Por Geoffrey Smith
Investing.com – Poucos analistas do mercado financeiro esperavam que esta sexta-feira fosse dominada pela repercussão dos problemas envolvendo um banco de médio porte da Costa Oeste dos EUA, e não pelo relatório de empregos de fevereiro.
As ações do SVB Financial Group (NASDAQ:SIVB), também conhecido como “banco do Vale do Silício”, recuaram 60% na quinta-feira (9) e mais 21% após o horário regular de pregão, depois que a instituição anunciou um aumento emergencial de capital de US$ 2,25 bilhões para cobrir perdas financeiras inesperadas, provocadas por uma forte corrida dos clientes por seus depósitos.
A notícia foi suficiente para emitir ondas de choque por todo o setor bancário norte-americano, ações de grandes bancos norte-americanos também foram impactadas na véspera, com Wells Fargo (NYSE:WFC) caindo 6%, JPMorgan (NYSE:JPM) Chase recuando 5,4%, Bank of America (NYSE:BAC) perdendo 6% e Citigroup (NYSE:C) mostrando baixa de 4%. Nesta sexta-feira, JPMorgan, Citi e Wells Fargo perdiam entre 0,6% e 1,1%.
Os clientes do SVB são compostos majoritariamente por startups de tecnologia que, na última década, conseguiram levantar recursos no mercado de capital de risco. No entanto, como essa fonte de dinheiro secou, essas empresas estão agora recorrendo aos seus depósitos bancários com uma frequência cada vez maior. O SVB foi forçado a liquidar grande parte da sua carteira de títulos para atender ao aumento dos pedidos de retirada de fundos e, devido à forte queda dos preços desses papéis após os recentes aumentos de juros pelo Federal Reserve, o SVB acabou incorrendo em uma perda em torno de US$ 1,8 bilhão. Dessa forma, a instituição se viu na necessidade de aumentar seu capital em US$ 2,25 bilhões.
A história do SVB tem algumas similaridades superficiais com a do Silvergate Capital (NYSE:SI), que fechou suas portas e entrou em liquidação no início desta semana, depois de sofrer perdas catastróficas por ter que vender títulos no prejuízo para atender à demanda de capital dos clientes. Mas a base de clientes do Silvergate, composta por plataformas de investimento em criptomoedas, representa um nicho menor do universo financeiro dos EUA. Já a base de clientes do SVB representa o microcosmo de um setor extremamente importante em toda a economia do país e que absorveu, na última década, grandes quantidades de capital de risco, muitas vezes com base em valuations que guardam pouca aderência com a realidade.
Em outras palavras, se os clientes do SVB estão enfrentando problemas, é provável que os clientes de várias outras instituições bancárias também estejam na mesma situação, ainda que em menor medida.
Isso ficou evidente na série de demissões em massa realizadas por grandes empresas de tecnologia nos últimos meses, um setor que não estava acostumado a enfrentar restrições. Uma pesquisa da Challenger sobre cortes de postos de trabalho em fevereiro nos EUA, divulgada na última quinta-feira (9), mostrou que o setor de tecnologia demitiu duas vezes mais do que o segundo setor com pior desempenho, o varejo.
O SVB agiu rápido para minimizar os problemas com seus clientes. O banco declarou que os empréstimos para empresas em estágio inicial, a parte mais arriscada do seu portfólio, respondem por apenas 3% dos ativos do banco e que a parte menos arriscada da sua carteira de crédito ganhou mais relevância nos últimos anos.
“A grande maioria dos nossos ativos é de alta qualidade, composta por títulos governamentais e de agências, bem como atividades com baixa perda com concessões de crédito”, declarou. "Apresentamos um forte desempenho de crédito ao longo dos ciclos, e o perfil de risco da nossa carteira melhorou significativamente ao longo do tempo."
As ondas de choque reverberaram nos mercados globais no início das negociações desta sexta-feira (10), com o índice Hang Seng index caindo mais de 3% em Hong Kong e o Euro Stoxx 50 recuando 2% na primeira meia hora de negociação.