Por Fabricio de Castro e Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - Os ativos brasileiros despencavam na tarde desta quarta-feira, com investidores reagindo negativamente à notícia de que o governo vai anunciar, dentro do pacote de medidas fiscais que vem sendo aguardado há semanas, a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais por mês.
Noticiada no início da tarde pela imprensa com informações atribuídas a fontes anônimas, a isenção foi posteriormente confirmada pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Em entrevista coletiva para comentar dados de emprego, ele afirmou que o pacote incluirá a isenção de IR e também tratará da taxação de super-ricos e dos super-salários.
Suas declarações foram dadas antes de pronunciamento sobre o pacote do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, marcado para 20h30 desta quarta-feira em rede nacional, e antes mesmo de reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Haddad com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, para apresentação das medidas, prevista para esta tarde.
A expectativa predominante até então era de que o pacote se concentraria em medidas de contenção de despesas, conforme informado anteriormente pela equipe econômica. Assim, a possibilidade de medida de isenção de IR -- que na prática reduz a arrecadação -- foi imediatamente interpretada por parte do mercado como uma insensatez do governo.
"O que pega mal é que você está trabalhando há séculos em um pacote para mostrar responsabilidade fiscal, aí praticamente explode o pacote quando vem essa notícia. Tira o foco e divide as atenções", comentou Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.
No mercado, a expectativa era de que o governo anunciasse medidas robustas na área fiscal, que promovessem cortes no Orçamento para os próximos anos em torno de 50 bilhões de reais ou até mais do que isso, como vinham citando vários agentes.
"Eu acho ruim de qualquer forma, mesmo se for um pacote de, vamos dizer, 100 bilhões de reais. É ruim na margem", acrescentou Leal, sobre a possibilidade de isenção do IR. "Você está dividindo o foco que poderia ser mais nas despesas, que sempre foi o foco das críticas ao governo", acrescentou.
A Presidência informou a convocação da Rede Nacional de Rádio e Televisão para pronunciamento de Haddad, com duração de sete minutos e 18 segundos, às 20h30 desta quarta-feira.
Na esteira das notícias, após as 13h45 o real e o Ibovespa despencaram, enquanto as taxas futuras de juros dispararam, em meio à reação negativa dos mercados.
"O mercado esperava algo mais concreto, relevante, para impactar no corte de gastos. É o que todo mundo anseia: que o governo contenha a torneira de gastos", afirmou Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. "Mas o anúncio (sobre o IR) veio na contramão", acrescentou, ao justificar a disparada do dólar para perto dos 5,90 reais.
Às 15h40, o dólar à vista subia 1,51%, aos 5,8971 reais, o Ibovespa despencava 1,44%, aos 128.050,48 pontos, e a taxa do DI para janeiro de 2027 -- um dos mais líquidos -- estava em 13,68%, em alta de 36 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Em reação, a curva de juros brasileira também mostrou uma ampliação das apostas de que o Banco Central, no cenário fiscal atual, será obrigado a acelerar o processo de elevações da taxa básica Selic, hoje em 11,25% ao ano.
Perto das 15h40 a curva brasileira precificava 95% de probabilidade de alta de 75 pontos-base da Selic no próximo mês e apenas 5% de chance de elevação de 50 pontos-base. Na véspera os percentuais eram de 73% e 27%, respectivamente.
Antes mesmo do surgimento das notícias sobre o IR, as taxas futuras e o real já estavam pressionados, conforme profissional ouvido pela Reuters, em meio a receios de que o pacote poderia ficar para a próxima semana.
A informação de que Haddad dará detalhes do pacote à noite -- o que em tese é positivo -- foi ofuscada pela possibilidade de isenção de IR.
Em Brasília, uma fonte do governo, falando sobre a condição de anonimato, expressou desapontamento com a inclusão da isenção fiscal no discurso a ser transmitido à noite, alertando que isso poderia ofuscar o impacto positivo das medidas de controle de despesas e dificultar as negociações no Congresso para a aprovação do pacote fiscal mais amplo.
(Reportagem adicional de Marcela Ayres e Victor Borges, em Brasília)