Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - A notícia da demissão do presidente da Petrobras (SA:PETR4), José Mauro Ferreira Coelho, caiu de forma negativa no mercado, apesar de que parte dos agentes financeiros já especulavam sobre essa possibilidade. Essa foi a terceira troca de comando da estatal petrolífera no governo Bolsonaro.
Às 11h35, as ações da Petrobras caíam 4,12%, a R$ 31,20.
Após 40 dias no cargo, Coelho deve ser substituído por Caio Mário Paes de Andrade, atual secretário de Desburocratização do Ministério da Economia e nome que já havia sido cotado para a posição após Adriano Pires desistir de substituir o general Joaquim Luna e Silva no comando da Petrobras.
Quando Adolfo Sachsida substituiu Bento Albuquerque no Ministério de Minas e Energia no começo de maio, o mercado já se perguntava sobre a permanência de Coelho na presidência da Petrobras e como ele administraria as críticas públicas à política de preço da empresa.
Para a Ativa Investimentos, a troca na administração da Petrobras mostra mais uma vez a insatisfação do acionista majoritário, no caso a União, com a forma que a empresa leva a sua política de preços.
"A chegada de Andrade poderá significar a aplicação de política de preços de derivados ainda mais espaçada, abrindo espaço para a vigoração mais perene de preços defasados frente aos praticados no mercado internacional”, afirma a Ativa.
A cautela também está presente no relatório emitido pelo BTG Pactual (SA:BPAC11), que enxerga problemas mais profundos na troca da presidência. “Está claro o quão desafiador se tornou encontrar um ponto de equilíbrio entre a participação do acionista controlador da Petrobras e o próprio estatuto social da empresa”, diz o banco.
O BTG aponta que até então, a governança corporativa da estatal conseguiu evitar interferências diretas na companhia, mas que o maior desafio ainda está pela frente. O banco se pergunta como o novo CEO conseguirá “preservar seu próprio emprego seguindo as políticas da empresa e sem comprometer a disponibilidade de combustível do Brasil”.
A XP (SA:XPBR31), por outro lado, acredita que por mais que a notícia seja negativa, a troca entre Coelho e Andrade não deve significar uma mudança na definição de preços da companhia. "Ainda vemos a Lei das Estatais e o estatuto da Petrobras blindando a empresa de subsidiar combustíveis como no passado, independentemente de quem é o CEO. Em segundo lugar, o Andrade é fortemente ligado a Paulo Guedes, que não é a favor de mudanças na política de preços de combustíveis da Petrobras”, explica a corretora.
A visão também é compartilhada pela Necton Investimentos. "Não nos parece razoável supor que irá mudar a política de preço da Petrobras", analista André Perfeito, economista-chefe da Necton, ressaltando que o "Ministério da Economia está mais no controle do que nunca da petroleira" e que o mercado deve gostar da indicação, já que Paes de Andrade "é ligado a valores liberais". Além disso, o recém-empossado ministro do MME, Adolfo Sachsida, já iniciou estudos para a privatização da empresa, relembra Perfeito."
Apesar do governo não interferir diretamente na Petrobras, ele é responsabilizado, quase exclusivamente, pelas decisões que afetam o preço dos combustíveis, segundo o BTG. Então, o banco diz que em um cenário mais otimista, isso poderia incentivar a privatização da estatal, já que assim a União se distanciaria dessa discussão. Porém, por ser um ano eleitoral, essa se torna uma possibilidade pouco provável.
O BTG mantém a sua recomendação neutra sobre as ações da Petrobras, já que os últimos acontecimentos reforçam a volatilidade do ativo e levantam dúvidas sobre a continuidade do fluxo de dividendos. O seu preço-alvo para o papel é de R$ 49.
Já a XP destaca que a Petrobras está sendo negociada a um múltiplo muito baixo de 2,4x EV/Ebitda 2022, contra 3,4x das grandes petrolíferas ocidentais, e mantém um dividend yield elevado, de 24% para 2022. Assim, a corretora permanece com a sua indicação de compra, com preço-alvo de R$ 47,80 para as ações e de US$ 18,40 para as ADRs.