Por Felipe Machado
Investing.com - Se a métrica for a repercussão, a compra do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34) pelo fundador da Tesla (SA:TSLA34) (NASDAQ:TSLA), Elon Musk já começa a dar resultado. A aprovação da oferta de US$ 54,20 por ação (US$ 44 bilhões no total) pelos conselheiros da empresa, na tarde desta segunda-feira (25) está nas capas de diversos sites e jornais. E o assunto movimenta as redes sociais - inclusive o próprio Twitter. Mas, passado o burburinho, o que resta ao investidor? O quê esperar da empresa?
Para responder a essa pergunta, Investing.com conversou com analistas especializados no assunto. Ainda há questões em aberto sobre a compra do Twitter, mas dá para afinar o olhar para algumas questões-chave. E, no momento, manter o papel pode ser mais prudente.
Futuro do Twitter
Um ponto importante a ser observado sobre o futuro do Twitter é o grau envolvimento do próprio Elon Musk no dia-a-dia da nova empresa. Além de passar a ter, com a compra do controle, o poder de indicar gestores, Musk dá sinais que este não será, para ele, um negócio qualquer. O bilionário é um usuário de destaque da rede social, a 8ª pessoa mais seguida nela (84 milhões). Recentemente, tem feito posts e comentários críticos à itens como liberdade de expressão, recursos e monetização da empresa.
"Historicamente, o perfil de Elon Musk é muito centralizador. Ele continua muito à frente da Tesla e da SpaceX, por exemplo. Deve ter bastante envolvimento, mas deve trazer também um time especializado", diz José Augusto Albino, sócio da Catarina Capital, gestora especializada em investimentos em tecnologia.
E empresas e acionistas indicam que a opinião de Musk é ouvida no mercado. As ações do Twitter dispararam 27% no dia seguinte à notícia que ele havia comprado uma parcela significativa da rede social. O bilionário faz pesquisas de opinião sobre recursos diretamente com seus seguidores, Uma enquete sobre a possibilidade de editar posts fez com que o Twitter anunciasse, menos de 24h depois, que testaria o recurso.
Para Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos (SA:XPBR31), a princípio, é difícil enxergar uma sinergia entre os negócios de Musk e a rede social. O movimentação que a oferta de compra do Twitter provocou nas ações, porém, traz benefícios aos acionistas por causa do prêmio oferecido. A ação tem estado "travada" porque a empresa tem uma lucratividade e geração de caixa muito aquém do esperado se comparada a concorrentes do seu porte.
"Olhamos o Twitter quase como um 'patinho feio' das redes sociais, das grande big techs. É uma ação que não andava muito faz um tempo, tinha problema de governança, de monetização, um negócio um pouco questionado e complicado", diz a especialista. Após a notícia da compra, os papéis da empresa fecharam o pregão com alta de +5,66%, US$ 51,70 na Bolsa de Nova York. Como comparação, o Nasdaq Composite subiu 1,29% aos 13.004 pontos.
Vale a pena vender Twitter?
Elon Musk revelou a intenção de fechar o capital do Twitter, que fez seu IPO em 2013. A decisão daria mais liberdade para o homem mais rico do mundo tocar o negócio sem precisar prestar contas a acionistas nem divulgar informações da operação, o que é obrigatório às companhias abertas.
Caso isso ocorra, ao menos do lado estritamente financeiro, compensa manter o papel. Isso porque quem decidir vender agora suas ações na bolsa receberá receberia o preço de negociação do momento. Mas, se "segurar" o papel e Musk realmente decidir fechar o capital, o Twitter teria que pagar US$ 54,20 por ação, que é o mesmo preço aceito pelos controladores.
O prêmio maior, porém, não é o único fator a ser levado em conta na decisão de manter ou não o ativo na carteira, alertam especialistas. Ainda faltam mais detalhes de como a oferta hostil pelo Twitter vai se concretizar. "Vale relembrar que há o risco regulatório e a transação pode ainda não ocorrer. Então, o investidor teria que ponderar esse risco ao escolher se vale a pena manter o ativo até um eventual fechamento de capital ou vendê-lo antes", afirma Rafael Nobre, analista internacional da XP Investimentos.
Aprovações
Albino, da Catarina Capital, avalia que ainda que a expectativa seja de aprovação regulatória, operações desse porte costumam demorar vários meses para serem concretizadas, e dependem de aprovação de vários países onde a empresa tem negócios e de órgãos de proteção à concorrência, como a americana Federal Trade Commission (FTC).
Questões econômicas à parte, o Twitter mexe também com humores políticos. Musk tem defendido menos restrições às opiniões publicadas ao dizer que democracias necessitam de liberdade e que rede é uma espécie de praça pública de debates. O anúncio da compra gerou entre republicanos expectativa de que o ex-presidente Donald Trump, um fenômeno da rede e que foi banido por espalhar notícias falsas, pudesse ser readmitido. Um benefício que ele afirmou não querer, por estar focado na sua própria rede social.
Questionada por repórteres sobre a operação, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o poder executivo não faria comentários específicos. Mas transpareceu que o presidente Joe Biden, que derrotou Trump na última eleição presidencial, está bem atento ao tema. "Nossas preocupações não são novas. O presidente fala há muito tempo sobre suas preocupações sobre o poder das plataformas de mídia social, incluindo Twitter e outras, de espalhar desinformação", disse. Eis um recado que poderia estar em um tuíte - mas nesse, certamente, Elon Musk não daria "like".