandes movimentações, mas que volte às promessas de campanha tão logo os maiores efeitos do vírus fiquem no passado.

Uma das principais bandeiras defendidas ao longo do rali, e que deve ser ponto de atrito com republicanos, é elevar a taxação para empresas americanas de 21% para 28%, revertendo uma medida de redução no início do mandato Trump. Além disso, Biden falou em elevar a alíquota máxima do imposto de renda de pessoas físicas de 37% para 39,6% e reduzir as chances de deduções de impostos por grandes corporações.

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“Agora não vai se falar nisso. Se vai acontecer ou não, todo mundo tem um inimigo em comum chamado pandemia. Talvez quando retirarem os incentivos para as pessoas físicas, vão começar a discutir a tributação”, diz William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue Securities, sediada nos EUA. Ele pondera, no entanto, que um Senado republicano deve ajudar a equilibrar as discussões.

Essa é uma definição que virá somente em janeiro, quando duas eleições especiais marcadas para o dia 5 no estado da Geórgia determinarão qual partido terá o controle da casa. Se os democratas assumirem o controle do Senado, junto da Câmara, a agenda econômica de Biden terá poucos empecilhos para deslanchar.

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