Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Os ativos financeiros brasileiros estão com "preços de crise" e tendem a continuar assim no próximo ano, afirmou o estrategista-chefe da BGC Liquidez, Daniel Cunha, nesta terça-feira, destacando que existe uma desconfiança entre agentes que está refletida nas cotações.
Em conversa com jornalistas no começo da tarde, ele afirmou que, do ponto de vista econômico, considerando aspectos como PIB, renda, consumo, mercado de trabalho e até inflação, a primeira metade do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi melhor do que se imaginava.
"Mas isso não conseguiu ser traduzido em uma melhora de percepção política, de agenda econômica... Nós estamos vivendo em precificações, não só níveis, mas dinâmicas, que mais habitualmente se vê em momentos em que há deflagradamente uma crise acontecendo ou na iminência de acontecer."
Para Cunha, que atuou por um período no governo anterior, na equipe do ex-ministro da Economia Paulo Guedes, os fatores que explicam esse desalinho são a deterioração da percepção fiscal, maior ceticismo com o ambiente global e um ciclo de aperto monetário no Brasil sendo percebido como insuficiente.
"E dificilmente eles vão se dirimir em 2025", ressaltou o estrategista da BGC Liquidez, uma das maiores corretoras independentes de investimentos no segmento institucional do Brasil, que faz parte da potência global BGC Group, presente em 18 dos principais centros financeiros do mundo.
Em relação ao Brasil, ele afirmou que há uma crise de desconfiança por parte dos agentes, que veem inconsistências nas sinalizações do governo relacionadas ao regime fiscal. Mas ponderou que a sinalização de capacidade de "reação" da administração, mesmo que atrasada, tem evitado um cenário pior.
Cunha acrescentou que já esteve mais otimista em relação ao pacote de medidas de contenção de gastos prometido pela equipe econômica, mas que o governo perdeu um pouco o "timing". Ele afirmou que ainda acha que as medidas serão positivas, mas que houve um certo desgaste, "perdeu um pouco o efeito surpresa".
Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a área econômica fechou com o presidente Lula as últimas pendências em torno do pacote de contenção de gastos e que o governo estará pronto para divulgar as nesta semana.
Do ponto de vista da política monetária, o estrategista afirmou que a avaliação é de que o Banco Central está "correndo atrás". "E eu não acho que esse ambiente desanuvia muito para 2025", disse, chamando a atenção para as conjunturas fiscal e global, que " talvez não sejam muito amigáveis".
Do cenário externo, ele pontuou que a eleição do republicano Donald Trump como presidente dos Estados Unidos com domínio do seu partido em ambas as casas do Congresso norte-americano "talvez, no melhor cenário, não atrapalhe tanto" a percepção para fluxos para mercados emergentes.
(Por Paula Arend Laier)