Após 27 anos, Jeff Bezos deixará o comando das operações diárias da Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34), empresa que fundou em 1994 como uma loja virtual de livros. A decisão da aposentadoria veio de surpresa: foi comunicada no mais recente balanço da companhia, publicado ontem. A partir de agosto, Bezos assume a presidência do conselho de administração da empresa e marca o fim de uma era: a de CEOs emblemáticos que prosperaram na internet dos anos 1990.
"Estou empolgado em anunciar que no terceiro trimestre, farei a transição para presidente do conselho da Amazon e Andy Jassy será o CEO", escreveu ele numa carta aos funcionários. "Eu vejo a Amazon em seu ano mais inventivo na história, tornando este o momento perfeito para essa transição", escreveu Bezos para investidores.
De fato, os números ajudam: em 2020, a Amazon registrou lucro líquido de US$ 21,3 bilhões, ante US$ 11,6 bilhões no ano anterior - alta de 84% na comparação. Já no último trimestre de 2020, o lucro ficou em US$ 7,2 bilhões, ante US$ 3,3 bilhões no mesmo período de 2019. As ações da empresa permaneceram estáveis após o anúncio.
Charlie O'Shea, analista da Moody's, acredita que a transição na chefia será suave. "Uma das coisas que aprendemos com a Amazon é que há um grande banco de reservas lá. Eles já trocaram de executivos sem perder o ritmo", disse, em nota. "Não é que o Bezos vai pegar um barquinho e desaparecer. Ele ainda estará envolvido na estratégia geral da empresa."
A transição, porém, acontece em um momento importante. De um lado, a empresa tem batido recorde de lucros em meio à pandemia. De outro, a companhia, assim como outras gigantes de tecnologia, enfrenta um escrutínio regulatório, com legisladores preocupados com práticas anticompetitivas dos maiores nomes do setor.
Ascensão
Bezos fundou a Amazon em 1994 e a transformou em uma das companhias mais valiosas do mundo. A escolha por começar com livros foi inusitada. Em 2018, ele contou: "Fiz um ranking de produtos que gostaria de vender na internet. Escolhi livros porque são pouco usuais: há mais itens em uma categoria de livros do que há itens em qualquer outra categoria de produto." Depois disso, o negócio se agigantou.
Em janeiro do ano passado, a Amazon ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado - atualmente vale US$ 1,7 trilhão. O patrimônio do executivo cresceu junto: hoje, é avaliado em US$188 bilhões, segundo a Bloomberg.
Assim, Bezos acabou trilhando o mesmo caminho de outros barões da tecnologia, transformando-se no rosto e na alma da empresa, como Steve Jobs, Bill Gates e Mark Zuckerberg.
Em um quesito, porém, ele supera os colegas: permaneceu por mais tempo na cadeira de CEO. Gates foi CEO da Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34) por 23 anos, mesmo período de tempo de Steve Jobs no comando da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34). Zuckerberg está há 17 anos no comando do Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34).
O movimento, porém, é tendência. Em 2019, Larry Page e Sergey Brin, que fundaram o Google em 1998, deixaram seus cargos executivos na Alphabet (NASDAQ:GOOGL) (SA:GOGL34), passando o bastão para Sundar Pichai. De certa forma, a saída de Bezos da chefia da Amazon também aposenta a era dos grandes CEOs que ascenderam na internet da década de 1990.
Futuro
Bezos afirmou que continuará engajado nas iniciativas importantes da gigante, mas passará a usar o tempo extra em outros negócios, entre eles a empresa de exploração espacial Blue Origin e o jornal The Washington Post. O foco nos outros projetos faz sentido: os próximos anos devem ser agitados para a Blue Origin, com o aquecimento do setor privado de exploração espacial. Espera-se que a empresa espacial, pela primeira vez, comece a transportar humanos em seu foguete New Shepard.
O bilionário dará atenção ainda aos fundos Day 1, de ajuda a famílias carentes e crianças em idade pré-escolar e o Bezos Earth Fund, criado em fevereiro de 2020 a missão de combater as mudanças climáticas. A promessa é destinar até US$ 10 bilhões para as causas ambientais. A iniciativa - que prevê encaminhar os recursos para organizações, para ativistas e para a área da ciência - anunciou, em novembro do ano passado, que iria receber cerca de US$ 791 milhões em doação para investir em 16 instituições.
Substituto
Para substituir Bezos, a empresa terá Andy Jassy, funcionário de longa data. Formado em Harvard, Jassy tem 52 anos e faz parte da Amazon desde 1997. Em 2006, o executivo se tornou o vice-presidente da Amazon Web Services (AWS), divisão de serviços de nuvem da empresa - mais tarde, assumiu o posto mais alto da divisão.
A escolha por Jassy também faz sentido: atualmente, a AWS é uma das principais divisões da companhia. No quarto trimestre de 2020, a receita cresceu 28%, para US$ 12,74 bilhões.
"Andy fez um trabalho incrível na AWS. Os números dizem isso. A AWS continuará sendo uma máquina de lucros para a companhia, dando suporte à divisão de varejo como um investimento contínuo", diz O'Shea, da Moody's.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.