Por Jake Spring
SHARM EL-SHEIKH, Egito (Reuters) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta quinta-feira a regra do teto de gastos, afirmando que ela deveria restringir o pagamento de juros ao sistema financeiro e garantir a manutenção dos desembolsos para a área social, e desdenhou das reações do mercado financeiro a suas falas.
"Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo o que acontece é tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura, ou seja, você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e você não mexe num centavo do sistema financeiro, você não mexe num centavo daquele juro que os banqueiros têm que receber", disse Lula durante discurso no Egito, onde participa da cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima COP27.
"Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência. Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia", acrescentou.
O petista lembrou do discurso que fez na semana passada em que afirmou ser necessário ter responsabilidade fiscal, mas exaltou a importância do que chamou de responsabilidade social. Na ocasião, os mercados financeiros reagiram fortemente e interpretaram que o petista sinalizou descompromisso com as contas públicas em seu futuro governo.
"Esses dias, eu não sei se vocês acompanharam e estou até aproveitando que a imprensa brasileira está aqui, mas eu fui fazer um discurso para os deputados e eu fazia o discurso que eu fazia na campanha, que não adianta ficar pensando só em responsabilidade fiscal, porque a gente tem que começar a pensar em responsabilidade social", disse.
"O que é um teto de gastos num país? Se o teto de gastos fosse para a gente discutir que a gente não vai pagar a quantidade de juros para o sistema financeiro, que a gente paga todo ano, mas a gente fosse continuar mantendo as políticas sociais, tudo bem. Mas não."
Lula voltou a dizer que é necessário ter uma meta de inflação, mas ao mesmo tempo também repetiu que é preciso ter uma preocupação simultânea com o crescimento econômico.
"Nós temos que cumprir meta de inflação, sim, mas nós temos que ter meta de crescimento. Temos que ter algum compromisso de crescimento, de geração de emprego, porque senão como é que você vai garantir que a riqueza seja distribuída?", indagou.