SÃO PAULO (Reuters) - O convite da BR Distribuidora (SA:BRDT3) para que o atual presidente da Eletrobras (SA:ELET3), Wilson Ferreira Jr., assuma a posição de CEO da companhia, poderá ajudar a estatal Petrobras (SA:PETR4) em sua intenção de vender suas ações restantes na empresa de combustíveis, disseram analistas de mercado em relatórios.
As ações da BR abriram com alta de mais de 10% nesta terça-feira, após a empresa ter informado na véspera sobre proposta feita a Ferreira, que pode eventualmente ter que cumprir uma quarentena antes de assumir efetivamente o cargo.
A Petrobras, ex-controladora da BR, vendeu parte de suas ações na empresa em uma oferta realizada em julho de 2019, mas ainda detém participação de 37,5% da qual deseja se desfazer.
A petroleira estatal confirmou em agosto passado a intenção de vender sua fatia restante, mas disse na ocasião que a operação estaria sujeita a condições de mercado e aprovações internas.
"Nós acreditamos que a notícia pode até abrir o caminho para que a Petrobras venda sua fatia restante de 37,5% na BR", escreveram analistas do BTG Pactual nesta terça-feira.
Para eles, embora o "timing" da venda seja uma decisão da Petrobras, a chegada de Ferreira à BR pode gerar um "sentimento positivo" no mercado que ajudaria a criar condições de preço esperadas pela estatal para seguir adiante com o desinvestimento.
Uma visão semelhante foi expressada por analistas do UBS, para quem a mudança na cúpula da BR pode fazer os investidores deixarem de castigar os papéis da empresa devido à perspectiva de uma futura oferta secundária da Petrobras.
"Acreditamos que com a chegada de Ferreira os investidores talvez ignorem essa ameaça e comecem a precificar um horizonte de longo prazo, com uma potencial diversificação do portfólio de ativos à frente. Como consequência, cremos que, a um preço maior, a Petrobras pode decidir seguir com o desinvestimento de sua fatia de 37% antes do esperado."
Procurada, a Petrobras não respondeu a um pedido de comentários sobre quando poderia buscar vender suas ações na BR.
O time de profissionais do UBS acrescentou que a BR poderia buscar diversificação de portfólio aproveitando a abertura do setor de gás natural no Brasil ou com crescimento no setor elétrico.
Os analistas do BTG (SA:BPAC11) também disseram avaliar que a nova gestão na BR poderia abrir espaço para novas aspirações de crescimento, buscando transformar a empresa em uma plataforma de negócios no setor de energia em geral.
A BR já havia expressado a intenção de ampliar a presença no setor de eletricidade antes, ao anunciar em novembro passado a aquisição de 70% na comercializadora de energia elétrica Targus.
ELETROBRAS
Do lado da Eletrobras, a saída de Ferreira após cerca de quatro anos e meio à frente da companhia levava os papéis preferenciais a caírem 4,5% por volta das 11:55, em meio a preocupações quanto ao andamento dos planos do governo para privatizar a companhia.
As ações chegaram a recuar 9,5% na abertura do pregão.
"É uma notícia muito ruim... e isso acontece em um momento em que o governo está fragilizado, com possibilidade ainda que remota até de impeachment e com sinais ruins quanto à privatização", disse à Reuters o analista da Genial Investimentos, Vitor Sousa.
"Não só a Eletrobras perde o executivo que remodelou a empresa, como não se sabe quem vem", acrescentou ele, ao destacar que a desestatização começa a parecer uma missão "quase impossível" para o governo nesse cenário.
A agência Moody's foi na mesma direção.
"A mudança repentina na direção da empresa não resulta em alteração imediata dos ratings, mas cria incertezas sobre a administração da companhia no curto prazo bem como sobre as perspectivas de privatização", disse a vice-presidente da Moody´s, Cristiane Spercel, em nota.
A Eletrobras disse em comunicado na noite de segunda-feira que seu conselho aprovou a contratação de uma empresa especializada em recrutamento de executivos para ajudar na escolha de um novo CEO.
O Ministério de Minas e Energia também disse, após a notícia, que continuará perseguindo a "capitalização" da Eletrobras e a transformação da companhia em uma empresa "com capital pulverizado".
O plano do governo para a desestatização da elétrica seria viabilizado por meio da uma oferta de ações que diluiria a participação estatal na empresa abaixo de 50%.
(Por Luciano Costa)