SÃO PAULO (Reuters) - A Suzano (SA:SUZB3) informou nesta quarta-feira que elevou seus preços de celulose na China para o recorde de 780 dólares a partir de abril, aumentando ainda os valores cobrados de Europa e Estados Unidos, em meio ao que avalia como um mercado com mais demanda que oferta e que ainda enfrenta dificuldades em encontrar contêineres para o transporte da matéria-prima.
Em reunião online com analistas e investidores, executivos da maior produtora mundial de celulose de eucalipto do mundo evitaram fazer projeções de quando anunciarão o investimento em uma nova fábrica de celulose, em Ribas do Rio Pardo (MS), com capacidade para 2,3 milhões de toneladas de celulose por ano.
O presidente da companhia, Walter Schalka, disse apenas que um anúncio sobre o projeto deve ocorrer em breve e que a nova unidade será a de menor custo de produção da Suzano, ajudada por um raio médio de obtenção de madeira de cerca de 60 quilômetros, ante mais de 100 quilômetros de outras unidades da empresa.
Antes de dar sinal verde para o projeto, a empresa quer reduzir sua alavancagem, o que será acelerado este ano pela alta dos preços da celulose e pela desvalorização do real ante o dólar, disse o diretor financeiro, Marcelo Bacci.
Segundo o diretor comercial de celulose da Suzano, Leonardo Grimaldi, a demanda mundial pelo produto deve crescer em 4,6 milhões de toneladas até 2025 enquanto a oferta vai subir em 3,4 milhões de toneladas, números que não incluem projeções sobre o movimento de substituição de produtos plásticos por papel e de substituição de fibras longas (produzidas a partir de pinheiros, por exemplo) por curtas (obtidas a partir de eucalipto).
"Estamos vendo a demanda crescendo agora, com pouco crescimento da oferta. Além disso, os estoques estão muito baixos nos produtores, que não vão conseguir elevá-los antes do final do ano", disse Schalka referindo-se à entrada de novas capacidades no setor. "Se não houver problemas na demanda por causa da Covid-19, teremos um mercado (de celulose) muito bom este ano", afirmou o executivo.
Para Grimaldi, o problema de escassez de contêineres para o transporte só deve ser resolvido no terceiro trimestre.
Além de elevar os preços da celulose em 60 dólares na China, a empresa anunciou na véspera a clientes aumentos nos preços do produto em 100 dólares na América do Norte e na Europa, para 1.010 dólares e 1.240 dólares respectivamente. O recorde anterior de preços na China havia aconteceu entre final de 2018 e início de 2019, de 760 dólares por tonelada.
A ação da Suzano subia 3,7% às 14h30, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 0,97%. Na véspera, a agência de classificação de risco Fitch elevou a perspectiva da nota de crédito da companhia, de negativa para estável.
No mesmo relatório, a Fitch estimou que o investimento na nova fábrica será de 3 bilhões de dólares, algo que o diretor financeiro da Suzano evitou confirmar.
Schalka afirmou que a Suzano está trabalhando em um plano para obter uma nova fonte alternativa de receita a ser gerada pela produção de papel para embalagens, algo que ajudaria a empresa e enfrentar momentos em que a demanda por papéis de imprimir e escrever estiver em queda.
Embora o custo do plástico seja menor que o de papel diante de sua gramatura, Schalka citou o crescente interesse de consumidores em reduzir o volume de plástico no meio ambiente como fatores que motivam a Suzano a apostar no segmento.
A Suzano diz que nos últimos cinco anos conseguiu elevar a resistência de sua celulose para papel em 25%. Schalka disse que embora possa eventualmente produzir papel kraft para embalagens, a maior rentabilidade para o parque de máquinas atual da empresa virá de papéis mais sofisticados. Hoje, a Klabin (SA:KLBN11) é a maior produtora de papéis para embalagens do país.
"A intenção é abrir a opcionalidade de substituir embalagens plásticas", disse Schalka, citando como exemplo o papel usado em pacotes de farinha nos supermercados. "Estamos adaptando nossas máquinas para produção desse tipo de papel".
O negócio de celulose é o principal da Suzano, com Ebitda de 13,5 bilhões de reais em 2020, ante 1,5 bilhão do segmento de papel. Perguntado sobre o interesse em manter o negócio de papel, Schalka disse que a Suzano não planeja se desfazer dele.
(Por Alberto Alerigi Jr.)