Investing.com – As ações da Americanas (BVMF:AMER3) (OTC:BTOOY) desabaram nesta quinta-feira, 19, após a varejista comunicar, conforme amplamente esperado pelo mercado, que realizou pedido de recuperação judicial. Ainda hoje, a B3 (BVMF:B3SA3) anunciou a retirada da empresa dos índices dos quais fazia parte, conforme regras da bolsa de valores brasileira.
Os papéis fecharam o pregão em queda de 42,53%, a R$ 1,00.
Diante de uma deterioração do caixa e impasse com credores, a empresa entra em um dos maiores processos de recuperação judicial do Brasil, com dívidas estimadas em R$43 bilhões. No fato relevante divulgado hoje ao mercado, a varejista aponta como motivos do pedido a necessidade de atendimento dos interesses de seus credores, acionistas e stakeholders; a piora na posição do caixa, que segundo anunciado pela manhã estaria estimado em R$800 milhões; além da necessidade de preservação da continuidade da operação.
Ainda, a empresa afirmou no documento que deve continuar os esforços para prestar os serviços à população. “Para tanto, o grupo de acionistas de referência da empresa informou ao Presidente do Conselho de Administração que pretende manter a liquidez da companhia em patamares que permitam o bom funcionamento da operação”, reforçou no fato relevante.
Na visão da varejista, os cortes sucessivos por parte das agências de classificação de risco nos ratings tornaram a situação ainda mais delicada, pois os bancos não quiseram adiantar recebíveis de cartão de crédito, operação que é considerada rotineira pela companhia, o que teria resultado em perdas de R$3 bilhões no caixa.
A temperatura subiu após a varejista ter obtido proteção de 30 dias contra credores, apenas dois dias após anunciar a descoberta das inconsistências contábeis de décadas, o que culminou na renúncia do ex-CEO Sergio Rial. Instituições financeiras, principalmente o banco BTG (BVMF:BPAC11), elevaram o tom. Nesta quarta-feira, 18, decisão na Justiça do Rio de Janeiro a favor do banco possibilitou o bloqueio de cerca de R$ 1,2 bilhão. Quando questionou a decisão anterior que beneficiava a varejista, o BTG acusou a empresa de má fé e fraude.
A companhia lamentou no pedido que “alguns credores, sem qualquer embasamento contratual ou legal, já haviam declarado o vencimento antecipado das obrigações da companhia, alguns assenhorando-se de valores bilionários, fechando as portas para qualquer tipo de negociação amigável”. No entanto, a varejista ainda vai ter que renegociar as dívidas com os credores no processo de recuperação judicial.
Americanas vai deixar índices
As ações da Americanas serão excluídas de todos os índices B3: IBOV, IGCX, ICO2, ICON, IBXX, IGCT, IGNM, IBRA, IVBX, ISEE, ITAG, SMLL, IBXL e GPTW ao seu preço de fechamento após o encerramento do pregão regular desta sexta-feira, 20.
De acordo com a B3, a participação será redistribuída proporcionalmente aos outros integrantes da carteira com ajuste nos redutores dos índices.
Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, destaca que a recomendação de Americanas está em revisão. “Mas eu não recomendo entrar em situações em que tudo pode acontecer, é uma loteria. Não acho prudente investir em loteria. Agora, o investidor deveria aguardar mais”, indica
Próximos passos
Após deferido o pedido, a Americanas teria o prazo de 180 dias de blindagem, com suspensão das suas obrigações de dívida, conforme aponta relatório da XP Investimentos (BVMF:XPBR31), que também deve revisar a recomendação para os papéis.
De acordo com os analistas Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, a Americanas contaria com o prazo de 60 dias para que apresente a primeira versão de um plano de recuperação judicial.
No plano, devem constar estratégias de reestruturação, incluindo medidas voltadas à gestão de passivos, injeção de capital e desinvestimentos.
Além disso, a varejista teria 150 dias para convocar uma assembleia de credores, visando aprovar esse plano.
Enquanto isso, uma auditoria independente deve apurar se houve erro, omissão ou fraude na divulgação dos balanços.
Também nesta quinta, a Americanas anunciou, em comunicado ao mercado, que o Conselho de Administração aprovou a eleição de Eduardo Flores como membro do comitê independente, substituindo Pedro Mello.
A empresa ainda terá como nova diretora financeira Camille Faria, que deixa o mesmo cargo na Tim (BVMF:TIMS3) Brasil. A executiva também já possui experiência na função na Oi (BVMF:OIBR3), onde supervisionou o processo de recuperação judicial da empresa de telefonia.
O número de processos abertos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diante da crise chega a cinco, com a denúncia enviada pela Associação Brasileira de Investidores (Abradin).
A comunicação de notícias, fatos relevantes, além do cumprimento das regras de divulgação de demonstrações financeiras da companhia devem ser apurados durante os processos.