Quando Javier Milei (La Libertad Avanza, direita) fez campanha para se tornar presidente da Argentina em 2023, ele brandiu uma motosserra para simbolizar seu compromisso em cortar gastos públicos. A situação econômica argentina era um dos principais problemas que o autodenominado libertário prometeu resolver.
O economista venceu as eleições argentinas em novembro daquele ano. Ele assumiu a Casa Rosada em 10 de dezembro de 2023. A data completa seu 1º ano nesta 3ª feira (10.dez.2024).
Eduardo Crespo, economista e cientista político formado pela Universidade de Buenos Aires e professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), avalia que os argentinos que votaram em Milei “tinham a expectativa de que alguma coisa ia ser feita em relação à inflação” do país. Nesse 1º ano, a taxa foi um dos principais indicadores econômicos que registrou melhora.
A inflação mensal desacelerou desde a posse de Milei, como mostra o infográfico abaixo. O índice estava em 12,8% em novembro de 2023. Terminou outubro de 2024 a 2,7%.
A redução da inflação foi impulsionada, principalmente, pelos cortes de gastos públicos implementados por Milei. Leia abaixo como se comportou a taxa acumulada em 12 meses:
O presidente argentino reduziu o número de ministérios de 18 para 9 em seu 1º decreto como chefe de Estado. Interrompeu a maioria das obras públicas. Diminuiu o repasse de recursos para províncias, educação e saúde. Também vetou o aumento para aposentados.
“Ele começou a cortar os subsídios, principalmente de transporte e energia. [Também] teve toda a demissão em massa de funcionários terceirizados do governo. O que ele estava buscando? [Cumprir] a principal promessa dele: a redução da inflação”, explicou Leandro Barcelos, gerente de Comércio Internacional da consultoria BMJ, em entrevista ao Poder360.
As medidas de austeridade, no entanto, contribuíram para a contração do PIB (Produto Interno Bruto) argentino. O índice teve quedas mais expressivas no 1º e no 2º trimestre de 2024, na comparação com os 3 meses imediatamente anteriores.
PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
A dolarização foi uma das principais bandeiras de Milei durante sua campanha. Mas a questão parece ter sido deixada de lado pelo presidente. O libertário também não fechou o Banco Central do país.
A política monetária acompanhou o alívio da inflação. Os bancos centrais aumentam os índices de juros quando a inflação ameaça ficar em alta. Portanto, com o indicador controlado, a taxa básica também caiu.
MERCADO
Eduardo Crespo e Leandro Barcelos avaliam que, atualmente, existe um “entusiamo muito grande do mercado” em relação à Argentina. Segundo o gerente de Comércio Internacional da BMJ, os investimentos avaliam positivamente a redução da inflação em comparação com a situação do país nos governos anteriores.
“Tinha muito empresa saindo [da Argentina] antes da eleição do Milei porque eles não conseguiam tirar os investimentos de dentro do país. Agora eles estão conseguindo. O ajuste fiscal que o Milei fez durante esse ano influenciou também. Tem menores juros”, afirmou.
Parte desse entusiamo é refletido pela Bolsa de Valores. O índice S&P Merval valorizou 137% desde a posse do libertário.
Já o dólar se comportou de outra forma. Ficou em alta durante a posse, especialmente o comercial. Mas Milei tomou uma medida que elevou consideravelmente a cotação no início do mandato: desvalorizou o peso argentino de propósito para compensar o valor baixo mantido artificialmente.
O dólar blue, considerado paralelo, aumentou nos primeiros 6 meses de 2024. Apesar disso, arrefeceu no 2º semestre –mas ainda não retomou o patamar do início do governo.
DESAFIOS PARA OS PROXIMOS ANOS
Segundo Crespo e Barcelos, Milei ainda precisará estabilizar a economia argentina antes de buscar um crescimento sustentável para o país.
Os especialistas avaliam que investimentos, especialmente em infraestrutura e setores produtivos, serão essenciais para reaquecer a economia e promover criação de renda e emprego.
O alto nível de pobreza é um dos problemas críticos na Argentina. Dados publicados em setembro pelo Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina) mostra que 52,9% da população total do país está em situação de pobreza.
Outro grande desafio do presidente argentino é o chamado “cepo cambial”, um conjunto de restrições sobre o mercado de câmbio. Ele limita a compra de dólares no mercado oficial e restringe a movimentação de capitais para fora.
O ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anunciou que a medida será suspensa em 2025, mas não estabeleceu um prazo exato.