A semana pós-segundo turno terminou com juros em queda em toda a extensão da curva. A redução nos prêmios se deu pela melhora da percepção de risco político advinda do processo eleitoral e clima mais ameno no exterior. Apesar das incertezas fiscais e da ansiedade por nomes da nova equipe econômica, a semana se encerra com alívio nas chances de contestação do resultado das urnas, dispersão dos bloqueios e protestos nas rodovias e andamento célere do processo de transição, focado na busca de recursos para cumprir promessas de campanha. Lá fora, notícias positivas da China e o payroll nos EUA absorvido sem traumas deram suporte para o rali dos ativos locais. Na semana, as taxas longas caíram em ritmo mais forte que as demais e a curva perdeu inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,940%, de 12,973% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,76% para 11,72%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 11,46%, de 11,51%.
O desenho da curva esteve nesta sexta inserido no contexto geral de apetite por Brasil, que derrubou o dólar para perto de R$ 5 e levou a Bolsa, nas máximas dos dia, aos 120 mil pontos. Mais do que fatores específicos desta sexta-feira, profissionais atribuem o fechamento das taxas à percepção de que as tensões do pós-eleição estão se dissipando e há um certa boa vontade do mercado com o próximo governo. "Essa entrada forte do investidor em Brasil desde as eleições ninguém esperava, mesmo sem saber quem será o ministro da Fazenda", afirmou o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Com exceção da reação negativa limitada à primeira parte da sessão na segunda-feira, no geral os mercados vêm digerindo bem durante a semana a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vista como capaz de, por exemplo, atrair o capital externo represado pelas tensões diplomáticas geradas durante o governo Bolsonaro.
"A visão deles investidores estrangeiros agora é mais amigável em relação à perspectiva de investimentos no Brasil", declarou sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, em fórum da Bradesco (BVMF:BBDC4) Asset Management. O gestor lembrou que, imediatamente após o resultado da eleição, Alemanha e Noruega anunciaram a intenção de liberar recursos do fundo de apoio financeiro à preservação da Amazônia.
Enquanto isso, o mercado monitora as discussões sobre o Orçamento de 2023 e nesta sexta se ampliou a possibilidade de que a autorização para gastos acima do teto venha por meio de abertura de crédito extraordinário por Medida Provisória (MP) e não via Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) vêm precedente para essa opção para cobrir o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023 e despesas de outros programas.
Na sua Carta Mensal, o Banco Inter (BVMF:BIDI4) destaca justamente que, no cenário de incerteza fiscal, os juros devem permanecer elevados até que se possa fazer uma melhor avaliação do impacto das medidas tanto na inflação, via estímulo da demanda, como no prêmio de risco, que pode afetar a taxa de juro neutra da economia. "Apesar da queda do dólar nos primeiros dias de novembro, as taxas de juros permanecem em patamar elevado, indicando inflação implícita acima de 6% e juros reais também próximos de 6%, refletindo ainda o risco fiscal", diz o documento, assinado pela economista-chefe Rafaela Vitória.
No exterior, a perspectiva de que a China possa reduzir sua política de covid-zero animou os mercados, aliviando temores de recessão global num momento de aperto monetário coordenado dos bancos centrais. Ainda, houve leitura benigna do payroll norte-americano de outubro, mesmo com geração de vagas acima do esperado reforçando a mensagem hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na quarta-feira, 2.