Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - O GetNinjas (SA:NINJ3), marketplace focado em serviços, reportou seus resultados para o terceiro trimestre de 2021 na última terça-feira (9). Entre os destaques, está o forte crescimento no número de profissionais cadastrados: 463 mil, ou 142% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O número reflete, segundo o CEO, Eduardo L’Hotellier, em entrevista ao Investing.com, uma combinação de investimentos anteriores em marketing, aumento do uso de tecnologia e alta do desemprego, que faz com que muitos recorram a atividades informais para gerar renda.
Uma recuperação da economia e do mercado de trabalho, no entanto, não é vista como uma ameaça pela empresa. Além de contar com serviços discricionários em sua plataforma, a baixa penetração de mercado, de apenas 0,1%, faz com que haja muito espaço para crescer independente da situação econômica, na visão de L’Hotelier.
Além de uma série de parcerias, como a com o Banco Pan (SA:BPAN4), a mais notável, o GetNinjas vem focando em novas ferramentas para crescer. A mais potente, de acordo com o executivo, é o serviço de proteção ao cliente, o Proteção Ninja+, que garante substituição do profissional caso o serviço prestado não satisfaça o cliente.
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O Bank of America, em relatório distribuído na terça-feira, vê como positiva a aposta da empresa em parcerias: “Parece que a GetNinjas está se movendo na direção certa em termos de parcerias, enquanto a com o Banco Pan pode ser capaz de mudar o jogo, e deve render resultados positivos no 1T22 quando os métodos de pagamento forem incluídos.”
Mas nem tudo são flores: outro grande ponto do balanço do GetNinjas foi o aumento de custos, que fez, inclusive, com que a companhia diminuísse seus gastos com marketing nos três meses terminados em setembro, o que impactou os resultados.
Confira a entrevista completa a seguir:
Investing.com - Quais são os destaques do balanço deste trimestre?
Eduardo L’Hotellier - Continuamos com crescimento acelerado, de dois dígitos em relação ao ano passado, em termos de receita. Crescemos mais de 140% em número de novos profissionais, também um crescimento super acelerado.
Diminuímos um pouco nosso investimento em marketing em relação ao trimestre anterior. Percebemos um aumento do custo de marketing em todo o mercado e resolvemos, por acreditar que estamos em uma maratona, e não em uma corrida de 100 metros, ser um pouco mais conservadores e reduzir um pouco o investimento, o que obviamente impactou um pouco o resultado. Mas ainda assim foi bastante expressivo.
Saímos de 200% de crescimento de profissionais para 140%. Saímos de 70% de crescimento trimestre a trimestre para 46%, porém com margens melhores e quase R$ 4 milhões a menos de investimento em marketing em relação ao trimestre anterior. Então eu acredito que foi bastante positivo.
E não só o resultado financeiro. Anunciamos alguns projetos interessantes, como um serviço de proteção, em que ou o cliente fica satisfeito, ou tem acesso ao serviço de volta no valor de até R$ 1.000. Lançamos nosso clube de benefícios, em que o profissional tem desconto em diversos parceiros. Estamos lançando uma campanha com a Jojo Todynho para representar o GetNinjas para os profissionais cadastrados na base. Ela tem uma comunicação muito forte com o nosso público. E finalizamos a integração com o Banco Pan. Estamos felizes com as entregas e com o crescimento que estamos apresentando no trimestre.
Inv.com - De todos esses novos projetos, qual é a maior aposta?
EH - Acreditamos que o serviço de proteção na compra seja o mais relevante para o GetNinjas a médio e longo prazo. Temos uma sinistralidade muito baixa, poucos serviços em que o cliente não fica satisfeito, mas existe uma insegurança natural. Como quando as pessoas faziam compras no e-commerce há dois, três ou cinco anos, entravam em um aplicativo de táxi, ou ficavam na casa de alguém pelo Airbnb (NASDAQ:ABNB). São mercados que foram sendo desenvolvidos, e acreditamos que a proteção da “garantia” auxilia a educar esse mercado e a trazer mais clientes para a plataforma.
Inv.com - Para além da redução das despesas com marketing, quais estratégias estão sendo utilizadas para lidar com o aumento dos custos?
EH - A redução do marketing e a evolução do nosso produto. Hoje temos um aplicativo mais rápido e com usabilidade melhor do que há três meses, seis meses ou um ano, e com isso temos maior recorrência e maior retenção dos clientes e dos profissionais. Houve esse aumento pontual [de custos], nos reajustamos, mas acreditamos que a oportunidade ainda é de continuar investindo, principalmente em tecnologia, em time, em melhorar a plataforma e os processos, porque isso vai levar o GetNinjas a ser muito maior hoje e daqui para frente.
Inv.com - Uma série de parcerias foram fechadas no trimestre. Quais são os resultados esperados?
EH - Algumas dessas parcerias têm o objetivo de ampliar o número de serviços solicitados na plataforma, como a com a Multicoisas, em que um QR Code que leva para o nosso aplicativo fica posicionado nas lojas. Temos alguns parceiros que trazem conteúdo para a nossa base de usuário, na Academia Ninja, e todas as parcerias do clube de benefícios. Nesse último temos Magazine Luiza (SA:MGLU3), empresas de contabilidade para MEI… Diversos serviços que ajudam o profissional a fechar mais negócios.
Inv.com - E a parceria com o Banco Pan?
EH - Essa é a principal parceria que temos, destacamos como serviços financeiros. O profissional pode abrir uma conta no banco, e o banco paga um valor para o GetNinjas na abertura de conta, no uso de cartão e no uso de outros produtos financeiros.
Inv.com - Qual é o foco da estratégia de crescimento? Vocês pretendem continuar ampliando serviços por meio de parcerias ou têm aquisições no radar?
EH - Existem algumas empresas que temos avaliado, mas a nossa principal aposta é em melhorar a nossa tecnologia e o nosso aplicativo para ter mais clientes e mais profissionais utilizando. Existem empresas de tecnologia que usam a estratégia de montar uma empresa por aquisições. Achamos que isso é um complemento, mas a nossa tese é que o melhor uso dos nossos recursos é contratar desenvolvedores, product managers e designers e melhorar o nosso aplicativo e o nosso site.
Inv.com - Como vai funcionar a parceria com a Jojo Todynho?
EH - É uma parceria de publicidade. Ela já trabalha com o Banco Pan, que é um parceiro nosso. Trabalhamos com ela de forma independente do Pan, mas como temos uma forte parceria com eles, acreditamos que usar a mesma figura ajuda na evolução da parceria. O usuário vê a Jojo Todynho no aplicativo do GetNinjas, clica em uma área que redireciona para o aplicativo do Pan, em que também está a Jojo Todynho. E sabemos, por informações do parceiro, que a adesão foi bastante relevante. Mas é independente. O contrato com ela não é um contrato de equity, não tem posição no conselho, e não é dependente do contrato que ela tem com o banco. Mas foi, obviamente, positivamente conectado.
É o seguinte: se temos uma empresa, vamos inovar no que devemos inovar. Mas vamos usar o que sabemos que deu certo. Se temos o mesmo público e está dando certo lá, não vamos reinventar a roda. Foi esse, literalmente, o racional.
Inv.com - Quais são as expectativas para o setor de serviços nos próximos trimestres?
EH - É um setor bastante inelástico. Boa parte dos nossos serviços acontece independente do aquecimento ou desaquecimento da economia. As pessoas continuam precisando de encanador e eletricista independente se o PIB está crescendo 2% ou caindo 2%, se a inflação está a 10% ou a 2%. Temos um componente inelástico no nosso negócio. Um outro ponto é que a nossa penetração é muito baixa. Temos 0,1% do mercado. Então mesmo que exista uma retração, a penetração no digital pode ser tão maior que isso acaba compensando a diminuição.
Inv.com - Vocês tiveram um aumento na base de profissionais cadastrados. O aumento do desemprego, da informalização e da instabilidade financeira podem ter contribuído?
EH - Com certeza aumentou. Também investimos mais em marketing no período do que no ano passado. Mas temos um negócio anticíclico. Quando a economia desacelera, as pessoas procuram uma ocupação extra, um “bico”, um serviço… Isso acelera o número de profissionais se cadastrando na plataforma.
Muitos desses profissionais não tinham acesso a tecnologia dois anos atrás. Não usavam smartphone ou, quando usavam, era limitado, sem plano 3G, sem wi-fi. A venda e a qualidade de celulares aumentou muito durante a pandemia. Os planos de dados também aumentaram. E as pessoas usaram mais o celular. Esse também é um fator super relevante.
Então temos investimento em marketing, aumento do desemprego e penetração digital nessa camada da população. Os três fatores somados.
Inv.com - Nesse sentido, uma melhora da economia e do mercado de trabalho é uma ameaça?
EH - Uma parte dos nossos serviços é inelástica, mas uma parte é discricionária. É a pessoa que faz uma terapia, uma pintura de parede, um personal trainer… Com a economia mais aquecida e a população com mais renda, aumenta a solicitação de serviços.
Temos um business anticíclico. Quando aumenta o desemprego, aumenta o número de profissionais, e quando aumenta o crescimento econômico, aumenta o número de clientes. E com 0,1% do mercado é tanta oportunidade que não acreditamos que seja um fator limitante de crescimento.
Inv.com - Qual é a estratégia para manter esses novos profissionais engajados?
EH - São várias. A óbvia é: se esse profissional estiver fechando negócios e ganhando dinheiro, ele continua no GetNinjas. Um outro elemento é a parceria com o Pan, em que temos produtos financeiros específicos para a nossa base. O profissional tem acesso a crédito que não teria, por conta das avaliações do GetNinjas, e isso é super relevante.
A terceira é todo o nosso módulo de capacitação, a Academia Ninja, que tem módulos de cursos gratuitos para a base, em que o profissional aprende a fechar mais negócios e a melhorar a sua profissão. E uma quarta é o clube de benefícios, em que damos descontos em passagens de ônibus, em compras de mercado, empresas de contabilidade para MEI, empresas de produtos para cada área de atuação… Essa é mais uma estratégia para reter os profissionais.